Chris Shiflett, o foo fighter dos bares country

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

Chris Shiflett provavelmente é mais conhecido pela maioria das pessoas como o guitarrista superestrela da banda americana arrasadora de estádios, Foo Fighters. Mas o guitarrista tem seguido sua própria carreira solo por alguns anos agora, lançando discos com influências country e americanas.

Prestes a iniciar um verão de loucuras, participando de um circuito de festivais com os Foo Fighters, Shiflett tirou um tempinho para fazer alguns pequenos shows acústicos em Londres para demonstrar seu outro lado, bem como para sentar-se com a RockShot Music Magazine para conversar sobre suas aventuras na música country, ser um pai ocupado e seu novo disco, “West Coast Town”.

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

Chris, como o show do Water Rats desta noite veio a acontecer?
Eu enviei um e-mail para nosso agente daqui para tentar encontrar alguns shows, porque eu sabia que teria alguns dias nesta turnê. O show com o Nic [Cester, do Jet] apareceu e nós tivemos que fazê-lo. Tivemos que encontrar outro lugar e a única coisa que eu queria era que me colocassem no menor local que conseguissem.

É parte da ambição de sua música tocar para pessoas que estão encerrando o expediente e tomando algumas cervejas enquanto um cara conduz o entretenimento?
Certamente, se você está pensando dos bares em Bakersfield, nos trabalhadores rurais e nos caras que trabalham nos campos de petróleo, este é definitivamente o lugar de onde essas pessoas vêm. Elas dizem que a música country de fora de Nashville veio das igrejas, mas a música country da costa oeste veio destes bares.

Este estilo de música vem destes lugares?
É interessante fazer shows acústicos; normalmente eu faria isso com uma banda completa. As músicas foram escritas apenas em um violão acústico, mas definitivamente não da forma como estou acostumado a tocá-las, então é muito empolgante. Eu ouviria o que o Dave Cobb [produtor/guitarrista de ritmo] toca no disco; ele tocou todo o violão acústico, e é mais estranho. Eu estava fazendo mais as coisas principais e não conseguiria mesmo fazer isso e cantar ao mesmo tempo.

Conte-nos um pouco sobre seu processo de escrita das canções. Fiquei sabendo que você trabalhou com o Brian Whelan em algumas músicas do West Coast Town?
O Whelan é um grande amigo meu, mas sou muito fã dele como cantor e compositor. Acho que nós co-escrevemos quatro músicas no disco e são canções que eu fiquei ansioso para conseguir. Brian ajudou muito, ele mudou alguns acordes aqui e ali, talvez simplificou essa parte, mudou um pouco a melodia vocal. Eu não tenho feito muitas co-autorias mas como eu e Brian somos amigos e tocamos juntos ao longo dos anos, é confortável.

E quanto aos temas, há menções cômicas de drogas, fumo e álcool?
Eu não percebi quantas vezes falei sobre fumar. Eu não fumo! Costuma fazer isso socialmente quando era mais jovem mas nunca fui um fumante sério, e então, quando o disco estava pronto, percebi: Deus, falei sobre fumar em, tipo, todas as músicas.

É tudo sobre mim e minha experiência de vida; devo dizer que eu tendo a escrever muito sobre determinado período. Minha vida [agora] é muito legal, sou casado e tenho filhos, dirijo uma minivan, levo meus filhos para treinar futebol, vivemos em uma vizinhança legal e tudo o mais, e eu não estou super inclinado a escrever sobre isso. Eu nem sei como escrever sobre isso.

Tendo a escrever sobre as épocas mais caóticas da minha vida. Lembro de dizer ao Peter Case, que é um grande compositor, “eu sempre escrevo sobre esse período da minha vida, do final da minha adolescência até o final dos meus vinte anos, seja qual for a razão eu sempre vou para essa época” e ele disse “do que você está falando? Nós vivemos na época mais caótica e interessante da história da humanidade, como você não consegue escrever sobre as merdas que estão acontecendo agora?”

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

Você já teve algum emprego comum?
Já tive todos os trabalhos mais fodidos que você possa imaginar. O pior de todos foi lavador de louças em um restaurante. Éramos eu e mais uns ex-presidiários, eu tinha 15 anos. Odiei tanto o trabalho que nem voltei para pegar meu pagamento!

Minha mãe era uma oficial de justiça, e quando eu fiz 18 anos ela disse, “consegui um trabalho pra você no departamento de justiça”. Ela me ajudou a conseguir um emprego como escriturário e foi uma mudança muito grande na minha vida, porque eu consegui guardar dinheiro suficiente para comprar um amplificador e investir meu primeiro mês de seguros em um apartamento em Los Angeles.

Isso me impulsionou a sair de casa e também me deu essa peculiaridade de trabalhar em um escritório. Eu me lembro que nessa época eu ganhava 10 dólares por hora achando que eu estava indo super bem, pagando o aluguel. Então muitos dos meus amigos não tinham empregos e não conseguiam, mas eu sempre tive um emprego, eu era o cara que saía todas as noites e ainda ia trabalhar às oito da manhã.

Seus pais te apresentaram à música country?
Não. Minha mãe gostava de James Taylor, Fleetwood Mac e coisas do tipo. Meu pai foi quem nos apresentou às coisas boas; ele gosta de Dylan e dos Beatles, Stevie Wonder e Bob Marley. Sinto que ele nos colocou no caminho certo, mas na verdade foram meus irmãos mais velhos que eu segui musicalmente e nós não ouvíamos country de forma alguma.

Quando minha mãe era criança, a música country estava em toda parte, então esta não foi minha experiência. Mas haviam resquícios que eu nunca notei quando criança e só quando eu já era adulto e comecei a ouvir Bob Dylan e Merle Haggard que eu me dei conta: caramba, quando eu fui ao Palomino ver o NOFX, ele era esse velho bar famoso em Los Angeles. Ou quando eu fui a Foothill ver o Jawbreaker, achei que só fosse um bar velho e ferriado, não sabia a história desses lugares.

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

O que o levou a reconhecer esses músicos?
Sempre existiram vestígios deles no cenário punk, bandas como o Ex que trariam muito das músicas raiz. Quando me mudei pela primeira vez para LA, havia o Burgundy Toom, sempre com um contingente Rockabilly ou música Swing. Eu amava tudo aquilo, mas não foi meu primeiro amor. Tudo que fosse antigo ou retrô, Frank Sinatra, que seja, me atrairia.

Lembro de comprar um disco da Patsy Cline quando tinha 18 anos e me mudei pra LA, e Johnny Cash e Hank Williams realmente me atraíram. Foi um pouco mais tarde, quando eu estava na No Use for a Name, que o cantor realmente gostava de country dos anos 90, Ryan Adams e Whiskeytown, Old 97’s, eu amava todas essas bandas, e foi isso que me colocou nessa estrada.

Sua abertura para o show do Water Rats de hoje é o britânico Sam Palladio, famoso por seu papel na série de música country Nashville. O quão familiar você está com a crescente popularidade da música country no Reino Unido?
Sempre ouço isso, sim, é bom ouvir. Essa série, mesmo que deva ser uma Nashville convencional, muitas músicas em comum com Americana. Eu acho legal que a série está mostrando às pessoas o que eu penso ser o melhor lado da música country. O country moderno é mais música pop, mais acessível, e há também o mais desconhecido. Eu tendo a preferir o mais desconhecido.

A música country moderna convencional é um dos últimos sacos de pancadas deixados para as pessoas tirarem sarro, e é um pouco injusto, mas as coisas que eu escuto são country clássico e as mais atuais como Stapleton, Jason Isbell, Lucinda Williams, estes são os que me atraem.

Chris Shiflett & Sam Palladio @ Water Rats (Kalpesh Patel)

Há alguma coisa que você faça quando está gravando e que te ajude a não fazer nada que tenha uma sonoridade perigosa ou discos de várias faixas e com pegadas mais populares?
Ah, definitivamente. No meu disco, a coisa mais importante é que todas as faixas básicas são ao vivo com baixo, bateria, Cobb no violão acústico e eu na guitarra elétrica e cantando também; alguns dos vocais nós utilizamos, mas a maioria são recortados depois. Além de nós quatro tocando e gravando tudo dessa forma, nós não usamos estalos, então não há nenhuma faixa com estalos e isso cria um disco com sonoridade muito diferente, dá aquela sensação de “ao vivo em uma sala” que tem sido retirado da maior parte das músicas modernas. Acima de tudo nós não ficamos loucos para criar camadas, colocamos alguns teclados aqui, uns metais ali, e eu coloquei umas faixas adicionais de guitarra.

A razão pela qual eu quis trabalhar com Dave Cobb é porque sou um grande fã do seu som, e queria sua influência no meu disco. Quando meu instinto me disse para resistir a algumas sugestões, realmente tentei e fico feliz por ter conseguido. Cobb foi o cara mais importante em termos de influência.

Como era o estúdio? A gravação foi feita rapidamente? Porque imagino que você estava ocupado em turnê.
Bem, eu não estava no verão passado. Tive um tempo de folga e minha esposa estava levando meus filhos pra fora da cidade pra visitar a irmã dela na maior parte daquele período também, e eu não fui com eles, então tudo se encaixou. Ir passar algumas semanas em Nashville foi um paraíso. Eu nunca tinha ficado tanto tempo lá e realmente gostei. Me permitiu estar totalmente, 100% dedicado ao meu disco, isso foi tudo que eu fiz. Eu não saí para ver bandas; apenas acordava todos os dias e o que quer que fosse que estivéssemos trabalhando naquele dia, eu estaria pensando nisso antes de ir para o estúdio.

A forma como o Cobb trabalha é diferente. Normalmente, você entra no estúdio e fica “vamos, vamos, trabalhem, trabalhem, temos que improvisar o máximo que pudermos”. Mas ele não trabalha assim, ele diz: “Vamos começar no um”. Nós entraríamos lá, nos divertiríamos por algumas horas, comeríamos, beberíamos café e então começaríamos a trabalhar. Terminávamos uma música e ele diria “vamos ao Carter Vintage ver guitarras”. No último em que estive lá, às duas da tarde, terminamos a última mixagem e o álbum estava pronto.

Você tem uma faixa preferida no álbum?
Ultimamente minha favorita é a faixa-título. É a música que mais mudou desde a versão demo que fiz; nós a transformamos em algo muito diferente do começo e, liricamente, é a mais próxima ao meu coração. Sou apenas eu descrevendo minha infância. Eu cresci nesta casa na Salinas Street como é dito na canção, a casa ao lado era esse clube chamado “The Brown Sensations” e todo fim de semana eles faziam festas com música Mariachi. Eles me deixavam doido porque eu ficava acordado a noite inteira, e é disso que eu estou falando [na canção].

Isso te leva a um ponto de sua vida no qual você gostaria de começar a documentá-la?
De certa forma, eu nunca pensei nisso, mas tenho certeza que sim. Eu estava inspirado por uma música do David Allan Coe e queria escrever uma canção sobre minha cidade natal, porque quando mais velho eu fico, mais eu amo minhas origens. Minha esposa e eu conversamos sobre isso o tempo todo porque ela é de Santa Barbara também e nós queremos nos mudar de volta para lá, apenas não resolvemos isso ainda.

Eu tentei escrever algumas vezes e tentei basear [a canção] na música de David Allan Coe, que tem um tom lírico muito diferente, e simplesmente não conseguia. Há um verso no refrão: “Nós não brincamos em serviço” e eu considerei aquilo totalmente sem relação. No boxe, há um lutador chamado Canelo Álvarez, e ele vai lutar com esse cara, o Triple-G (GGG) na primavera. Ele estava sendo entrevistado e perguntaram, “quando você vai lutar com o GGG? Você está evitando a luta?” e sua resposta foi, “No México, nós não brincamos em serviço!” e eu pensei que deveria usar isso na música, então roubei dele.

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

Quando o garoto de Santa Barbara começa a ir para os estados do Sul, você é bem aceito pelos moradores de lá?
É engraçado, eu percebi isso na primeira vez que fiz turnê no Sul dos EUA, nós crescemos com todos esses estereótipos ─ eu cresci assistindo Dukes of Hazzard, Hee Haw e coisas assim ─ e você acha que sabe o que é o Sul. Mas quando você realmente vai para lá, é radicalmente diferente. A grande divisão em nosso país é mais entre cidades e áreas rurais. A cultura do Noroeste Pacífico não será a mesma cultura que você encontrará no Texas. Muita coisa mudou agora por causa da globalização e da tecnologia, então tudo fica muito parecido. Mas eu gosto de diferenças regionais, gosto de ir para o Sul.

Por um milhão de vezes na vida eu saí com pessoas que tinham diferentes visões políticas, mas o que você aprende disso tudo é que o que mais nos divide são as aparências, e quando você está face a face com pessoas com as quais você tem mais coisas em comum e é muito mais fácil encontrar pensamentos afins, não chega nem a ser fácil, é natural.

Eu acho que, para pessoas como eu, que acompanham a política de perto e pensam muito nessas coisas, você tende a pensar que todo mundo é 8 ou 80, mas a maioria das pessoas não são como na música. Eu sou um músico, cresci como um amante de música esnobe e cheio de opinião e pensando que se você gosta desta coisa, então você não pode gostar dessa outra. Mas a maioria das pessoas não dá a mínima, seus discos ao vivo do Duran Duran ficam alegremente ao lado dos discos do Iron Maiden e eles não se sentem em conflito.

Você é pai de três crianças com uma rotina imensamente ocupada, fazendo turnês pelo mundo. Eu mesmo, que me tornei pai há pouco tempo, estou me esforçando para encontrar tempo para essas responsabilidades e também para mim mesmo. Como você arranja tempo para fazer todas essas coisas, como ficar com a sua família e também se dedicar um pouco a você, longe da música?
Eu não tenho tempo para mim, essa é a primeira questão! È realmente difícil e desafiador. O bom de estar com a família é que, não importa o quão ocupada a música seja, nós temos grandes intervalos de tempo nos quais eu posso ir para casa e ficar com meus filhos. Eu sabia que partiria [para essa viagem] e nós fomos acampar no fim de semana com várias outras famílias. Na maior parte do tempo eu diria para a minha esposa, “você está louca? Sair para acampar no fim de semana anterior à minha partida?”, mas nós fomos e foi incrível.

O que é realmente desafiador é arranjar tempo pra se sentar despreocupado e ficar um pouco no seu espaço mental criativo. Fiz o West Coast Town no verão passado e você passa tanto tempo com todas as outras coisas envolvidas em lançar um disco, como a arte final e coordenar o lançamento com a gravadora, e essas coisas me afastam da escrita. Faço podcasts e isso consome muito tempo também.

Chris Shiflett @ Water Rats (Kalpesh Patel)

Você aprendeu alguma coisa específica durante suas conversas com músicos nos seus podcasts que você possa aplicar praticamente na sua própria música?
Não! E essa é a parte engraçado. Eu sempre pergunto às pessoas sobre seus processos de escrita por curiosidade, porque eu amo ver o que outras pessoas fazem, e eu descobri que todo mundo tem uma resposta diferente e ninguém consegue realmente articular o que estão fazendo.

O mais importante é que se você sentir, há uma chance de que mais alguém sinta também. As músicas que eu considero as melhores em qualquer disco que eu faça sempre parecem ser as que todo mundo também considera, então deve haver algo nisso.

Você estará no Glastonbury semana que vem. Podemos esperar algum material do West Coast Town, talvez em algum lugar como o estádio Avalon, que é focado na música folk?
É minha primeira vez, nunca estive lá! Pensei em fazer isso, mas olhei na programação e decidi não fazer, não parecia certo. Eu adoraria voltar e fazer isso, entretanto.

Chris Shiflett (Kalpesh Patel)

“West Coast Town” foi gravado no famoso estúdio RCA Studio A, em Nashville, e está à venda no SideOneDummy Records.

Os Foo Fighters começaram seus festivais de verão no dia 16 de junho, no Secret Solstice Festival em Reykjavik, e depois no palco PYramid no Glastonbury, no dia 24 de junho, depois de participaram dos festivais Open’er, Roskilde, Rock Werchter, Mad Cool e o próximo será o NOS Alive. Depois, partem para o Japão, Coreia do Sul, Tailândia e Cingapura.

 

Fonte: RockShot
Entrevista com Chris Shiflett e fotos por Kalpesh Patel no dia 14 de junho de 2017.
Tradução: Giovana Moretti