Foonel do Tempo: Dave Grohl ficou pistola com George Bush

Estamos de volta com o “Foonel do Tempo”. Para quem não sabe, esse quadro será quinzenal e, é para relembrar reportagens e entrevistas antigas do Foo Fighters que está em atividade desde 1995.

Para a nossa reestreia, traduzimos uma entrevista com Dave Grohl para a revista Zoo Weekly e a escolha dela deve -se ao fato de que, no dia 14 de Junho o álbum “In Your Honor” completou 13 anos de lançamento.

Nessa entrevista, Dave fala sobre o processo de gravação do álbum duplo, das participações especiais e também do ex presidente norte americano George W. Bush.
Esperamos que gostem.

“Bush estava usando nossa música em seus comícios, foi como ser estuprado”.

A Zoo bate um papo com Dave Grohl enquanto tenta consertar os erros dos EUA e explica porque música é melhor que sexo, cocaína… e até golf.

Não há dois lados nessa história. Dave Grohl é um Deus da música.
Ele foi o baterista e vocalista em duas bandas lendárias – Nirvana e Foo Fighters. Quantos outros bateristas você pode nomear que saíram de trás de sua bateria para alcançar o sucesso multi-platina no microfone, além de, hum, Phil Collins? Mas o careca que não paga impostos não acaba de lançar um álbum duplo impressionante chamado “In Your Honor”. Zoo encontrou Dave para falar sobre “Terapia de rock”, Norah Jones e como ele sonha em poder consertar seu próprio carro…

Faz uma década desde o primeiro álbum do Foo Fighters. Você achou que duraria tanto tempo?
Eu vejo a banda como um acidente porque começou como uma fita demo. Eu nunca pensei que estaria sentado aqui, 10 anos depois, falando sobre um álbum duplo. Mas parece uma evolução natural para mim porque está cada vez maior a cada dia. Há momentos em que você sente que é uma nova banda que acaba de fazer o seu primeiro álbum, e há momentos em que você se sente o cara mais velho do festival.

zooweekly dave grohl brushO que você faria se não estivesse no Foo Fighters?
Eu não sei. Eu costumava tentar imaginar a vida depois disso e estou começando a pensar que talvez não haja nenhuma. Talvez esta seja apenas a vida, seja por estar sentado, falando sobre um álbum duplo, ou aparecendo no final de semana no estúdio que construímos, 20 anos depois, fazendo um churrasco e gravando algumas ideias realmente ruins.

 

Você realmente ainda vai estar por aqui daqui a 20 anos?
Esse é o tipo de coisa que as pessoas costumavam perguntar quando começamos, e eu me lembro que em um ponto eu disse: “Eu vou parar quando tiver 33 anos.”, porque parecia uma boa idade para parar. Mas agora eu penso, por que deveria acabar? Ir em turnê é como sair de férias com sua família. Então, por que você não pode fazer isso pelo resto da sua vida?

A maioria dos roqueiros mais antigos estão em terapia para ajudá-los a lidar com o senso de realidade distorcido. Você já ligou para o psiquiatra?
Fui ver um terapeuta em Seattle quando Kurt morreu, e ele disse: “Você não mora no mundo real porque está sempre voando para lugares e tocando música na frente de todas essas pessoas, o que não é realidade “. E eu disse: “Vai se foder, cara. Quem você está querendo dizer que não é realidade? É parte de mim, é parte do que eu faço. Por que isso não deveria ser considerado uma realidade?”

O que você achou de Bush usando as músicas Times Like These e My Hero em sua campanha?
Quando soubemos que ele estava usando nossa música em seus comícios, foi como ser estuprado. Não foi um sentimento bom.

Você tentou fazê-lo parar?
Falei com meu advogado e tentamos mandar uma ordem para fazê-lo parar e desistir, algo que dizia: “Você não pode usar a porra da minha música”, mas havia brechas. Então pensei: “E se cobrarmos uma taxa de direitos autorais para que, toda vez que ele usar nossa música, ele tenha que dar seis centavos para a campanha de John Kerry?” Mas aparentemente isso não iria funcionar também. Então eu pensei que a melhor maneira de mostrar o que eu pensava era participar da campanha de John Kerry.

Como você se sentiu quando o Bush ganhou?
Eu fiquei muito irritado. Estávamos todos muito confiantes de que John Kerry iria ganhar.

Você sente que, como um ancião do rock, tem uma responsabilidade com a cena musical?
Nós somos culpados de fazer músicas pop felizes, mas agora, mais do que nunca, é hora das bandas se concentrarem em algo que realmente fará a música durar. Nós não somos a banda que vai mudar o mundo, eu entendo isso. Estamos aqui para criar algo que talvez possa abrir a cabeça de alguém, em vez de apenas fazer o dinheiro entrar na conta.

As letras de In Your Honor parecem mais sombrias do que os discos anteriores do Foo Fighters. Por que tão tristes?
No disco acústico, as letras tomaram um rumo para um lugar onde nunca estiveram antes, mas isso foi mais inspirado pela música em si. Nós fazíamos os instrumentais primeiro e criávamos a música depois. As letras são geralmente inspiradas pelo som da música e assim, com o disco acústico surgindo, e as vezes escuro e turbulento, influenciou a forma como escrevemos. Quero dizer, se você acabou de romper com sua namorada e quer afogar suas mágoas, você não escuta um disco de rock, não é? Você quer colocar algo como Neil Young e acalmar sua dor.

Além do Foo Fighters, você também toca com o Queens Of The Stone Age. Você é viciado em trabalho?
Bem, se você não considera isso como trabalho, então não é grande coisa. Eu imagino que todo mundo tem algo que gosta de fazer mais do que qualquer outra coisa – seja transando, jogando golfe, usando cocaína ou qualquer outra coisa – e se você puder fazer isso todos os dias, é ótimo. É assim que é com a música para mim.

Você tem a Norah Jones cantando em seu novo álbum. Ela não é um pouco sem graça para vocês?
Não, ela é incrível! Eu sei que todo mundo acha que ela é uma escolha estranha para um disco do Foo Fighters, mas quando você ouve a música, você entende. Eu não tinha percebido o quão talentosa ela era até que ela entrou no estúdio. Ela é uma música treinada que tem um perfeito, tom de voz, timing e um incrível senso de arranjo. Quando você está no mesmo local que alguém assim, mesmo que ela seja doce e modesta, você não pode deixar de dizer: “Oh meu Deus, ela é genial pra caralho!”

Qual é o apelo de colaborar com outros artistas?
Todo mundo tem seus próprios métodos diferentes. Gravação com Trent Reznor de Nine Inch Nails é diferente de gravar com Josh Homme de Queens Of The Stone Age. É ótimo se entrar na cabeça da vida de alguém por uma semana e depois voltar à sua própria realidade.

Quem vem em primeiro lugar, Dave Grohl, o Foo Fighters, ou ficar sendo o substituto para outras bandas?
Quando começamos a trabalhar, eu não saio para me prostituir com outras 20 pessoas, porque o Foo Fighters é sempre minha primeira prioridade.

Você tem alguma ambição não realizada?
Há mil coisas que eu queria saber como fazer e ter tempo pra fazer. Tudo, desde ter uma família até, “porra, eu gostaria de saber como consertar meu próprio carro”.

Texto: Karina Diaz
Tradução: Gabriele Automne

Fonte: FooArchive