Revista NME 1995
Estamos estreando o mais novo quadro na coluna da Marigold e ele se chama “Direto do Foonel do Tempo”. Sempre traremos notícias antigas traduzidas, e começaremos pelo início. A revista NME acompanhou o Foo Fighters em sua primeira turnê no ano de 1995. Naquela época, Grohl não imaginava que um dia a sua banda poderia lotar estádios, vocês verão na matéria que um fã profetizou isso para Dave. Espero que vocês gostem!
Há vida após a morte: a banda de hard rock Foo Fighters, que adora diversão, é a prova da renovação do rock, e eles a mostram no palco. A NME segue o grupo de Dave Grohl pelo calor do deserto, com fãs enlouquecidos e frutas voadoras para descobrir que, sim, o rock’n’roll ainda é uma experiência divertida, selvagem e libertadora. Aliás, um dos amigos de Grohl confirma que realmente perdeu sua virgindade para o AC/DC.
No último dia de julho de 1995, a máxima do dia em Tempe, Arizona, foi de 51ºC. Agora, conforme a escuridão rapidamente se aproxima, o termômetro cai para uma “baixa” noturna de 31ºC. Não dá para evitar ficar bravo por morar aqui; na verdade, isso é completamente essencial.
Dave Grohl sabe que isso é verdade. Enquanto ele se prepara para entrar no palco e fazer um show com sua banda Foo Fighters, um fã consegue passar despercebido pelos reflexos lentos dos seguranças e entra nos bastidores do templo Electric Ballroom. Agora, a direção dessa conversa se torna previsível.
“Ei, Dave, cara, vocês são ótimos”.
“Valeu”.
“Não, sério. Eu estou muito ansioso pelo show”.
“Legal”.
“Não, de verdade. Vocês são demais. Eu tenho o disco”.
“Bem, isso é legal da sua parte, obrigado”.
“Como é que você pôde parar de tocar bateria?”.
“Eu não parei de tocar bateria, eu comecei a tocar guitarra. Na verdade, eu tocava guitarra há muito tempo antes de aprender bateria.”
“Ei, cara, eu acho que o que você fez com o Nirvana foi ótimo. Tornar-se tão grande quanto aquilo? Bom pra caralho, cara”.
“Hummmm…”.
“E olha, vai acontecer novamente agora para vocês. Da próxima vez que vocês fizerem uma turnê, vocês tocarão em estádios”.
“Bom, eu não tenho tanta certeza sobre isso…”.
“Não, cara! Estou falando sério. Ei, eu tenho o disco!”.
Tolerante além do que o dever exige, Dave contempla o chão, balançando a cabeça negativamente. Ok, isso é estranho. Mas, comparado a outros acontecimentos aqui no Planeta Foo, é relativamente normal. Como na noite de quarta-feira, com a situação das frutas em San Francisco. Ou na sexta em Los Angeles, quando a partida de baseball de Greg acabou na hora certa, e ele conseguiu chegar e jogar. Ou sábado em San Diego, quando o hotel aparentemente desapareceu. Ou nessa noite quando alguém, alegando ser Courtney, cutucou o promotor e gritou para que ele fornecesse ingressos com acesso aos bastidores para seus amigos. Um deles, aliás, se passou por “William Cobain”. Bom, isso sim era esquisito.
Estranho é quando você nomeia a sua banda por causa de um OVNI (que foi fenômeno na 2ª Guerra Mundial) e acaba sobrevoando Londres para fazer seu primeiro show no Reino Unido. E, naquele mesmo dia, a Sociedade Real Geográfica (Royal Geographical Society) exibe uma filmagem que, supostamente, comprova que o que caiu em Rosewell, New México em 1947, era uma espaçonave alienígena. Estranho, também, é quando você faz seu show no Reading Festival e, no mesmo dia, a filmagem supracitada está prestes a ser exibida na TV.
O mais estranho de tudo é quando você vê que um ônibus comprido e polido estacionou no hotel Temple Holiday, onde há quartos reservados para… UFO (OVNI). UFO, a espancadora, gigantesca e bêbada banda old-school de metal britânico. UFO, porra. Isso sim que é assustadoramente estranho. Comparado a isso, um cara dizendo todas aquelas coisas só para te impressionar e que, além do mais, provavelmente viveu muito tempo no deserto, não é terrivelmente esquisito. Não mesmo. No entanto, mesmo assim…
“O povo de Arizona e New México”, reflete Dave, “realmente tende a ser um pouco estranho”.
Seis meses atrás, se alguém tivesse dito que o homem que tocava bateria com o Nirvana, desde antes de eles redesenharem o mapa do rock dos anos 90 até as repercussões de tudo que se jogou fora numa tragédia, teria feito um álbum de 12 músicas com um simples e discreto brilho, você talvez não ficaria tão surpreso ao observar uma dúzia de porcos planando graciosamente sobre sua cabeça.
A única evidência sobre a qual ninguém – além dos associados mais próximos de Dave Grohl – poderia supor que o rude e potente centro de equilíbrio da beleza selvagem do Nirvana era também um compositor talentoso estava presente em “Marigold”, uma b-side de “Heart-Shaped Box”. E, justamente por ser apenas uma sombra de uma das melhores músicas de Kurt Cobain, “Marigold” dificilmente antecipou as grandes alegrias que estavam por vir. De fato, essa hora foi caracterizada por “deixar o baterista se divertir um pouco”; se houve uma época em que o agora infame insulto de “Ringo do grunge” teve qualquer valor, era então.
Mas não com o Foo Fighters. Tudo isso se tornou óbvio quando as fitas do álbum começaram a ser fraudulentamente circuladas durante os meses de verão. Diziam que Grohl tinha cantado e tocado tudo, exceto por uma parte de guitarra em uma música, que foi tocada por Greg Dulli do Afghan Whigs. Agora, ele teria formado uma nova banda, em que ele era o líder. Pat Smear, recente segundo guitarrista do Nirvana, estava lá – mas, ao contrário dos rumores, Krist Novoselic não. A sessão rítmica era composta pelo baterista William Goldsmith e baixista Nate Mendel, selecionados da banda Sunny Day Real Estate de Seattle, uma assinatura do Sub Pop que possivelmente tinha se separado, mas ninguém parecia ter muita certeza sobre isso. A única coisa realmente certa era a insistência entre aqueles que tinham ouvido o material e achado incrível: riffs pesados, com andamento acelerado e uma sintonia dos céus. “Os Beach Boys hardcore” era a nomenclatura mais utilizada. Além disso, aqueles que entendiam do assunto diziam que a música tinha uma aura muito positiva. Considerando a perspectiva do criador do projeto, que tinha tendências ao predominante rock depressivo, essa foi talvez a sugestão mais tentadora e ousada de todas.
E isso tudo explodiu em um grito a plenos pulmões com o advento de “This Is A Call”, um aperitivo de tamanho vigor que trouxe um brilho imediato ao rosto, além da alegria no coração. As insinuações estavam certas: alguém lá em cima tinha uma grande simpatia por Dave Grohl. A estreia do Foo Fighters ao vivo no Reino Unido, no King’s College Union de Londres no dia 3 de junho, foi uma ocasião fervorosa que simplesmente confirmou duas coisas: que “This Is A Call” não era apenas um lance de sorte, e que Grohl tinha um grupo de músicos dignos. Lançado em 26 de junho, o homônimo álbum de estreia do Foo Fighters entrou na parada do Reino Unido em 3º lugar – uma posição acima do sanduíche “Neil Young – Pearl Jam”. Nada mau para um baterista que estava numa, assim chamada, banda “grunge”.
Ao embarcar em sua primeira turnê pelos EUA, o Foo Fighters se encontra em uma curiosa posição: com tudo e nada a provar. A marca de Grohl no Nirvana o garantiu um lugar em um dos mais importantes capítulos da história do rock, enquanto o fato de Pat Smear ter tocado com os punks The Germs ainda adolescente, o rendeu status inegável de venerado. No entanto, quantas reputações não foram arruinadas porque as pessoas simplesmente não sabem a hora de parar?
Cada membro tem uma história – no caso de Smear, se estendendo desde quando seus companheiros de banda tinham menos de dez anos – apesar de estarem tocando juntos há apenas seis meses. Mendel e Goldsmith ainda estavam na escola quando Grohl entrou para o Nirvana, mas o comportamento deles no palco revela uma maturidade maior do que 23 anos. Assim como o de Grohl… Mas, ei, depois de tudo que ele passou você pode perdoá-lo por se sentir o cara de 26 anos mais velho do planeta.
Então, será que é essa mistura de ingenuidade e experiência que faz o Foo Fighters ser um grupo tão fascinante? Em parte, sim. No entanto, mais especificamente, a relativa urgência com que Grohl abriu um novo capítulo de sua vida sugere uma fé intuitiva no poder de cura do rock’n’roll. É algo que vem de dentro, uma paixão. Você sabe do que eu estou falando…
Sexta-feira, 28 de julho
Esta noite, o Planeta Foo previu o distintamente grande e “não-rock” formato do American Legion Hail em Hollywood. Isso traz a vantagem do prazer estético, com o enorme telhado curvo e uma recepção em mármore. Mas também a desvantagem evidente de não ter um ar condicionado. Portanto, enquanto o Foo Fighters toca seu show, a atmosfera é calorosa (literalmente); e é possível inalar sopa quente.
Surgindo no bar do piso térreo logo depois, onde notáveis estrelas incluem Sofia Coppola e Rage Against The Machine, Dave nos cumprimenta com sorrisos largos e dúvidas inexplicáveis sobre se o show tinha sido bom ou não. Aparentemente, há um dilema contínuo sobre “ter ou não uma grade entre o público e o palco”. Logo no início da turnê, Dave explica, crianças tinham saltado para chegar ao palco, mas foram impedidos pelas grades, e algumas se machucaram. Por isso, no último show em LA no Roxy, não havia grades. Resultado? Crianças por todos os lugares no palco durante todo o show. Pat diz não se importar, mas com Dave não é bem assim. Claramente, ele ainda tem de se acostumar com as alegrias de devorar o microfone.
“Pelo menos eles não estavam jogando coisas na gente”, ele diz, “diferentemente de San Francisco. Quem em sã consciência acha que dar frutas para as pessoas na entrada é uma boa ideia? É lógico que ninguém as comeu e, quando nós entramos no palco… Splat!”. Foo Fighters. Fruta Fighters… Diabos, é um erro compreensível.
Greg Dulli decide ser o nosso mestre de vibrações da noite: ele se juntou aos Foos anteriormente para “X-static”. Agora residente em Seattle, Greg está em LA para arrecadar dinheiro para um filme que ele está produzindo. “Eu desci para trocar ideias com o pessoal e algum dinheiro – estava cansado dos executivos caretas de LA”. Tempo suficiente para ver uma partida de baseball – onde seu time Cincinnati ganhou do LA por 3 a 2 – antes de dar uma mãozinha a seu amigo Dave.
Greg está super entusiasmado para levar todos nós em uma festa em um lugar chamado The Woolhouse. Dave diz que é uma festa na casa da banda Wool, em San Fernando Valley, e que ele precisa voltar para o hotel e tomar um banho; ele nos encontrará lá. No caminho, AC/DC começa a tocar na rádio do carro e Greg revela que ele perdeu sua virgindade para “You Shook Me All Night Long”. “Na verdade, eu não acho que durou mais do que 10 segundos, porque eu só estava um pouco animado. Mas, que maneira de perder a virgindade, fala sério!”
Na festa, tratamos de assuntos mais civilizados com churrasco, bebidas escondidas no banheiro para se refrescar e várias atividades recreativas. Greg olha as opções de música oferecidas – um cômodo para os Stones e outro para o The Who – antes de investigar o novo LP da Teenage Fanclub e revelar que o novo álbum do Whigs será chamado Black Love. Eles começarão a gravá-lo em Seattle em breve. “Eu tenho algumas ideias para clipes que nos farão ricos!”.
O único Foo Fighter que realmente foi até o evento é William (Willie) Goldsmith. Greg diz que Willie está se sentindo profundamente intimidado de estar tocando bateria para Dave Grohl, sem sombra de dúvidas.
“Dave é o melhor baterista de rock dos últimos 10 anos, no mínimo. Quantos outros bateristas você pode ouvir numa música e conseguir dizer, isso é tão, é tão…?”. Greg pensa e depois responde sua própria pergunta sugerindo a parceria de longa duração do Steve White e Paul Weller.
Greg então sugere um mini torneio de basquete, que ele ganha facilmente. “Não se sinta mal, eu jogo em dois times de basquete lá em casa”. Admirando a técnica de Dulli, está Matt, que comanda o estabelecimento de merchandise do Foo Fighters. Na verdade, ele foi o gerente de turnê da banda na última vez, como suporte para Mike Watt, mas ele diz que não é suficientemente experiente para lidar com uma turnê desse tamanho. Mas ele não liga muito para isso. “Apenas estar com esses caras é uma grande diversão”, diz ele, sinceramente. Já é difícil de ver como a vida no Planeta Foo poderia deixar de ser assim.
Sábado, 29 de julho
O slogan official de San Diego é assustadoramente modesto “A melhor cidade da América”. Hunf. Pelo menos ela é mais fria do que LA em aproximadamente 10 graus. Atrás do palco no Soma Club, o Foo Fighters acabou de terminar a passagem de som. Dave mastiga ferozmente um pão pita com hummus (espécie de patê) e um homem amigável de meia idade recomenda a ele provar frutas da mini cervejaria local. Ele é, na verdade, pai de Dave, tornando isso em uma questão de família, com a irmã Lisa também por perto.
Grohl júnior se desculpa por não ter ido às festividades da noite anterior, confessando que ele cometeu um erro fatal ao retornar para o Hotel Roosevelt e pedir pizza, o que o fez ficar muito fatigado para festejar. Parece que os eventos também não deixaram barato para Willie que, conforme Dave se prepara para voltar ao hotel e se aquecer para seu show, está se deitando em uma cama de massagem. Quando já está deitado, algo de aparência estranha é aplicado em suas costas. O que isso significa?
“É para as minhas costas”, diz Willie hesitando.
“É para tirar as espinhas”, ri Dave.
Nós deixamos Willie no caminho até a van com o técnico de guitarra Ernie no volante para uma viagem de aproximadamente 10 minutos de volta ao hotel Ramada.
O Planeta Foo de esquisitices logo volta a se manifestar. Ernie começa a ficar histérico ao perceber que as direções que lhe tinham sido dadas (“por algum eletricista”) estavam fatalmente erradas. Após uma hora, e várias paradas “ah não, estamos perdidos”, nós chegamos. Dave resolveu alimentar o senso coletivo de demência e escolheu os melhores hits de Devo como trilha sonora. “Essa música é tão idiota que eu não acredito que ela existe”, diz Pat enquanto “Are We Not Men” se propaga pela van.
Veterano dócil das guerras do punk rock, Pat Smear claramente não chegou onde está hoje se perdendo no caminho para o hotel Ramada. Enquanto na Inglaterra, para o Reading, ele pretende fazer uma peregrinação na casa de Freddie Mercury.
No hotel, o que presumivelmente se passa por diversão nesse submundo estéril de rodovias e shoppings, está em pleno andamento: uma rave de metidos a quererem ser o que não são, que se assemelha a nada mais que uma festa realizada para arrecadar fundos e reparar o telhado da igreja. 8 dólares estão sendo extorquidos de crianças que não podem nem se quer beber ou fumar. Todos são revistados na entrada por seguranças de cara fechada, que devem estar ansiosos para receber uns trocados. Ei, é sábado à noite apesar de tudo.
A jornada de volta é relativamente tranquila. O que é ótimo, porque, quando nós chegamos, faltavam apenas 15 minutos para o show. Lá, para nos receber em nome do Planeta Foo, está um obviamente aliviado Willie. Ele não “tem certeza” se se sente melhor ou não.
“A massagem, no entanto, ficou mais interessante quando ele subiu em cima de mim e começou a bater nas minhas costas”.
Parecia que, em alguma vida passada, Willie conseguiu irritar toda e qualquer entidade da área da saúde, porque a sua dor nas costas o segue desde um cotovelo deslocado um mês antes da data prevista para a turnê começar; necessitando de uma moratória sobre os ensaios e fisioterapia desesperadamente. Como isso ocorreu? “Eu estava brincando de pula sela do lado de fora de um Taco Bell”.
Aham. A cada dia ele fica mais aflito com uma doença nova. Domingo de manhã, ele acordará para enfrentar a atraente perspectiva de ter um dia de folga com sinusite e bronquite. “Por ser o tipo de pessoa que faz tempestade em copo d’água, nada disso realmente me surpreende”, ele ri estoicamente.
E para Willie especificamente, esse show é agitado. Durante a primeira música, “Winnebago” – depois do que ocorreu em LA, eles decidiram abandonar a ideia de abrir com ‘Alone + Easy Targed”, o bumbo de sua bateria arrebenta em dois. A espera forçada, enquanto a substituição da peça é feita, permite Dave exibir suas técnicas de improvisação impressionantes – nesse caso, uma composição no local possivelmente entitulada de “Weird” (Estranho), que retratava, em grande parte, a experiência do triângulo de Ramada: “Everything today was so fucking weird” (Tudo hoje foi estranho pra caralho).
A pausa finalmente acaba, mas, no final de “Exhausted”, o azar de Willie diz olá mais uma vez e ele bate feio na pele do bumbo. Jimmy, um homem que trabalhava no backstage, vinha tocando bateria “no ar” de maneira impressionante; e agora tinha que fazê-lo de verdade. Ele ficava batendo no laço de reposição para tentar manter a batida enquanto a mudança era feita. Apesar de a situação parecer cômica, o final falso da música chega a ser extremamente ridículo para falar a verdade. No final, Willie levanta de trás de seu kit e cambaleia até a frente do palco, onde todos os membros da banda tropeçam uns nos outros num estado de zombaria. Willie eventualmente retoma sua posição e a banda chega ao final da música. É eletrizante, e um tanto quanto engraçado.
Com relação ao bis da música “Down in the park” de Gary Numan, bem, isso é algo delicado. De verdade.
Ao acalmarem-se, Nate e Willie depois buscam esclarecimentos sobre o protocolo de imprensa dos correspondentes da NME. “OK”, diz Nate, “você realmente parecem ser gente boa, mas, na minha visão, você irão para casa e falarão um monte de besteira sobre o Foo Fighters. Certo?”.
Certo, mas, nesse caso, não era uma opção.
Com sua banda anterior Sunny Day Real Estate, Nate e Willie tinham um pouco de experiência com a imprensa britânica. Eles nunca saíram em turnê pela Europa, mas as críticas, desconsiderando pouquíssimas que eram boas, praticamente não existiam. “Eu me lembro que uma se referiu a nós como ‘Sunny Day Plagiadores’”, lamenta Nate.
Jimmy aparece, curioso sobre seus atos heróicos de baterista, e logo nós estamos de volta ao assunto das lesões. Jimmy consola Willie dizendo que já passou por um acidente de moto que resultou em sua clavícula sendo permanentemente deslocada, embora ele tenha sido sortudo de ter sobrevivido. Dave e Jimmy são amigos de infância que moravam a um quarteirão de distância em Virgínia, e motocicletas é um dos interesses compartilhados deles. Dave tem uma Yamaha que parece ser a mais rápida de produção do mundo, embora ele diga que Seattle não é o melhor lugar para perceber todo seu potencial. É estranho imaginar esse moço, aparentemente, ajustado perambulando com uma rápida e móvel máquina da morte.
Então, Dave, o que você fará essa noite? Beber?
“Eu vou voltar para o hotel com meu pai e irmã”
Respeito.
Segunda-feira, 31 de julho
A próxima conversa era sobre Phoenix e suas temperaturas altíssimas, mas, na realidade, é Tempe, subúrbio separado de Phoenix propriamente dita pelo aeroporto e um espetacular cerrado. As temperaturas, no entanto, são como esperado.
Planeta Foo vem para ficar no hotel Holiday, onde cada quarto tem uma placa indicando qual ilustre estrela do palco ou tela já foi sortuda suficiente para passar por ali. Deste modo, meus pés pisam o mesmo tapete que Phil Donahue pisou, embora 16 anos depois. Um quarto para baixo e poderia ter sido Cyndi Lauper. Caramba!
No local de reunião, esse pensamento é mantido para mim, percebendo que Dave está mais interessado no que está lendo: Communion de Whitley Strieber, uma história de um homem que foi abduzido por aliens, recentemente adaptado para filme. Dave diz que as pessoas têm batido na mesma tecla com relação a OVNIs – “É um assunto bacana no qual eu estou interessado; mas não sou obcecado, não passo todos os minutos do dia com isso”. Isso dito, ele tira da mala suas roupas “alienígenas”, incluindo uma camiseta representando um amiguinho alien como “o elo perdido” entre macacos e o homem.
Quando a passagem de som acaba, Dave e Pat dão risada sobre um pacote que acabou de chegar do correio. É uma demo de uma banda local chamada “Cygnus underworld”, acompanhada de uma biografia que revela que a banda tem apenas duas músicas originais, de um total de 12.
“Ei”, ri Pat, “você não pode apressar as coisas. 10 covers não é algo tão ruim para iniciantes”. As duas músicas na demo são – surpresa – as duas originais: Playground e Hide And Seek.
“Hummm”, diz Pat que, quando sorri, parece exatamente com o desenho do Gato Cheshire (Alice No País Das Maravilhas). “Há algo se desenvolvendo aí…”.
“Dave”, a carta ameaçadoramente conclui, “nós estaremos no show”. Dave confirma que o jeito mais rápido de virar um respeitável homem A&R (pessoa que cuida da vida dos artistas) é sair de trás da bateria e equipamentos.
Já que é a última noite deles em turnê, Dave pretende tocar bateria com Wool em uma música – uma nova formação eficaz de sua antiga banda Scream. Então, enquanto ele curte com seus amigos, Pat volta para o hotel para uma soneca. Nós arrastamos Nate e Willie para um pequeno (mas agradável) restaurante. Eles se recordam de como a Sunny Day Real Estate se separou durante a turnê pela costa leste um pouco antes do natal do ano passado. O vocalista Jeremy Enigk se tornou um cristão fanático por causa de um relacionamento realmente desastroso; as coisas então desmoronaram. “Nós sabíamos que isso ia acontecer”, diz Willie.
Dave sabia que eles tocavam e, agora, estavam disponíveis; e isso foi o suficiente. Willie recorda de estar tão nervoso durante os dois primeiros ensaios que ele tocou muito mal, temendo a decisão de Dave. Toda vez, Dave simplesmente sorria e dizia: “É ótimo estar tocando de novo”.
Sunny Day foi acusada de ser “secundária”, mas Willie e Nate estão felizes de reconhecer que devem uma parte de ser quem são hoje a bandas esotéricas de underground dos EUA: Lungfish, Shudder To Think, Slint e o último grupo de Steve Albini: Shellac. Eles dizem que o Foo Fighters pretende gravar um álbum com Albini, enquanto Sunny Day Real Estate tem uma faixa na trilha sonora de Batman Eternamente graças ao seu segundo álbum que foi postumamente lançado pela Sub Pop. “Eu fico contente com isso”, diz Willie.
De volta ao Eletric Ballroom – todas as alcovas são de madeira, o restaurante Harvester estava bagunçado, pois na noite anterior tinha hospedado Slash’s Snakepit. O gerente de turnê Pete diz que há algumas pessoas tentando chegar nos bastidores, dizendo que seus nomes estão na lista de convidados. E então o promotor entra. Ele tinha acabado de receber uma ligação de Courtney Love, ou pelo menos alguém dizendo ser a mesma, exigindo que seus amigos tivessem ingressos com acesso aos bastidores. Uma das pessoas aparentemente se passa pelo nome de William Cobain.
Dave está boquiaberto. Kurt não tinha um irmão. Seria típico de Courtney tentar armar uma cena como essa. Dave vinha se perguntando quando algo assim aconteceria. “É tudo culpa sua”, ele ri, “ela sabe que vocês estão aqui. Ela vê tudo, sabe de tudo”.
Dave conclui que ela está desesperada para mostrar à mídia que há uma ligação entre eles, mas ele não confirma nada, mantendo-se de boca fechada. Ele não é bom nesse tipo de coisa, não tem a resistência ou a vocação. A vida continua. Ele está bem demais consigo mesmo agora. A última vez que Dave falou com Courtney foi em 8 de abril, aniversário de morte de Kurt.
“Nunca comece uma disputa briguenta com alguém que consome suas bebidas direto do barril”. É dos ditados favoritos do pai de Dave, que Dave reconhece ser útil nesse momento. Ambos são homens sábios.
O começo do set dos Foos é adiado enquanto o promotor lê uma lista de próximas atrações. The Catherine Wheel ganha aplausos, Teenage Fanclub assovios de aprovação, enquanto as bandas de abertura Wool e Shudder To think são aplaudidas e vaiadas respectivamente.
As cortinas ficam fechadas por mais tempo do que o necessário. “Nós podemos tocar agora?” Dave zomba e lamenta enquanto ele e Pat jogam o braço de suas guitarras para a multidão, antes de outro ótimo show começar. Dave cai durante “This Is A Call”, mas não perde o pique ou o glamour até de joelhos. Ele é um artista nato.
A jam de “Exhausted” atinge outro nível quando 4 membros param de tocar e ficam em linha com o elevador da bateria. Dave e Pat fumam alguns cigarros por alguns minutos antes do grande desfecho. Quando chegarem em Reading, eles estarão jogando baralho enquanto Jimmy empurra um carrinho e serve Earl Grey (tipo de chá) com scones (espécie de bolinho). “Yeah!” ri Dave. “Ou talvez nós possamos apenas deixar o palco e voltar depois para terminar a música como se fosse o bis!”.
Depois do show, os Foos escapam para o hotel Holiday para se refrescarem e se prepararem para uma longa viagem de carro para o norte em Flagstaff, lar dos hoteis concebidos como tendas. Falando em esquisitices, OVNIS estão descansando em torno da recepção, obviamente descontentes com a vida em geral. Um cara alemão desagradável – que dizem que é Michael Schenker – parece particularmente irritado, ansioso para subir no ônibus e ir embora. Aparentemente, Phil Mogg adiou o embarque deles o dia inteiro porque “estava difícil de conseguir”. Ele eventualmente sai de seu quarto, com uma cerveja numa mão e o uísque Jack Daniel’s na outra. “Schenker” bufa e xinga: não deve ser fácil ter vislumbrado a luz no fim do túnel anos atrás e, agora, estar preso no mesmo lugar. De maneira bizarra, Jimmy é avistado acompanhando Pete Way – que veste uma camisa do Aston Villa (time de futebol) – na recepção.
“Unidos pelo metal”, sorri Dave ao explicar aquela cena, e nós nos despedimos. “Obrigada por vir e nos ver”. Na humilde van deles, os 4 Foo Fighters borbulham em mais alegria do que o recomendado para homens prestes a encarar 12 horas de viagem. Mas essa é a emoção no Planeta Foo: mentes novas em corpos pesados. Até mesmo as tarefas mais corriqueiras têm um lado fascinante, se divididas com alguém. É melhor que eles aproveitem enquanto podem, a experiência diz que essas emoções não serão necessariamente para sempre.
“Ei!”, chora Dave, enquanto Ernie engata a van. “Coma alguns biscoitos! Minha esposa os fez. Não estão deliciosos?”.
Eles estão. É oficial: a esposa de Dave Grohl faz biscoitos bons pra caramba. Na verdade, a esposa de Dave faz biscoitos que não são deste planeta.
É um lugar que vale a pena ser visitado.
Produção e Revisão: Karina Diaz
Tradução: Elise Kanashiro
Fonte: Fooarchive.com