Cineasta estreante, Dave Grohl explica as motivações por trás de seu filme, Sound City

Depois de estrear o longa-metragem Sound City, sobre o lendário estúdio de gravação norte-americano, e apresentar a superbanda Sound City Players no Festival Sundance de cinema, no mês passado, Dave Grohl finalmente está pronto para comemorar. “Sundance sempre foi a nossa meta”, conta. “Se conseguíssemos cumprir o prazo, enviar e ser aceitos, é onde estrearíamos o filme. [Em 2012] ficamos superbêbados em uma cabana nas montanhas e pensamos: ‘Se voltarmos, a festa vai ser aqui’. Isso foi há um ano e realmente aconteceu.” A Rolling Stone se encontrou com Grohl em um apartamento perto das montanhas com vista para Park City, e falou com o baterista e diretor estreante sobre por que o filme é a coisa mais importante que ele já realizou na vida.

 

Tenho uma teoria de que Sound City é, na verdade, sua autobiografia. É mesmo?

Bom, o filme é estruturado com três caras de Seattle entrando em uma van. O legal sobre a história de Sound City é que não é uma história só. Tenho certeza de que cada um dos músicos contaria a história da mesmíssima forma. O amor pelo estúdio, como foi importante para eles, como aquele lugar mudou a vida deles, o que a tecnologia fez com a maneira de compormos músicas e o que fez com Sound City e a importância do elemento humano na música. Aposto que Neil Young, Tom Petty, Stevie Nicks e Rick Springfield poderiam rodar o mesmo filme que rodei, porque, mesmo na introdução, quando digo “éramos moleques, tínhamos essas músicas e sonhos e os jogamos no porta-malas de uma van”, cada um deles poderia dizer a mesma coisa. Sempre tive uma ligação forte com esse estúdio, porque o Nirvana não era para ser a maior banda do mundo. Simplesmente não era. Quando ficamos lá 16 dias, não estávamos gravando o álbum com a intenção de mudar o mundo. Só queríamos que soasse bem… O fato de o que aconteceu realmente ter acontecido me faz pensar que há mais do que fios e botões naquele lugar. Pessoalmente, tenho uma ligação emocional forte com ele. Musicalmente, há algo mágico ali, e, quando ouvi que estava fechando as portas, pensei: “Tenho um estúdio, gravo discos todo dia. Se pudesse ficar com aquele equipamento que considero a melhor mesa de som na qual já trabalhei e que é responsável pela pessoa que sou seria um encontro emocional que fecharia um ciclo enorme para mim”. E é por isso que fiz o filme.

 

Como você chegou lá? Como foi parar no Sound City?

Não me lembro. Acho que o Nirvana tinha assinado com a David Geffen Company e a gravadora nos deu… Talvez US$ 100 mil, ou US$ 60 mil, para fazer um álbum e, em vez de simplesmente nos mandar um cheque para Seattle, decidiu que queria que viéssemos a Los Angeles para poder nos vigiar. Não podíamos pagar um daqueles lugares chiques no centro, então ficamos sabendo de um lugar que tinha uma antiga mesa de som Neve. Nenhum de nós havia estado lá antes.

 

E como decidiu convidar todos os artistas para gravar com você no filme?

Parte de cada discussão com os músicos era sobre o elemento humano de fazer música. Sentimento, imperfeição, emoção, a conversa como instrumentista, a conversa entre instrumentistas, o ofício. Se você está falando de espontaneidade e conexão em um momento, o trecho McCartney/Nirvana faz todo o sentido. Eu nem teria de dizer isso, você simplesmente assiste e pensa: “Uau, eles acabaram de entrar juntos em uma sala e fizeram algo explosivo do nada por causa da energia naquele lugar”. Poderia levar anos explicando como ou por que isso acontece, mas, se você assistir, esses sete minutos fazem todo o sentido.

Você continua lendo esta matéria na edição 77 da Rolling Stone Brasil, Fevereiro/2013.

Fonte: RollingStone
POR KATIE VAN SYCKLE | TRADUÇÃO: LIGIA FONSECA