O Foo Fighters está comemorando seu 20º aniversário este ano, então Dave Grohl resolveu revelar algumas gravações interessantes da época na qual a banda começou para um lançamento especial do Record Store Day, que deve sair ainda este mês. O lançamento em vinil de 10 polegadas, “Songs From The Laundry Room”, contém demos dos singles do Foo Fighters “Alone + Easy Target” e “Big Me”, bem como um cover da música “Kids In America”, de Kim Wilde, e a inédita “Empty Handed”. Além disso, Grohl foi nomeado como embaixador do Record Store Day 2015 – o evento acontece no dia 18 de abril – por isso ele diz que cavou fundo para fazer com que este lançamento fosse único.
“Havia um garoto que morava não muito longe de mim e ele tinha um estúdio de quatro faixas na lavanderia da casa de seus pais, seu nome era Barrett Jones”, diz Grohl à Rolling Stone, explicando que as gravações datam de seus dias tocando em bandas punk de Virginia. “Ele era dois anos mais velho que eu. Mas ele era o cara que comprou o equipamento e começou a descobrir como gravar todas as músicas de seus amigos. Então, a primeira vez que gravei algo na vida, foi com Barrett”.
Grohl lembra-se que estava em uma banda chamada Freak Baby. “Eu acho que colocamos os instrumentos em seu quarto e a sala de controle estava na lavanderia, no porão da casa de seus pais. Por esse motivo, ele era a nossa cara. Ele era o Quincy Jones de Arlington, Virgínia.” Grohl ri, e diz o nome de todas as bandas que ele participou e que gravaram com Barrett Jones: Mission Impossible, Scream, Dain Bramage, Nirvana.
“No início dos anos noventa, eu me mudei para Seattle, e então ele veio também e conseguimos um lugar para morar juntos”, diz Grohl. “Então, eu tinha esse estúdio de oito faixas no porão da minha casa, ia lá embaixo toda vez que eu chegava em casa de turnês e ele e eu gravávamos algumas músicas. É assim que o Foo Fighters começou, de verdade.”
Arte do EP “Songs From the Laundry Room”
Ao longo do processo, Grohl manteve todas as gravações para si próprio. “Eles eram um experimento para eu me divertir”, diz ele. Além disso, era fácil de mantê-las em segredo, afinal ele era o único músico que tocava nelas. “É engraçado porque eu não ouço algumas dessas músicas desde a época em que as gravei”, diz Grohl. “Quando fomos ao Barrett para o episódio de Seattle de Sonic Highways, ele estava tocando algumas músicas que eu havia gravado, porra, sei lá, há uns 25, 26 anos atrás? Eu tinha músicas que eu nem me lembrava de ter gravado, o que é estranho. É quase como ver uma foto de si mesmo, desmaiado e bêbado em uma festa. Você está ouvindo uma música tipo, ‘Oh, meu Deus, o que eu estava pensando?’”, Grohl ri novamente. Eventualmente, Jones coproduziria o primeiro álbum do Foo Fighters.
Grohl diz que as gravações do Laundry Room eram apenas um hobby e nunca quis levá-las a sério. “Foi apenas algo que eu fazia entre as turnês do Nirvana”, diz ele. “No momento em que o Nirvana acabou, eu tinha, sei lá, 20, 30, 40 dessas gravações que ninguém nunca tinha ouvido falar. Há muito mais do que apenas aqueles músicas [do EP do Laundry Room]. Eu acho que as músicas que escolhemos para o álbum do Record Store Day foram talvez escolhidas dentre 15 ou 20 outras que ninguém nunca ouviu falar”.
O Laundry Room contém uma música que ninguém nunca ouviu falar – “Empty Handed” – e Grohl descreve-a mais como um experimento em cantar, tocar guitarra e compor. “Eu nunca tinha sido o vocalista de uma banda e eu nunca tinha sido o principal compositor de uma banda”, diz ele. “Então, para mim, era apenas esta experiência privada, não é algo que eu queria que muitas pessoas ouvissem, porque eu não gostava muito da minha voz”.
“Quando você está em uma banda com o maior compositor da sua geração, você não quer ser o cara dizendo: ‘Olhe para as minhas músicas, também’”, continua ele. “Então eu as gravava e deixava de lado. Mas foi divertido de fazer. Eu gravei coisas e as apaguei. Às vezes é apenas para se divertir praticando e gravando. É uma sensação boa.”
Quando a Rolling Stone pergunta sobre seu papel como o embaixador do Record Store Day, Grohl suspira e diz: “O quão louco é tudo isso?” Quando os organizadores do evento o chamaram e perguntaram se ele assumiria o papel, sua resposta foi um entusiasmado, “Foda-se, sim, vamos fazer isso!”
Selo oficial de embaixador do Record Store Day
“Eu sou dessa geração mais tardia do vinil, que pedia meus álbuns por correio, por meio de fanzines punks em todo o mundo”, diz ele. “Eu mandava US$3,50 e um par de carimbos e depois esperava dois meses e recebia um single, como o do Headcleaners da Suécia ou da Necros de Ohio. O vinil, para mim, foi uma forma de arte muito preciosa, porque você pegava estes álbuns e eles eram todos feitos à mão. Ir a uma loja de discos e folhear caixas de álbuns de grandes gravadoras de anos atrás ou de hoje é divertido. Mas quando você pede algo de uma organização independente, que é realmente feito à mão, quero dizer, você sabe que a cantora da banda montou o encarte em seu quarto, enfiou-o em uma luva, lambeu os selos e o enviou para você – o que, para mim, era legal pra caralho. Isso estava acontecendo do lado de fora do sistema.”
Grohl diz que um dos primeiros discos do punk que ele comprou foi diretamente do vocalista da banda de hardcore crossover D.R.I., em um show no Rock Against Reagan, no feriado de Quatro de Julho. “Esse show, eu acho, foi em 1983, nos degraus do Lincoln Memorial”, diz ele. “Era um sete polegadas com 22 canções. Comprei-o do próprio vocalista, na parte de trás da van deles. E eu ainda tenho o disco. Para mim, isso é o que o vinil representa: a tangível e romântica experiência de segurar em suas mãos algo que alguém se esforçou muito e levou muito tempo pra fazer.”
Ele até descreve isso como grande arte. “Para mim, é como uma escultura ou uma pintura na parede”, diz Grohl. “É algo que alguém fez com a porra das próprias mãos. Quando eles me perguntaram se eu poderia ser o embaixador do Record Store Day, eu pensei: ‘Claro’. Passei muito tempo nesses lugares.”
Matéria original: “Dave Grohl on Digging Up Never-Before-Heard Songs for Record Store Day“, 9 de abril de 2015. RollingStone.com
Tradução: Stephanie Hahne