Líder dos Foo Fighters examina a história de gravação de Van Nuys em “Sound City”

A instalação de gravações em Van Nuys é santificada em história de bandas como Nirvana e Fleetwood Mac. A fascinação de Dave Grohl se transforma num documentário — e num concerto.

“Dave Grohl sentado à esquerda no estúdio. O primeiro trabalho de Dave Grohl como diretor, "sound City", estreará no Sundance Film Festival. Seu documentário fala sobre a história do estúdio de gravação de Van Nuys. (Sundance Film Festival / 19 de janeiro de 2013)”

“Dave Grohl sentado à esquerda no estúdio. O primeiro trabalho de Dave Grohl como diretor, “sound City”, estreará no Sundance Film Festival. Seu documentário fala sobre a história do estúdio de gravação de Van Nuys. (Sundance Film Festival / 19 de janeiro de 2013)”

Entre baquetas lascadas e copos de café vazios bagunçando seu estúdio de gravações de Northridge, Dave Grohl contemplava a enorme mesa de mixagem diante dele.

O líder dos Foo Fighters olhava para as aparentemente intermináveis fileiras de faders e mostradores no console, admirando-o como se fosse um amante de carros diante de um Aston Martin antigo.

“Eu considero aquela mesa como a responsável pela pessoa que eu sou hoje”, disse o ex-baterista do Nirvana. “Se não fosse por essa mesa, quem sabe como o ‘Nevermind’ seria? E quem sabe se alguém algum dia teria ouvido falar do Nirvana?”

O console com design personalizado, Neve, veio do Sound City, a instalação de gravações de Van Nuys onde artistas tais como Fleetwood Mac, Metallica e Tom Petty and the Heartbreakers — bem como o Nirvana — fizeram alguns de seus álbuns mais conhecidos.

Usando um capuz marrom e jeans azuis, Grohl, de 44 anos, estava se preparando para a estreia de seu documentário sobre o estúdio e sua história, “Sound City”, que foi escalado para estrear na sexta-feira no Sundance Film Festival em Park City, Utah. Ele formou uma banda de estrelas do Sound City para celebrar a estreia e estava ensaiando para o show na semana passada.

Três grandes pôsteres estavam sobre cavaletes na sala principal, cada um rabiscado com uma dúzia de títulos de músicas: “Landslide”, “Jessie’s Girl”, “Born on the Bayou”. Rick Springfield chegaria em algumas horas; Stevie Nicks e John Fogerty deveriam aparecer nos próximos dias.

Os Sound City Players, cuja formação também inclui Trent Reznor, Krist Novoselic e os membros de Cheap Trick e do Rage Against the Machine, lançarão um álbum dia 12 de março. Em adição à performance do Sundance, eles tocarão no Hollywood Palladium no dia 31 de janeiro, após uma exibição do filme no Cinerama Dome, do ArcLight Cinemas.

“Você pode imaginar, logisticamente, que isso era quase impossível de se fazer”, Grohl disse com um balanço do cabelo na altura dos ombros. “Mas agora que conseguimos, estou muito feliz”.

O estúdio que reuniu esses artistas parece pálido em comparação ao talento que ele incubou. Escondido atrás de uma fachada suja em frente a um depósito de caminhões de comida, Sound City, hoje, não parece mais impressionante do que era durante as décadas que sucederam sua inauguração em 1969.

“O lugar basicamente parecia um lixão duas vezes maior”, disse Springfield, que gravou seu álbum de 1981, “Working Class Dog”, no estúdio de 7.200 metros quadrados. “Você usava o banheiro com medo de pegar alguma coisa”.

No entanto, uma mística se desenvolveu logo cedo no Sound City, e o fascínio foi além da sonoridade. Neil Young gravou partes do clássico “After the Gold Rush” lá, Petty fez o “Damn the Torpedos” lá, e Charles Manson declaradamente editou faixas no estúdio pouco antes de se tornar famoso por um motivo totalmente diferente.

“Era como um clube”, disse Nicks. A líder do Fleetwood Mac reconheceu que entrar no Sound City, no fundo de vale de São Francisco, não era conveniente para estrelas do rock que viviam perto de estúdios famosos de Hollywood ou Santa Mônica. “Mas uma vez que você está lá, você está lá, e então você passa a fazer as viagens até lá o máximo possível”.

Os negócios ficaram mais fortes ao longo da década de 80 com as sessões de bandas de hair metal tais como o Ratt, mas depois que o Nirvana gravou o “Nevermind” lá, em 1991 — e o álbum vendeu 10 milhões de cópias — o Sound City encontrou uma segunda vida como destaque no rock alternativo.

Durante o resto dos anos 90, banda após banda estavam procurando pelo que o produtor do “Nevermind”, Butch Vig, descrevia como o estúdio de “vibrações únicas”. “O acústico da sala — havia algo sobre ele que fazia tudo soar incrível”, disse ele.

Na metade da década seguinte, porém, a desaceleração da indústria musical e os investimentos em equipamentos de gravação caseiros provocou um sério corte nos negócios do Sound City. As reservas acabaram, e em 2011, Kevin Augunas, um produtor de Los Angeles que trabalhou com os Lumineers e com os Cold War Kids, pegou o estúdio e o remodelou; ele o usa agora, principalmente, para gravar bandas que assinaram com seu selo, Fairfax Recordings.

Grohl começou a trabalhar no “Sound City” depois de ter comprado a mesa de som Neve, que ele levou para Northridge. A ideia original era fazer um filme curto em conjunção com o 20º aniversário do “Nevermind”. Mas uma vez que ele começou a entrevistar outros artistas que gravaram no Sound City — cada um falando longamente sobre a experiência — “Eu percebi que era um filme de verdade”, disse ele.

“O Dave não parecia um cara lançando uma ideia, como em ‘The Player’,” disse Fogerty, se referindo à sátira hollywoodiana de Robert Altman lançada em 1992. “Ele parecia um garotinho. Posso dizer que o entusiasmo dele era puro”.

Tradução: Giovana Moretti
Fonte: LA Times