Dave Grohl fala sobre o fim de Sonic Highways e críticas ao projeto

“Não tive muitos momentos refletivos nos últimos oitos meses,” Dave Grohl disse à Rolling Stone um dia antes do final de sua série, “Sonic Highways”. Mesmo com o Foo Fighters viajando por oito cidades dos EUA para contar suas respectivas histórias musicais, Grohl já tem o próximo trabalho da banda planejado.

Mas com a première do último episódio da série e o show de 2 horas e meia da banda no Irving Plaza, em Nova York, Grohl tirou um tempo para falar sobre a recepção de “Sonic Highways,” revelar seus sonhos no Smithsonian e responder às críticas ao último álbum da banda.

Em entrevistas – assim como em shows – Grohl é mais um homem sério do que um rockstar debochado; o filho de um repórter de Washington D.C. que diz que “está no meu DNA gostar de sentar e conversar com as pessoas sobre as experiências delas”. O vocalista compartilhou algumas dessas experiências nesta entrevista.

Quando você concebeu o “Sonic Highways,” você ficou nervoso sobre como ele seria recebido? O quanto era para agradar os fãs de Foo Fighters versus as pessoas interessadas na história musical daquelas cidades?

Eu nunca questionei isso. Eu pensei, “Isso é algo que as pessoas vão apreciar sendo fãs de Foo Fighters ou não. É algo que esperançosamente vai inspirar as pessoas a se apaixonarem por músicas assim como fizeram aqueles nos episódios.” Então eu não estava nervoso ou assustado, mas também não tinha ideia de como daria trabalho.

Eu conseguia imaginar e ver aquilo na minha cabeça e sabia onde eu queria chegar. Mas eu realmente não vi a imagem e todo o escopo do projeto até meses atrás, quando editamos o primeiro episódio. Eu pensei, “Oh meu Deus, conseguimos!” e alguém disse: “Você tem mais sete.” Eles iam chegando. A quantidade de informações, histórias e como todos são inspiradores me deixaram surpreso e eu não poderia estar mais feliz, ou mais necessitado de um bom sono. Eu realmente não sei se eu sabia onde eu estava me metendo.

 

Você já havia dirigido um documentário, o “Sound City”. O que você aprendeu ali que pode aplicar à nova série?

Eu sempre estou aprendendo. Você sabe que eu não tenho ideia alguma do que estou fazendo, certo? Eu tive aulas para isso. Eu não sei como ler música. Eu não tive aulas de guitarra ou bateria. Eu abandonei o ensino médio. O que eu sei? Se eu juntasse todas essas pessoas entrevistadas na série em uma mesa para jantar e nós sentássemos e conversássemos sobre nossas vidas musicalmente, as histórias das cidades de onde viemos, a cultura e como isso nos afetou como pessoas, seria quase a mesma coisa. No final da noite, chegaríamos a uma conclusão e essa seria a música.

 

“Estou sempre aprendendo. Você sabe que eu não tenho ideia alguma do que estou fazendo, certo?”

 

A vibe de muitas das entrevistas é como se fosse dois músicos falando sobre isso.

Quando me sento para entrevistar pessoas, eu não levo perguntas e não sei as respostas. Eles são mais como as conversas que se tornam lições. Você apenas continua perseguindo a cenoura e pensando: “Eu vou pegá-la, eu vou pegá-la.” Você nunca a pega. Quando você está sentado frente a frente com Dolly Parton, você não está pensando em montar uma música ou em uma cabine de edição. Você está apenas olhando para Dolly Parton e dizendo: “Oh meu Deus. Eu não posso acreditar que eu estou sentado em seu ônibus de turnê agora.” É a visão do túnel.

 

Photo: Andrew Stuart

 

Mas ainda tem um elemento musical nerd na série. Foi consciente ou mais como se tivesse acontecido em cada episódio?

Uma das coisas que eu aprendi fazendo todas essas entrevistas é que todos os músicos no programa são nerds. Começa com essa centelha de inspiração que se torna uma paixão e a direção da vida deles. Todo mundo está ligado por esse mesmo sentimento. Não há muitas pessoas que decidiram: “Bem, eu não acho que quero me tornar um contador, eu acho que eu vou ser um rockstar.” É algo que queima dentro deles. Quando você tem dois músicos juntos, conversando sobre música, é fácil. Se eu tivesse que entrevistar alguém sobre a indústria automobilística, simplesmente não iria funcionar.

 

O quanto você gravou que não foi para o episódio final? Você tem planos com esse material que não foi usado?

Cara, nós temos 1.300 horas de cenas adicionais. Temos um monte de coisa. Ligamos no Smithsonian e fizemos uma exibição lá. Se eu consegui o Smithsonian para reconhecer o que estamos fazendo, talvez um dia você será capaz de entrar em um museu no Mall e ver uma exposição de Sonic Highways. Esta é a história americana e é isso que o Smithsonian representa. Eu acredito que a história da música americana é tão importante quanto qualquer político, porque ela mudou gerações de pessoas. Então, eu imaginei que pudesse acontecer. Se você plantar qualquer semente na minha cabeça, eu vou a cultivar até que nasça algo daquilo.

 

Se você soubesse que teria tudo isso de gravação, acha que teria ficado menos animado para o projeto?

Parte da animação é não saber o que vai acontecer ou como você vai fazer. E você acabou de descobrir isso ao longo do caminho. Quando éramos crianças em Washington, D.C. tentando lançar nosso primeiro single, foi a mesma coisa. Estávamos ouvindo conselhos de nossos amigos que tinham feito isso antes, mas no final nós estávamos começando do zero e o fazendo nós mesmos, e eu me sinto da mesma forma quando tenho uma ideia.

 

Edição foi a coisa mais difícil de aprender?

Sim, estávamos tentando reduzir todas essas informações de todas essas pessoas em cada cidade para um episódio de uma hora. É praticamente impossível. Basta sentar e assistir a uma dessas entrevistas completas, é suficiente para mudar a sua vida. Assistir a entrevista do Chuck D do começo ao fim, se isso não faz você querer começar uma banda, eu não sei o que dizer.

 

Photo: Andrew Stuart

 

Quando você sentiu que o projeto estava maior do que você imaginou?

Houve apenas alguns momentos onde essa ficha caiu. Houve um momento antes de eu apresentar o episódio de estreia no Ed Sullivan Theatre, onde reunimos um grupo de pessoas da HBO, amigos e jornalistas. Eu estava em pé ao lado do palco com o microfone, e eu pensei: “Oh meu Deus, isso está realmente acontecendo agora? Eu não posso acreditar que isso é real.” E aquilo durou cerca de 30 segundos. E no outro dia eu estava vendo alguns clipes do episódio final que mostramos em alguns dos programas de TV que nós estávamos fazendo esta semana e eu estava sentado no estacionamento de um Rite Aid depois de comprar novos óculos de leitura.

 

Essa é a coisa menos rockstar que você poderia fazer.

Essa é a minha vida. O que você vai fazer? Mas eu fiquei realmente emocionado quando eu assisti esses clipes do final do episódio final, porque é pesado. Eu mandei um e-mail para uma pessoa com quem eu trabalho e que esteve no projeto durante esses dois anos, e disse: “Eu estou vendo esses clipes e estou muito emocionado, porque eu não posso acreditar que nós realmente conseguimos,” e a resposta a esse e-mail foi “Parabéns, chorão.”

 

Por que você decidiu terminar a série em Nova York?

Este lugar é diferente de qualquer outro. Tudo o que falamos em toda a série tem uma conclusão aqui, porque Nova York tem tudo, seja falando de inspiração ou comunidade ou indústria ou gentrificação ou criatividade ou sobrevivência ou começar de novo. Todos esses são temas dos episódios anteriores, mas todos eles têm uma conclusão aqui. Simplesmente não há como contar a história da música de Nova York em uma hora, mas é pra ser como um ponto de exclamação. A conversa se transforma em algo muito mais profundo do que apenas a comunidade da música no final do episódio, que eu acho que resume o que temos dito durante toda a série.

 

No episódio de Nova York, Steve Rosenthal, dono do estúdio de gravação do Magic Shop, discute como o seu banco se preocupa mais com “os últimos 60 dias” do que com as décadas dele como proprietário do estúdio. Por que isso foi importante de incluir?

Ele estava me contando a história de sua mãe, que eu acho que era dona de uma loja de material de beleza no Bronx, e sempre que ela estava com problemas financeiros, ela ia ao banco pedir ajuda e o banco realmente a ajudava. Era de pessoa para pessoa a comunidade e todos entendiam a importância de ajudar uns aos outros. E isso era algo que realmente fez uma impressão em mim e a ideia de comunidade se tornou uma grande parte da série.

Steve foi uma das primeiras entrevistas que fizemos e que a conversa teve um impacto sobre mim e sobre o arco de toda a história. Porque o que eu aprendi é que todas essas pessoas – desde Dolly Parton para Joan Jett para Chuck D para Duff McKagan para Ian MacKaye – são todos parte de uma comunidade musical. Pode parecer loucura que essas pessoas de diferentes cidades e diferentes gêneros estejam conectadas, mas eu realmente considero que seja uma comunidade de músicos, e eu acho que isso é importante.

 

Você acha que o senso de comunidade está perdido nos dias de hoje?

As pessoas deveriam perceber, especialmente a nova geração de músicos, que você não pode nada sozinho, e que a cena musical do seu bairro, escola ou banda de garagem é importante. Isso é apoio. A ideia de pessoas se juntando para fazer algo juntas é muito importante. Você não pode simplesmente ir até um microfone e ser repreendido por um bando de celebridades porque você não é bom o suficiente para cantar. Não funciona dessa forma. Eu não quero soar como um nerd, mas esse conceito de faça você mesmo é muito legal.

 

Você entrevista o Presidente Obama no último episódio. Como é o conhecimento dele sobre o rock?

Ele ama música. Ele ama Stevie Wonder, ele adora Paul McCartney, ele ama Bob Dylan, ele ama os Rolling Stones, e ele é experiente. Nós conversamos por 45 minutos e no episódio talvez apareçam apenas 5. Ele queria falar sobre música e eu queria falar sobre a América. Ele é um bom cara, então foi legal.

 

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Você não havia trabalhado com alguns dos colaboradores de “Sonic Highways” antes. Você ficou preocupado de não dar certo com eles ou de não gostar da colaboração deles?

Primeiro de tudo, isso nunca aconteceu, então eu tenho muita sorte. Nós escolhemos as pessoas [para o álbum] que nos sentimos semelhantes, mas cheguei a um lugar em minha vida onde eu sou muito mais livre criativamente do que eu era antes. Eu costumava segurar esta banda com punho de ferro e dizer coisas como: “Isso não é o que eu imaginava que aconteceria!” Esse aperto afrouxou agora para que a deixe ser o que deve ser. Seja o Rick Nielsen entrando e tocando um solo de barítono que soa como Napalm Death ou Gary Clark Jr. tocando um blues do fundo da alma, eu convidei essa pessoa a entrar em meu mundo. Eu só quero que eles sejam eles mesmos e eu posso sentar e fazer isso agora. Eu não acho que eu poderia ter feito isso há 20 anos.

 

Você acha que esse projeto vai influenciar o som da banda a evoluir?

Nós só fazemos o que achamos certo. Se algo parece forçado ou artificial, então descartamos. A coisa mais importante em todo esse projeto é que continuamos a ser o Foo Fighters. Eu não queria torna-la uma banda de tributo e eu não quero que soe como uma fita de compilação da banda de bar que toca pela rua toda sexta-feira. Eu queria que tudo isso viesse a nós por algum tipo de osmose musical; não alguma colagem estranha de sons que não pertencem a nossa banda. A experiência definitivamente nos mudou pessoalmente e emocionalmente como pessoas e é aí que a música deve vir. Ela não tem que vir de uma lição de algum virtuoso de Nashville. Ela deve vir para você através de como você se sente e nós definitivamente atingimos isso.

 

“Em Nashville, eu entrei na sala de controle e todo mundo estava usando uma porra de um chapéu de cowboy. Eu fiquei tipo: “Gente! Não! Parem! Ainda somos o Foo Fighters. Não se esqueçam disso.”

 

Algumas resenhas sobre o álbum questionaram o porquê da banda não ter incorporado o estilo musical de cada cidade em suas respectivas músicas.

Olha, essa foi uma das primeiras conversas que tivemos quando começamos este projeto. Eu explicava a ideia e alguém dizia: “Ah, legal. Então você vai fazer uma canção de blues? Você vai fazer uma música country em Nashville? Você vai fazer jazz em Nova Orleans?” E eu pensei: “Você pode imaginar o fiasco que essa porra seria?” Eu disse: “Você tem que lembrar que nem todo mundo tem HBO e vai ver a série.”

Então, em primeiro lugar, temos que fazer um álbum do Foo Fighters. É isso aí. E eu realmente lutei para manter isso. Em um ponto, em Nashville, eu entrei na sala de controle e todo mundo estava usando uma porra de um chapéu de cowboy. Eu fiquei tipo: “Gente! Não! Parem! Ainda somos o Foo Fighters. Não se esqueçam disso.” Eu acho que talvez as pessoas tenham entendido mal o conceito e acharam que iríamos incorporar todos os gêneros diferentes de cada cidade, e, para mim, isso não faz nenhum sentido, porque a última coisa que eu quero fazer é ir atrás de algo que não é real.

 

Você acha que soaria inautêntico?

Porra, cara, somos uma banda de jazz? Somos uma banda country? Porra, não. Nós somos o que somos. Entregue um instrumento a cada um de nós e diga: “Vá”, e isso vai soar como a banda – que é o que nós fazemos. Nunca foi minha intenção perseguir algo que não está lá. Assim, nós fazemos o que fazemos fiel e alegremente. Acredite em mim, eu li alguns dos comentários, e eu estava tipo, “Ah, cara, eles não entenderam. Eles pensaram que íamos tocar a porra do jazz tradicional de Nova Orleans.” Imaginem esse tipo de resenha, minha nossa.

 

Você ainda lê as resenhas de cada álbum que sai?

Você fica tipo, “Hey, eu fiz essa coisa! Foda-se, eu mal consigo esperar para as pessoas ouvirem isso! Estou tão orgulhoso disso. Foi um prazer fazê-lo.” Você fica animado e então você percebe que as pessoas realmente não o entenderam, em primeiro lugar. Então você fica tipo, “Ah, foda-se.” É uma daquelas coisas que depois de 20 anos, nada vai nos impedir de fazer o que fazemos. E não há muito para nos desencorajar a partir do caminho que temos tomado por tanto tempo. Olha, se algum cara com um blog diz que a banda estragou tudo porque não tocou uma porra de uma guitarra lap steel na nossa música em Nashville, e depois no mesmo dia que você esgota um show Wembley Stadium, em um dia, é tipo, “OK , bem, eu acho que estamos fazendo a coisa certa.”

 

Você já disse anteriormente que está planejando o seu próximo projeto. Como você o descreveria em uma palavra?

Maior. Sonic Highways acaba de abrir um novo mundo de possibilidades para a banda e para mim.

 

Fonte: Rolling Stone
Tradução: Stephanie Hahne