“Eu sinto sua falta, porque eu sinto como se seis meses se passaram sem nos falarmos, minha carreira acabou. Então, eu estou contente que estamos conversando agora.”
Essas foram as primeiras palavras que saíram da boca de Dave Grohl quando ele ligou para o The Kevin & Bean Show, no início desta manhã. Com a nova série da HBO e do Foo Fighters estreando esta noite e o lançamento do álbum novo em apenas algumas semanas, a carreira de Grohl não está nada acabada.
“A coisa louca é que dia 17 de outubro foi o 20º aniversário do dia em que eu fui para o estúdio na rua da minha casa em Seattle e comecei a gravar o primeiro álbum de Foo Fighters, que eu não achava que ia ser um álbum de verdade porque não era nem uma banda. Eu só fui até o fim da rua para gravar essas músicas e era tipo a primeira coisa que eu fiz desde que o Nirvana tinha terminado. É difícil acreditar que esses últimos 20 anos se passaram e que chegamos onde estamos agora.”
“Eu comecei a tocar guitarra quando eu tinha uns 9 ou 10 anos de idade, então esse é o meu primeiro instrumento. Eu tocava guitarra em bandas quando era jovem, mas os bateristas sempre foram tipo de, hum… de baixa qualidade. Eu não sei bem como dizer isso. Então, eu finalmente disse a um dos bateristas, ‘hey, me dê essas coisas. Deixa eu tentar isso aí.’ Eu comecei a tocar bateria e tinha um talento especial para isso, então eu comecei a ser o baterista a partir de então. Mas eu sempre tive uma guitarra comigo em turnê onde eu estava e sempre escrevi canções, eu as gravava por mim mesmo, mas eu nunca deixei ninguém ouvi-las, porque eu não acho que elas eram boas e que alguém gostaria de ouvir aquilo. Estar no Nirvana era tipo, você não quer confundir o processo de composição quando você está em uma banda como aquela, com o maior compositor do mundo, e tudo o que eu tinha que fazer era bater pra caralho naquela bateria e chegar ao “nirvana”. Isso foi ótimo, mas depois que a banda acabou, essa foi a única coisa que eu percebi que me ajudaria a seguir com a vida, para tentar algo novo e me desafiar ao invés de apenas me tornar um baterista de outra banda.”
“Eu sempre senti que os músicos – não importa se eles estão por conta própria, em seu sofá em casa, ou em um espaço de ensaio, ou em um estádio – a maioria dos músicos só querem tocar. Eu só quero tocar. Eu ainda sou assim. Eu acordo de manhã querendo fazer isso. Eu sabia que em algum momento da minha vida eu teria que tirar isso de mim. Assim, eu penso nos últimos 20 anos como se fosse um casamento. Cinco caras casados um com o outro por 20 anos. Você tem que manter isso vivo, fazendo coisas que você nunca fez antes. Este conceito basicamente veio disso. O último álbum nós fizemos na minha garagem, e apenas utilizando máquinas de fita e não computadores. Essa foi a maneira de desafiar a banda em um ambiente que estava fora do nosso espaço de conforto. Todo este projeto é uma extensão dessa ideia, ao invés de apenas ir para a minha garagem e gravar um disco, vamos gravar cada canção em um estúdio diferente, em uma cidade diferente. Vamos filmá-lo para uma série de documentários que contam a história da música de cada cidade e da importância regional de todos esses lugares através de entrevistas com todos os músicos mais reconhecidos no país, mas, em vez de apenas mostrar a canção, vamos mostrar todo o instrumental e, em seguida, como eu estou entrevistando essas pessoas ao longo da semana, o último dia da sessão eu pego todas as anotações dessas entrevistas, me tranco no meu quarto de hotel com uma garrafa de vinho, leio essas transcrições e escolho frases e palavras. Eu os pego e os coloco no lado esquerdo do meu caderno, no lado direito do meu diário que eu tenho um esboço da música onde eu encaixo essas expressões, frases e palavras para fazer uma música que vai contar a história do episódio inteiro. O final do episódio é uma performance da música, onde as letras surgem na tela e você reconhece todas as letras de todas as histórias e entrevistas que você acabou de ouvir.”
“O ambiente deve influenciar o resultado da música, seja gravando em uma garagem, ou pela chuva de Seattle, ou pela umidade em Nova Orleans.”
“Muitos desses lugares nos quais gravamos nem eram estúdios. O lugar que gravamos em Nova Orleans é um pequeno edifício de 200 anos de idade chamado The Preservation Hall, onde a Preservation Hall Jazz Band toca três shows por noite, eles tocam o tradicional jazz de Nova Orleans em um quarto que é do tamanho do meu quarto quando eu era uma criança. Não há microfones. Não há nenhum sistema de PA. Há apenas bancos de igreja e uma banda de jazz, tocando todas as noites. Isto é no Bairro Francês. Havia bares à esquerda, à direita, e do outro lado da rua. Houve tempos em que Taylor faria uma faixa de bateria, então ele atravessava a rua e me puxava para fora do bar para ir ouvir.”
“O mais legal sobre um lugar como Nova Orleans é que a música é uma parte enorme da cidade e sua cultura. Todos os domingos, eles têm um desfile de jazz, eu não sei se você sabe o que é um desfile de jazz, mas em Nova Orleans eles têm um funeral de jazz. Durante a segregação, as famílias Afro-americanas tiveram de ser enterradas bem fora da cidade, então o que eles faziam era uma marcha até o cemitério. Na frente da família, haveria um banda de jazz tocando um canto fúnebre lento, depois eles enterravam os mortos, davam as costas e iam tocando jazz e dançando durante todo o caminho de volta. As pessoas saem de suas casas para se juntar ao desfile. Você via pessoas dançando nos carros. Você via pessoas dançando nas placas de trânsito e bebendo, celebrando a vida ao som de jazz, seguindo a banda pelo caminho. Na volta para casa, poderia ter milhares de pessoas atrás de você. Eles ainda fazem isso todo domingo.”
Bean depois perguntou a Dave porque o rock não é tão tocado, não recebe tanta atenção e não é mais tão feito na cultura popular.
“Tem muito rock sendo tocado, recebendo atenção e sendo feito ao redor do mundo. Eu acho que a cultura pop funciona em ciclos. Pense sobre como a música era antes do Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice In Chains e todas essas bandas que estouraram. Nós estamos em um lugar que parecia intocável, inalcançável. Havia várias bandas que eram altamente estilizadas e produzidas. Era bem legal e gostávamos de festejar também, mas chega uma hora que você quer algo real. Eu quero ver um cara suando sangue sobre o instrumento que ele acabou de quebrar no palco. Todo mundo tem isso dentro de si às vezes, e acho que funciona como um ciclo. Para mim, isso é meu ar, meu alimento, meu estilo de vida. É o que eu faço. Minha banda é minha família e a música que fazemos é a nossa voz. Nunca vai desaparecer. Quando eu saio de um show do Foo Fighters, seja em uma arena, uma casa de shows ou um estádio cheio de gente cantando ‘Everlong’ ou ‘My Hero’ ou ‘The Pretender’, o rock ‘n roll está são e salvo em minha casa. Lamento que algumas pessoas sintam “fome” de rock”.
[youtube id=”zjhb6kEE3Fg” width=”620″ height=”360″]
“Eu não sou mais uma criança. Rock ‘n roll é um jogo para jovens. Basicamente, meu objetivo agora é fazer esses jovens pegarem instrumentos e tocarem. Assista ao episódio do Buddy Guy. Assista ao episódio sobre Steve Albini, ou Chuck D, ou Dolly Parton, ou Seattle e tipo, pegue um instrumento e comece a tocar. Aí é só uma questão de tempo. Ninguém vai olhar para mim e dizer, ‘o Dave é tão novo e legal! ’. Não vai acontecer. Estamos trazendo a festa. Você quer participar? Traremos a festa. Caso contrário, faremos projetos como esse na intenção de inspirar pessoas a serem inspiradas.”
A série Sonic Highways chega ao Brasil dia 30 de novembro pelo canal BIS, e o álbum Sonic Highways será lançado por aqui no dia 12 de novembro.
Fonte: KROQ
Tradução: Stephanie Hahne