O lançamento do novo álbum do Foo Fighters está muito próximo, e a Rolling Stone passou um dia com Dave Grohl para conversar um pouco sobre este trabalho muitíssimo aguardado.
Além de papear sobre o Concrete and Gold, que chega às lojas no dia 15 de Setembro, Dave ainda falou sobre a participação de Justin Timberlake no disco, a falta que Chris Cornell faz e várias outras coisas.
Leia essa matéria incrível na íntegra e traduzida logo abaixo!
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Por Josh Eells
“Este é o meu primeiro dia de folga em semanas”, diz Dave Grohl, com os pés descalços em sua cozinha, usando um jeans e uma camiseta de motociclista, com aquele sorriso bem característico em seu rosto. O líder do Foo Fighters, aos 48 anos, não tem muito tempo ocioso nos dias de hoje, entre gravar álbuns, fazer turnês, dirigir documentários e tocar com praticamente qualquer um que peça. (Grohl: “Eu apenas gosto de tocar!”) Mas hoje, ele está livre. “O que deveríamos fazer?”
Grohl já deixou suas duas filhas mais velhas no acampamento de cinema. Sua mais nova, Ophelia, de três anos de idade, está na escola, então agora ele tem o dia para si. Na próxima semana, os Foos cairão na estrada para a turnê de seu nono álbum, Concrete and Gold, voando primeiro para Chicago, depois para o sudeste Asiático, Austrália e Europa, depois de volta para casa para tocar em seu próprio festival, o Cal Jam, no dia 7 de outubro. Então é bem perdoável que Grohl tire pelo menos um dia para relaxar. Mas “os bateristas são como tubarões”, diz o guitarrista da banda, Pat Smear. “Eles precisam se mexer o tempo todo ou morrem”. Então, em vez disso, vamos riscar algumas linhas de sua lista de tarefas.
Mas espere — “você tem alguma coisa que precisa fazer?”, Grohl pergunta. Não tenho. Ok, então. Vamos!
A Casa Grohl é uma área de oito mil metros quadrados localizada na resplandecente Encino, Califórnia, no topo da colina, com vistas deslumbrantes para o Vale de San Fernando. “Costumava ter vários laranjais por aqui”, diz Grohl. “E 80 ou 90 anos atrás, é onde muitos atores de Hollywood tinham casa de verão”. Este próprio bairro costumava pertencer a Clark Gable. “Agora, talvez seja o lugar mais digno para morar em Los Angeles”.
Nós entramos no Tesla de Grohl, uma nave espacial de 140 mil dólares com Sonic Youth tocando no aparelho de som, e ele vai descendo a colina, batucando no volante no caminho inteiro. Grohl batuca constantemente – batendo palmas, batendo os pés, batendo a parte carnuda de sua coxa. É inconsciente e compulsivo, como se ele fosse explodir se não seguir o ritmo. “Ele sempre tem muita energia”, diz o amigo Paul McCartney. “Quero dizer, sou uma pessoa entusiasmada, e acho que ele é provavelmente o dobro disso”.
Grohl entra na [estrada] 101 e nos leva para a Amoeba Records, a lendária loja de discos de Hollywood. Sua filha do meio, Harper (8) acabou de começar a aprender a tocar bateria, então ele quer comprar alguns discos para ela. (Ele já ensinou “We Will Rock You”, do Queen, e há um vídeo no YouTube da garotinha tocando em um show dos Foos, uma das instâncias mais adoráveis de nepotismo que você verá.) Harper pediu um LP do Imagine Dragons – as meninas estão vidradas em vinil desde que Grohl lhes presenteou com uma caixa dos Beatles para se “certificar de que elas tenham algum tipo de base musical antes de irem até a porra da Iggy Azalea” – mas ele também vai “contornar isso com um pouco de AC/DC”, ele diz. Mesmo para uma garota de oito anos, “você não pode errar com ‘Highway to Hell'”.
Nós estacionamos no meio-fio, Grohl coloca a algumas moedas no medidor e acende um cigarro. (Ele costuma fumar meio cigarro na caminhada do carro para onde quer que ele esteja indo.) Na porta da frente, uma mulher-do-tipo-gerente diz oi e pergunta se ele está aqui para o show. “Não”, diz Grohl, “eu só quero comprar um disco”.
A mulher franziu a testa como se pedisse desculpas. “Nós estamos com a Lana Del Rey na loja agora”, diz ela. “Eu não sei se você pode chegar até os discos”.
Obviamente, os corredores da loja estão repletos de fãs da Lana Del Rey. A única seção em que podemos alcançar é da letra A. Grohl pega Highway to Hell, depois tenta abrir caminho até a letra I para Imagine Dragons. “Com licença, desculpe”, ele murmura enquanto ele se espreme, “sinto muito…”
Agora, está bem estabelecido que Grohl é um cara bem normal, alguém que “pode fazer todo um estádio sentir como se ele tivesse tomado uma cerveja com cada um deles, e isso não é mentira”, diz o baterista Taylor Hawkins. Grohl é para o rock o que Tom Hanks é para Hollywood: o líder de torcida principal, o prefeito e o cara com quem todos querem sair. Os Grammys precisam de alguém para tocar guitarra enquanto Deadmau5 brinca com seu laptop? Ligue para Grohl. Os Oscars querem uma estrela do rock para tocar violão durante o segmento “In Memoriam”? Basta dizer a Grohl onde colocar seu banquinho. A banda cover de Black Sabbath do seu primo Ronnie tem um show hoje à noite e seu baterista foi em cana? Mande uma mensagem para Grohl com o endereço, ele estará lá em 20 minutos.
Mas para uma loja cheia de fãs adolescentes da Lana Del Rey, Grohl é apenas um cara de meia-idade com cabelos longos que está no meio do caminho. Enquanto ele passa através da multidão, uma jovem parece particularmente aborrecida. “A loja ainda está aberta?” ela pergunta com insistência. “Eles nos disseram que estaria fechada pela próxima hora”.
Grohl parece constrangido. “Estou apenas comprando para a minha filha um disco do Imagine Dragons”, diz ele.
A menina estreita os olhos. “Você deveria comprar um disco da Lana”, diz ela.
Grohl sorri e levanta seu LP. “Eu comprei um do AC/DC?”
Mesmo o Foo Fighters sabe que não há nada especialmente inovador sobre eles em 2017. Eles são indiscutivelmente a maior banda de rock americana nos últimos 20 anos, lotando estádios, mesmo quando a onda está indo cada vez mais contra eles. “Não há mais rock – porra nenhuma”, diz Hawkins. “O rock alternativo que toca na rádio soa como Men at Work ou Kajagoogoo”. Hawkins diz que recentemente perguntou a seu filho, Shane (10) se algum de seus amigos gosta de rock. Shane disse que não, apenas Drake e Lil Yachty. “Eu entendo”, diz Hawkins, aos 45 anos, o mais jovem Foo. “Eu teria gostado de uma banda de 45 e 50 anos de idade quando eu tinha 17 anos? Vou te dizer que não”.
Grohl também entende. “Lembro-me de quando tinha 26 anos e dizia que não tocaria mais depois dos 33 anos”, diz ele. “Agora, em um ano e meio, completarei 50 anos”. O bebê da capa de Nevermind é agora quatro anos mais velho do que Grohl quando Nevermind saiu. “Eu nunca pensei que acabaria num festival de rock com cabelos brancos na minha barba, mas aconteceu”, diz ele. “E eu estou bem com isso”.
Quando se trata de rock, Grohl é flexível. “Eu ainda gosto de ver bandas novas”, diz ele. “Eu acho que há uma nova geração apenas esperando para sair por aí”. (“Nós devemos parecer o Gandalf para eles”, acrescenta.) Ele ainda se preocupa em fazer discos — e ainda mais, fazê-los bem. “Sempre tive medo de me tornar um ato de patrimônio”, diz ele. “Eu sinto que temos que sempre provar o motivo de sermos uma banda que vale a pena seguir”.
Quando se trata da música, “nossa fórmula é bastante simples”, admite Grohl. “Quando você nos coloca em uma sala, soa como a banda. Então, o desafio é descobrir como isso evolui”.
Ao mesmo tempo, Hawkins diz que sua confiabilidade é “uma das razões pelas quais ainda estamos aqui e fazendo isso no nível em que estamos fazendo”. Eles são um produto conhecido – como a Coca-Cola ou a IBM. “Sem querer soar muito com um homem de negócios”, Hawkins diz: “Eu acho que entregamos algo o qual as pessoas podem contar: grandes refrões, guitarras e um pouco de gritos”.
Fora da loja de discos, Grohl fuma a outra metade do cigarro. “Na verdade”, diz ele, “o estúdio onde fizemos o novo álbum está bem aqui na rua. Podemos ir lá se quiser”.
Fomos ao EastWest, um estúdio feito originalmente para Frank Sinatra. “Nós mixamos o Nirvana Unplugged aqui, há muito tempo”, diz Grohl enquanto entramos. Ele abre a porta para o armário glorioso que é o Studio 3 e abaixa a voz para um sussurro reverente. “A sala Pet Sounds”, diz ele. “Isso não é louco?”
Para supervisionar o Concrete and Gold, a banda recrutou o produtor Greg Kurstin, um feiticeiro pop que trabalhou com Sia e produziu e co-escreveu “Hello”, de Adele. Grohl é um grande fã da banda de Kurstin, o Bird and the Bee, e esperava que ele pudesse trazer seu talento para harmonias e arranjos. “Há um monte de coisas neste disco que estão na cabeça de Dave por muito tempo – os vocais em camadas e as contra-melodias e tudo isso”, diz o guitarrista Chris Shiflett. “Foi legal ver Dave se deixar ir e ter alguém realmente produzindo o disco”, acrescenta o baixista Nate Mendel. “Normalmente, é difícil para ele soltar as rédeas”.
Como Hawkins diz: “Eu acho que é o nosso álbum mais psicodélico e mais estranho”.
Os integrantes não haviam gravado um álbum completo em um grande estúdio comercial desde o One by One de 2002, então eles se esqueceram da diversão dos encontros de estúdio aleatórios. “Você caminharia pelo corredor, e Lady Gaga estaria na cozinha”, Grohl relembra. Ultimamente, ele se tornou um grande entusiasta de churrasco, então ele estacionou sua grelha no pátio e se nomeou o churrasqueiro do lugar. “Eu estava cozinhando para, tipo, 40 pessoas por noite”, ele diz com orgulho. “Eu estava no meio de uma linha vocal e falava, ‘foda-se, eu tenho que ir verificar a carne’.” Mas a socialização valeu a pena, pois os Foos chamaram todos os tipos de convidados aleatórios para suas sessões – como o cantor do Boyz II Men, Shawn Stockman, que Grohl esbarrou no estacionamento um dia. (Como ele reconheceu Stockman? Grohl encolhe os ombros. “Anos noventa, baby!”)
Depois, houve o dia em que Justin Timberlake surgiu. Ele ouviu o que os Foos estavam fazendo e gostou do que ouviu, e logo ele e Grohl estavam passando um tempo juntos. “Nós bebíamos whisky no estacionamento”, diz Grohl. “Ele é realmente muito legal. Então, na noite anterior ao seu último dia, ele diz: ‘Posso cantar no seu disco? Não quero pressioná-lo, mas — eu só quero poder contar isso aos meus amigos “. Então a banda o fez adicionar alguns “la la la’s” a uma faixa. “Ele mandou muito bem”, diz Grohl. “Estou lhe dizendo: o cara tem futuro”.
Mas mesmo assim, esse não foi o convidado mais emocionante dos Foos. Essa honra pertence a Sir Paul McCartney. Ele e Grohl são amigos — eles socializam com suas famílias e saem algumas vezes. Então, quando McCartney teve que pedir Kurstin “emprestado” no meio da gravação do grupo, Grohl decidiu pedir um favor. Ele mandou uma mensagem a McCartney: “Você quer tocar bateria em uma de nossas novas músicas?” A resposta de Paul? “Você é louco, cara!”
Mas para o prazer da banda, ele concordou. “Mesmo que tivesse sido banjo, acho que eu provavelmente teria aparecido”, diz McCartney. A última vez que ele recebeu uma ligação assim de Grohl foi para colaborar na trilha sonora do documentário de 2013 Sound City. “Eu estava tocando com esses dois caras que eu nunca vi na vida”, diz McCartney. “E então eu os ouvi conversando no estúdio, e pensei, ‘Merda! Vocês são a porra do Nirvana!'”
“É inspirador”, diz Grohl, “porque ele ainda está tocando pelas mesmas razões que todos começamos a tocar quando éramos jovens. Ele só quer se divertir.”
Sem surpresa, Paul McCartney é um baterista muito bom. “Você geralmente não pensa nele como baterista”, diz Hawkins. “Mas ele tocou essa faixa tão fodidamente sem esforço. Ele nunca tinha ouvido a música — Dave meio que a explicou a ele com um violão. E ele falava ‘Sim, sim. Eu acho que sei o que você está fazendo’. ”
McCartney tocou em dois takes; eles usaram o primeiro. “Ele mandou bem pra caralho”, diz Grohl. “Nós tocamos por uma hora, então fizemos uma pausa para torradas e chá. Eu pensei que tínhamos chegado ao fim — eu não queria cansá-lo — então eu estava fumando um cigarro, e alguém fala, ‘Ei, o Paul quer tocar um pouco mais.’ Ele reuniu todo mundo, e nós tocamos por horas: ‘Vamos escrever algumas músicas, cara!'”
“Bem, você sabe”, diz McCartney. “Depois que você começa…”
No verão passado, Grohl fez o que costuma fazer e viajou sozinho para compor letras para as músicas. “Eu aluguei no AirBnb esta casa numa fazenda de olivais em Ojai”, um pequeno enclave de artistas nos cantos de L.A. “Eu pensei: ‘Ok, vou ficar lá por cinco dias, levarei todos esses instrumentos e uma caixa de vinho e ver se consigo fazer algo. ”
Uma semana antes de Grohl sair, Donald Trump se tornou presidente dos Estados Unidos. “Não sou uma pessoa publicamente política”, diz Grohl. “Mas é muito fácil descobrir onde eu estou no mapa”.
Logo Grohl ficou de roupa íntima, bêbado de vinho e gritando baboseiras no microfone. Subconscientemente, muitas das suas ansiedades políticas surgiram. Uma música, “La Dee Da”, canalizava os sentimentos de um Grohl adolescente, um filho solitário do punk-rock na Virgínia suburbana. “É um retrato de mim como adolescente, me sentindo completamente alienado e reprimido pelo ambiente conservador do início dos anos oitenta”, diz ele. A faixa de abertura do álbum, “T-Shirt”, veio após a inauguração de Trump, mas compartilha algumas das mesmas preocupações. “Eu assisti à infame coletiva de imprensa no East Room — que se transformou em uma disputa de gritos. O maldito WWE. Toda essa ambição grosseira por poder e controle me assustou. Eu fiquei tipo, ‘Oh, meu Deus. Isso é o que nos tornamos. ”
Dito isto, se você não conhecesse a história por trás, não há nada explicitamente político sobre o álbum. “Quando o Foo Fighters viaja, tocamos para todos”, diz ele. “Eu gosto de pensar que a música é algo que pode trazer dois lados opostos do espectro na mesma arena por três horas de alívio. Há uma parte de mim que pensa que sou melhor em dar esperança às pessoas. Então é aí que eu prefiro estar.”
De volta ao exterior, Grohl conduz o Tesla em uma rua lateral silenciosa. “Eu ainda não mostrei o quão rápido este carro é, mostrei?” Ele pressiona alguns botões na tela de toque e coloca o carro em algo chamado modo “cômico”. “Não possui motor de combustão – são apenas ímãs ou sei lá”, diz ele. “Então, ele vai de zero a 60 em 2,4 segundos. É uma puta loucura. É tipo assim…”.
De repente, ele pisa no acelerador, e o carro avança como um F-16 lançado de uma catapulta. Grohl ri. Ele faz novamente, e nós gritamos. “É impraticável!” ele diz. “É realmente a coisa mais estúpida do mundo”.
Bem: para a próxima parada. A mãe de Grohl tem renovado sua cozinha, e ele está com vontade de vê-la. Ele pega o telefone e a chama: “e aí, mãe!” Ela diz que houve um problema – alguém mediu errado a pia. “Ah, porcaria”, diz Grohl. “Bem, estamos apenas falando à toa. Estamos chegando”.
Por mais legal que você ache que Grohl é, Virginia Hanlon Grohl é aproximadamente 37 vezes mais. Uma ex-professora de inglês, ela criou Grohl e sua irmã por conta própria depois de se divorciar do pai de Grohl (um roteirista republicano e gerente de campanha) quando Dave tinha seis anos. Ela acabou por encontrar empregos informais em uma loja de departamentos e um serviço de limpeza de tapetes; agora aposentada, ela publicou recentemente seu primeiro livro aos 79 anos – uma coleção de entrevistas com as mães de outros músicos famosos (Pharrell Williams, Adam Levine, Dr. Dre) chamado From Cradle to Stage. “Minha mãe agora está totalmente infiltrada na indústria da música”, diz Grohl, rindo. “Ela estará tipo, ‘não posso falar — eu tenho uma teleconferência com a Live Nation!'”
Nós chegamos até a casa dela, um bangalô que não fica longe da casa de Grohl, e ele batuca “Shave and a Haircut” na porta da frente. “E aí, mamãe!” ele diz quando ela atende a porta.
Ela nos guia na sala de estar. “Vocês gostariam de uma Coca Diet?”, ela pergunta. Virginia volta com duas latas e se senta ao lado de Grohl no sofá.
“Você teve um bom jantar ontem à noite?” ela pergunta a ele. “Eu me sinto tão mal.”
Aparentemente Grohl ligou e a pediu para cuidar das crianças, mas ela já tinha planos. “Não se sinta mal!” ele diz. “Eu liguei para você, tipo, com uma hora de antecedência. Não tem problema.”
“Mas você acabou de me mandar para a Itália para o meu aniversário”, diz ela. “E eu tive os melhores dias da minha vida inteira…”
Grohl se volta para mim. “O 80º aniversário da minha mãe é no próximo mês, então conseguimos um lugar na Toscana por uma semana”.
“Foi um castelo!”, diz Grohl. “Inteiro para nós”. Ela diz que foi uma viagem incrível, apesar de terem sido parados pelos fãs de Foo Fighters toda hora. “Mas você foi maravilhoso com todos”, diz ela. “Porque estávamos bebendo vinho”.
Ela pergunta o que fizemos hoje, e Grohl fala sobre a loja de discos e o EastWest. “O que é isso?”, ela pergunta.
“O estúdio em que gravamos?” diz Grohl. Ele parece um pouco ofendido. “Quanto apoio!”
“Bem, poxa, demorou uns três meses para eu entrar”, diz ela. “Foi uma sessão fechada!”
“Mamãe!” diz Grohl. “O que você está falando? Não conte isso às pessoas!”
A mãe de Grohl costumava cantar em um grupo do ensino médio chamado Three Belles. Quando seu único filho quis abandonar o ensino médio aos 17 anos — a mesma escola secundária onde a Sra. Grohl ensinava, para sua informação — para viajar a Europa com sua banda punk Scream, ela demonstrou apoio. “Os músicos são as pessoas mais divertidas”, diz ela. “E eles trabalham mais do que todo mundo”.
“Hmm”, diz um Grohl cético. “Você acha?”
“Eles são todos workaholics completos”, ela insiste. “Você. Dre. Pharrell”. Uma pausa. “Talvez não o Adam Levine”. Grohl se mata de rir.
Então a Sra. Grohl conta uma história. “Quando David nasceu, eles me levaram para a sala de parto quando chegou a hora, e todos esses caras estavam de pé”, diz ela. “Todos novos… ou como se chamam quando estão na última etapa antes de se tornarem médicos”. Aparentemente, esses novos residentes ainda não tinham visto um bebê nascendo. “Então, quando ele nasceu”, ela diz, “todos começaram a aplaudir. Eu não pensei nisso até anos depois, quando eu tive uma epifania: ‘Oh, meu Deus. Esse é o primeiro som que ele ouviu.'”
Grohl sorri. “Vamos seguir caminho.”
Grohl pega um café expresso no café na esquina, depois decide passar pelo Studio 606, a sede do estúdio da banda, desde 2005. Nós atravessamos a garagem maciça do armazém, cheia de dezenas de guitarras, bem como o escudo gigante que Grohl recebeu por seu aniversário no Medieval Times. (“Eles me fizeram cavalheiro!”, Ele diz.) Nós entramos, onde as paredes estão alinhadas com 25 anos de memórias, cartazes e placas de platina do Foo Fighters e Nirvana.
Em retrospectiva, é fácil esquecer o quão improvável é que o Foo Fighters tenha se tornado uma coisa tão grande. Depois que o Nirvana terminou, parecia que Grohl, o baterista feliz, talvez nunca saísse de sua sombra. Mas o tempo de Grohl no Nirvana fez dele o líder de sucesso que ele é hoje. “Ele aprendeu o máximo que conseguiu e portanto escapava de muitos erros”, diz Smear, seu colega de banda no Nirvana e nos Foos. “Eu vi isso acontecer com o Foo Fighters — tipo, ‘Ah, eu sei por que você está fazendo isso: porque o Nirvana fez isso e foi bom!’ ou “Eu sei por que você não está fazendo isso: porque o Nirvana fez isso e foi ruim!” ”
Grohl chama os três anos de 1991 a 1994 de “um curso intensivo sobre o perigo de uma banda se tornar tão popular muito rapidamente”. “Quando o Foo Fighters começou”, diz ele, “tomamos decisões muito claras sobre o que fazer e o que não fazer”. A lista de coisas para fazer? “Sair por aí e fazer alguns shows. Comece desde o início”. E a lista de coisas a não fazer? Grohl ri pesarosamente. “Tipo… heroína?”
Com quase um quarto de século de carreira, os Foos não são apenas uma banda de rock de estádio; eles são algo concreto. Então, qual é o segredo? De acordo com eles, algumas coisas.
Por um lado, eles foram consistentes. Eles nunca se separaram, nunca mudaram radicalmente seu som — apenas criaram bons álbuns a cada dois ou três anos. “Muitas pessoas não sabem disso, mas nunca tivemos um grande e bem-sucedido disco”, diz Mendel. Seu álbum mais vendido, de volta quando as pessoas ainda compravam álbuns, foi The Color and the Shape (1997), que vendeu cerca de 2 milhões de cópias. (Para comparação: My Own Prison, do Creed, lançado no mesmo ano, vendeu 6 milhões.) “O sucesso que a banda teve, conseguimos crescer com ele ao longo do tempo”, diz Mendel. “Nunca nos surpreendeu”.
Em seus primeiros anos juntos, houveram divórcios, mudanças de formação, quase-términos e a overdose de heroína de Hawkins em 2001, que o deixou em coma por duas semanas. “Nós passamos por muitos períodos loucos com a banda no início”, admite Hawkins. Mas desde então, tem sido um voo bastante suave. “Eu não estou dizendo que não posso irritar Dave, ou que Dave não pode me irritar – Dave sabe magoar meus sentimentos mais do que qualquer outra pessoa no mundo”, diz Hawkins, que agora está sóbrio. “Mas não há uma intenção ruim, do tipo que quer você longe. É coisa de irmão”.
Grohl também tratou de se certificar que os outros integrantes do grupo nunca se sentissem como uma banda de apoio. Informação importante: a banda compartilha todos os lucros igualmente. (Contraste isso com Kurt Cobain, que renegociou os contratos do Nirvana para que a maior parte do dinheiro fosse seu.) “Acho que Dave soube que essa é a maneira de manter uma banda feliz e fazê-la sentir como uma banda”, diz Smear. “Ele é naturalmente generoso — mas ele também sabe que há vantagens”.
(Como Hawkins diz: “Ele era um baterista, cara! Eu acho que por estar naquele banco de trás, ele sabe como nos sentiríamos se estivéssemos sendo maltratados”.)
E, finalmente — até talvez contraditório — não há dúvida de quem é o dono da banda. “Esta banda funciona porque não é uma democracia”, diz Shiflett. “As pessoas podem interpretar como quiserem, mas é a grande razão pela qual não nos separamos.”
“É uma ditadura bondosa”, diz Hawkins. “Eu aprendi a manter minha boca fechada até que Dave realmente esteja procurando por uma opinião.”
Grohl prefere pensar na banda mais como uma família. “Quero dizer, eu sei, no final do dia, que é meu nome na assinatura do cheque”, diz ele. “Mas todos nós temos diferentes responsabilidades que mantém essa porra funcionando.”
Ao lado, a banda está no meio da construção do Studio 607, um complexo multimídia com salas de edição e uma sala de triagem onde Grohl pode fazer trabalhos de pós-produção em seu crescente corpo de projetos de TV e cinema (que incluem Sound City e a série da HBO Sonic Highways, de 2014). Ele tem muitos planos: quer fazer um documentário sobre vans de turnê e cultura indie-rock dos anos 80, e trabalhou com um produtor de Hollywood para desenvolver um longa-metragem, que ele ia dirigir. “Mas eu não tenho muito tempo para me afastar e fazer aqueles projetos que eu amo quando estou fazendo coisas com o Foo Fighters”, diz ele. “Então eu tenho que escolher minhas batalhas”.
O que levanta um ponto importante. Todos os Foos têm projetos paralelos para suprir qualquer necessidade criativa que a banda não atenda. Mas de todos os projetos, os de Grohl são de longe os mais legais. Quando ele está tocando no Oscar ou se apresentando com ex-membros do Led Zeppelin, o resto da banda não fica chateado?
“De vez em quando, você fica um pouco ofendido”, diz Hawkins. “Tipo, ‘por que não fui envolvido nisso?’ Mas [o antigo baterista do The Police] Stewart Copeland, que é um dos meus heróis, disse uma coisa muito boa pra mim uma vez. Eu estava chateado com alguma coisa — não vou dizer o que exatamente — então eu liguei para Stewart. E ele diz, ‘Taylor, Taylor, Taylor. Você mora em uma bela casa, não é? Você consegue fazer as merdas que você gosta? Fazer seus discos solo? Certo. Você ainda não enviou mensagens para ninguém, não é? Você não ligou para ninguém? Boa. Não o faça. Dave é cara legal. Você está bem. Apenas vá a um passeio de bike nas montanhas e tudo isso será nada.” Hawkins sorri. “Sábio conselho.”
Está ficando tarde, então começamos a voltar para a casa de Grohl. Quando chegamos lá, Ophelia está cochilando, então vamos nas pontas dos pés ao andar de cima, através da sala de jogos das meninas (beliches, guitarras de brinquedo) para o escritório de Grohl, onde três prateleiras altas abarrotadas de Grammys e VMAs são o único vestígio da estrela do rock que mora na casa. Nos sentamos na varanda (onde Grohl diz que já viu um OVNI), e ele acende um outro cigarro, então percebe algo no chão. “Uau”, diz ele. “É um passarinho morto, cara!”
Ele se agacha e, com a indiferença de um pai, o joga nos arbustos. “Eca”, diz ele. “Pássaro morrrrto. Estou feliz que minhas filhas não o encontraram.”
Em Outubro, a banda está planejando o Cal Jam, uma homenagem a um festival idêntico de 1974, que contou com Black Sabbath, Deep Purple e Earth, Wind and Fire. O original, realizado em uma pista automotiva no leste de L.A., atraiu mais de 250 mil pessoas. “Essa estética da pista é tão legal”, diz Grohl. “Este esqueleto de palco no calor do meio-dia, e um monte de garotos sem camisa com garrafas de Michelob, shorts jeans e queimaduras solares”. O mais próximo que conseguiram foi um anfiteatro em San Bernardino, onde encabeçarão um lineup incluindo Queens of the Stone Age, Liam Gallagher e Cage the Elephant. “Muitos deles são amigos de bebedeira e alguns eu nunca conheci”, diz Grohl. “Mal posso esperar. Será uma puta diversão”.
Pergunto se havia alguém que tentou contratar e não conseguiu. Grohl cai em um silêncio incomum. “Você sabe”, ele diz depois de alguns segundos. “Nós queríamos o Soundgarden. Eles aceitaram a proposta. E, hum…” Sua voz se embarga. “Não aconteceu”.
Chris Cornell foi um amigo de Grohl desde os seus dias de grunge em Seattle. “Eu o amava”, diz Grohl, com a garganta apertada. “Ele era um cara muito doce. Cheio de vida. E ele tinha muito a oferecer. Doeu bastante”, ele diz com os olhos cheios de lágrimas. “Ao longo dos anos você agradece por ter sobrevivido, e quando você vê outro cair…”
A natureza da morte de Cornell trouxe lembranças particularmente dolorosas para Grohl, que sabe o que significa perder um amigo para o suicídio. “Eu senti muito por sua família”, diz ele. “E eu senti muito por sua…” Ele pausa novamente. “E eu senti muito por sua banda, sabe? Porque essa foi uma longa estrada, cara”.
Grohl fica quieto por um bom tempo. “Toda vez que isso acontece, o mesmo sentimento aparece”, diz ele. “É chocante e confuso e eu simplesmente não entendo. Você entra nisso por amor pela música e compartilha com as pessoas, e você espera que todos se sintam da mesma maneira. Eu sei que é mais complicado que isso… mas, porra. É uma merda.”
Naquele momento, um carro surge na estrada abaixo de nós. É a esposa de Grohl, Jordyn, e Harper, de volta do acampamento. Ele se levanta, fungando. “Mas, é isso”, diz ele. “Eu sempre senti que a coisa mais importante é apenas chegar em casa com segurança. Você só precisa seguir em frente”. Ele começa a descer as escadas, limpando lágrimas no caminho.
Lá embaixo, Ophelia acordou de sua soneca e assistindo The Boss Baby no sofá. Harper está na cozinha, esperando por Grohl. (Sua filha mais velha, Violet, de 11 anos, foi para a casa de uma amiga.) Ele sai da escada e lhe dá um high-five. “Eu disse ‘e aí’!”, ele fala.
“Eu disse ‘e aí’!” Harper responde.
Grohl abraça e beija Jordyn, então volta para Harper. “Como foi o acampamento?” ele pergunta. “Você fez a maquiagem de idosa hoje?”
“Não, isso foi ontem”, diz ela. “Hoje eu fiz o Chapeleiro Maluco e um cachorro”.
“Sério?” ele diz, animado. “Foi legal?”
“Sim!” ela diz.
Hoje, sua cachorra labradoodle Penny fez aniversário, então elas trouxeram um cupcake de cachorrinho com uma vela de “2” e alguns chapéus. Ophelia corre ao redor tentando colocar um chapéu em Penny, rindo, enquanto Harper coloca um em sua testa e finge ser um unicórnio. Finalmente, a cachorra é pega e todos se reúnem ao redor dela para cantar “Feliz aniversário”. Depois, Ophelia sopra a vela e Penny foge com o cupcake. Grohl sorri, feliz por ter a casa cheia.
Matéria original: What a Foo Believes: The Sweet Life and Rock & Roll Faith of America’s Biggest Band, por Rolling Stone.
Introdução e tradução: Stephanie Hahne