Por Chad Radford
Se não fosse pelos discos e as lojas de discos, não haveria Dave Grohl, pelo menos como o mundo o conhece hoje. Como embaixador do Record Store Day 2015, o ex-baterista do Nirvana e atual vocalista/guitarrista do Foo Fighters, não faz mistério sobre o impacto que as lojas de discos de tijolo e argamassa tiveram em sua vida como músico. A partir de suas origens humildes em Washington no início dos anos 80 com a cena punk rock e hardcore de D.C. até seu trabalho no documentário/série da HBO “Sonic Highways” e sua estreia na direção de “Sound City”, Grohl tem desfrutado de uma longa e ilustre carreira. Antes da busca ensandecida por discos no dia 18 de abril, Grohl perdeu alguns minutos para relembrar seus anos cortando grama para comprar discos, passear pela Smash Records de D.C., e o momento em que “Kill ‘Em All” do Metallica mudou sua vida.
O que significa ser embaixador do Record Store Day?
Eu não sei. Eu nunca tinha sido um até agora (risos). Eu passei muito tempo em lojas de discos quando eu estava crescendo. Eu tenho um caso de amor maravilhoso com a minha coleção de discos, e eu ainda tenho o primeiro álbum que comprei quando eu tinha 6 ou 7 anos de idade. É um disco da K-Tel, bem bobo, que tem muitas canções de discoteca, mas também tem “Frankenstein”, de Edgar Winter, que é um dos maiores instrumentais de todos os tempos. Essa música mudou minha maneira de ouvir música. Isso me fez querer me tornar um músico. Então, uma vez que eu descobri as lojas de discos, eu queria passar todo o meu tempo e gastar todo meu dinheiro lá. Eu arranjava empregos de cortador de grama apenas para que eu pudesse ter dinheiro para gastar em mais música. Eu estimava os meus álbuns. Eu aprendi a tocar bateria ouvindo meus discos favoritos. Eu tinha um pequeno toca-discos no meu quarto, onde eu colocava meus discos de punk favoritos e tocava junto.
As lojas de discos de vinil foram uma grande parte do meu crescimento. Até hoje, as crianças sabem como elas são especiais. Mesmo com toda essa tecnologia atual, não dá para bater essa experiência: andar em uma loja de discos, ser cercado por amantes da música e pessoas que tenham assunto sobre música, descobrir novas músicas, fuçar as prateleiras, segurar um disco em sua mãos, levá-lo para o seu quarto e ouvir as músicas, enquanto você olha para a arte da capa, lendo as letras. Claro, todas essas coisas pode ser feitas virtualmente, e a conveniência da tecnologia é incrível. Mas há algo sobre a experiência tangível, emocional, de estar imerso em todas essas coisas que mudam a sua vida. Então, quando eles me perguntaram se eu queria ser o embaixador, eu disse: “Sim, o que quer que seja, vamos lá!”
Você tinha alguma loja de discos favorita quando era adolescente?
Eu cresci fora de Washington, D.C. Em meu pequeno subúrbio, havia uma loja de discos chamada Kemp Mill Music. Ela ainda funciona, mas foi bem conhecida na época. Já no centro da cidade, havia lojas que tinham essas seções de música local, seções de punk rock e seções de importados. Tinha a Yesterday and Today, em College Park, Md., e a Smash. A Smash Records foi a loja de punk rock em Washington, D.C. – em Georgetown. Ela era realmente muito boa, e foi o primeiro lugar que vendeu algo que eu tinha gravado. Foi uma espécie de espelunca com esse ar meio punk e todo mundo ia pra lá. Era o lugar para se estar. Você entrava e eles estariam tocando um lançamento da um banda punk da Suécia que você nunca tinha ouvido falar, e você ia para casa com esse disco. Ou você gravava com sua banda no porão de alguém, arranjava um dinheiro para produzir um 7 polegadas ou um álbum inteiro, e então todos se sentavam em um círculo no chão e colocavam os discos nas capas. Quando ficava pronto, você ia a pé para a Smash Records e falava: “Bobby, você pode vender uns dois discos desses para nós, por favor?” A Smash foi algo bem grande pra mim.
A Smash ainda existe! Eu acho que mudou de lugar dia desses, mas estive lá em uma viagem recente para D.C.
Uau, que legal. Eu não vou lá há tantos anos. Eu me lembro quando a Smash inaugurou. Era tipo, “Ahhh! Agora há uma loja de discos que vende os álbuns que estamos procurando!”
Nas cenas de punk e hardcore no começo dos anos 80, a maioria dos discos eram pedidos por correio. Não havia alguma empresa de distribuição abastecida com discos do Fugazi, ou o que você estivesse procurando. Você tinha que pedir por carta, às vezes diretamente dos artistas. Então, eu pegava um fanzine na Smash e havia este tipo de anúncios classificados para bandas que eu nunca tinha ouvido falar. Eu mandava quatro dólares para o endereço, e quatro semanas mais tarde, eu ia buscar no correio, geralmente com uma carta do cantor.
Tem algum lançamento do Record Store Day deste ano que você está ansioso para ouvir?
Ouvi dizer que o Metallica está lançando sua primeira demo tape – em cassete – e isso é do caralho! Eu comprei o primeiro álbum do Metallica em cassete de um catálogo de vendas por correspondência em 1983. Eu nunca tinha ouvido falar deles. Eu não sabia nada sobre eles, exceto que eles tinham um nome legal, e a descrição dizia “thrash metal”. Eu nem sabia o que aquilo significava. Eu tinha escutado toneladas de música punk rock, e eu amava Motörhead, mas thrash metal? Soou assustador e legal. Então, eu os enviei os meus US$6 ou US$7 e, algumas semanas mais tarde, eu recebi essa fita pelo correio. Era ‘Kill ‘Em All’ e ela explodiu a porra da minha mente. Eu vou ser um puta fã de Metallica até o dia que eu morrer por causa dessa experiência. Era como se alguém tivesse me enviado o Santo Graal. Eu fiquei tipo, “Ahhh! Isso é tão foda!”
Então, quando eu ouvi que eles estavam lançando sua primeira demo, eu pensei, “Animal! E é em uma fita cassete, também!” Isso vai ser muito divertido.
Dave Grohl e Taylor Hawkins com o Metallica
E é o Metallica da época do Dave Mustaine na banda.
Sim, isso é incrível. E o que é realmente foda é que você tem uma das maiores bandas do mundo compartilhando essas experiências iniciais com toda uma nova geração de fãs, o que é importante e bem legal.
Isso, e também por ser em fita cassete.
Sim. Não importa qual nova tecnologia é criada para tornar isso de ouvir música mais conveniente, a experiência de ir a uma loja de discos e comprar um disco, ou, neste caso, uma fita, sentar-se no chão do seu quarto e ler as letras da sua nova descoberta é ainda a mesma. É tão romântico e emocional como era quando éramos adolescentes. Eu sei disso porque eu tenho visto minhas filhas descobrindo como ouvir discos. Eu tive que ensiná-las a colocar o disco no prato, colocar a agulha no disco, e então tirar a proteção deles. Deixei-as assim no chão um dia, e quando voltei algumas horas depois, elas ainda estavam lá! Álbuns espalhados por toda parte, ouvindo os Beatles – Let It Be – olhando para o Paul McCartney. Foi exatamente a mesma coisa que eu fiz quando eu tinha a idade delas. Mesmo que o mundo tenha mudado, as crianças são as mesmas, e a experiência nunca vai mudar.
Matéria original: “Dave Grohl on the emotional impact of discovering music“, 15 de abril de 2015. Por Creative Loafing Atlanta.
Tradução: Stephanie Hahne