Mas o líder e ex-membro do Nirvana Dave Grohl não dá a mínima para toda essas besteiras do show biz.
Vamos falar a verdade… Nenhum de nós esperava que o Foo Fighters fosse tão bom assim, não é? Veja, o antigo Dave era um tanto quanto desconhecido mesmo estando na banda mais brilhante e ardente dos anos 90. Então, quando ele formou essa nova banda chamada Foo Fighters, vamos ser sinceros, todos nós nos perguntamos o que ele realmente poderia fazer…
O álbum de estreia do Foo Fighters (de mesmo nome) é a coisa mais gostosa de se ouvir desde Nevermind. Compreensivelmente, Grohl está fazendo de tudo para evitar tais comparações. Assim como Pat Smear, o guitarrista que tocou ao lado de Grohl, Cobain e Novoselic na última turnê do Nirvana.
Mas, caramba, não tem como negar – ‘Foo Fighters’ é o álbum mais cantante, dançante e que faz todo mundo pular desde que Nevermind infectou uma geração.
Dave Grohl fez tudo que pôde para fazer as pessoas pararem de pensar que ele está bebendo da fonte do Nirvana e de Cobain. Ele tocou todos os instrumentos no disco Foo Fighters sozinho. Ele gravou o álbum em silêncio e sem frescuras. Ele evitou comentar sobre o lançamento do álbum com a Rolling Stone ou qualquer outra revista internacional. Ele evitou qualquer mídia com o objetivo de gerar um outro herói de uma geração.
E ele nem fala muito sobre isso agora. O álbum estreou com grande distribuição através de Capitol, mas com um selo chamado Roswell Records. E Dave Grohl está em turnê pelos EUA e Europa desde então com o largo sorriso de alguém que tem uma risada boa pra caramba.
St. Andrews é um pequeno e sujo saguão em Detroit. Ele cheira a música alternativa, e a sacada ao redor da pista de dança retangular viu, sem dúvidas, alguns mergulhadores em todo esse tempo.
“Sempre me espanta quando muitas das crianças que vêm para ver Foo Fighters têm camisas do Nirvana”, observa o jornalista da banda Anton Brookes.
Pat Smear está jogado num sofá manchado na área dos bastidores no andar de cima.
“Ah, eu estou odiando tudo”, ele suspira. “Os shows são ótimos, mas o resto é uma merda”.
Ele para e ri.
“Nãooooo, eu estou brincando. Foi ótimo, mas é que eu gosto de reclamar. Reclamar é um tanto quanto divertido”.
O baterista William Goldsmith está andando por aí em uma camisa do Melvins Fiend Club e calças brilhantes cor de laranja, estilo as dos lixeiros. Ou ele está na vanguarda da moda ou ele está se vestindo desastrosamente mal. É difícil dizer.
Dave Grohl está lá embaixo fazendo uma passagem de som. É a primeira vez que eu o vi na frente de tudo e tocando uma Les Paul. Ele parece confortável. Muito confortável.
Ele palheta ‘Shake A Leg’ do AC/DC. É discreta, sem barulho, mas significativa em termos de pura energia que a banda gastará mais tarde no palco.
“Hey”, ele grita quando nos encontramos lá em cima. “Como você está? Com fome? Tem uns grandes sanduíches pita aqui. Jennifer (na época, esposa de Grohl) e sua família são daqui e os trouxeram para nós…”.
Comparado a muitos que são miseráveis e dramáticos, Dave Grohl está agradavelmente descontraído e animado. Ele, no entanto, parece um pouco perplexo por ter tido um escritor da Rolling Stone em sua cola por quatro dias tentando fazê-lo falar sobre Cobain. Grohl recusou. Na verdade, Grohl está feliz em conversar com a maioria das pessoas, mas está relutante em fazer entrevistas gravadas para revistas.
“As pessoas esquecem que ainda há bastante dor lá”, suspira Anton Brookes e, embora Grohl nunca diga isso com essas palavras, é óbvio que Anton está certo.
Grohl diz o seguinte sobre o repórter da Rolling Stone: “Ele era um cara legal, mas ele insistia em dizer ‘Eu estou seguindo uma ordem, tenho que te perguntar sobre Kurt e essas coisas’. E eu continuava dizendo para ele, ‘Bem, eu não falarei sobre isso’. Digo, essas coisas são bem desagradáveis”.
Eu digo a Grohl que o álbum tem, se é que ele sabe disso, o mesmo tipo de vibe e animação na sua essência como ‘Nevermind’ tinha, independentemente do seu próprio envolvimento em ambos.
“Eu sei do que você está falando, mas é que…” sua voz se abaixa. “Vamos apenas dizer que eu espero que não”.
O que Dave quer dizer é que ele não está interessado em ir ao zoológico de novo depois que sua última viagem se tornou algo dramaticamente feio. Grohl está determinado em levar as coisas com o Foo Fighters de modo devagar, fazendo shows, deixando o tempo de lançamento do álbum propriamente dito o mais orgânico possível, evitando campanhas publicitárias. Qualquer coisa a mais parece assustadora para ele.
“Ter um empresário que consegue shows como o de hoje à noite para a gente e dinheiro suficiente para fazer o próximo show no outro dia é simplesmente fantástico”, diz ele. “É o suficiente agora. Digo, o que mais você pode querer?”.
Capitol Records, por enquanto, está perplexa por Grohl não dar nenhuma entrevista oficial para o álbum, mas depois eles terão os sinais dos dólares num piscar de olhos.
Anton Brookes e John Silva, empresário do Foo Fighters, recentemente tiveram uma série de encontros na Capitol Tower, em LA e a explicação deles para a carreira da banda ser mais “devagar e construída aos poucos” não foi recebida exatamente com muita alegria. Mas Grohl continua irredutível para que o desenvolvimento da banda leve o tempo necessário.
“É estranho”, diz Grohl e levanta os ombros, “mas essa turnê inteira parece com a primeira parte da turnê do ‘Nevermind’; o espírito, a atmosfera. Nós estamos tocando praticamente nos mesmos lugares”.
É óbvio que, dizendo isso, Grohl sente um certo desconforto simplesmente porque ele está tocando naquela palavra com ‘N’. Mas ele parece aceitar que sua vida imediata será uma série de comparações até a poeira baixar. Grohl se lembra claramente de como a fama do Nirvana saiu de controle, quando ele percebeu que a vida não seria mais normal.
“Foi na turnê de ‘Nevermind’, e eu costumava dividir o quarto com Kurt”, ele se lembra. “Uma noite, eu realmente queria fumar, então estava saindo para comprar cigarros quando Kurt disse “Não, não, agora nós podemos chamar alguém pra fazer isso!’. “Nós dois sabíamos como aquilo era absurdo, realmente sabíamos, e é por isso que nós estávamos sempre deixando as pessoas doidas com nossos atos; como, por exemplo, sair exatamente do jeito contrário que alguém pedia, encarando isso como um desafio. Fizemos isso por, pelo menos, um ano”.
Se tem uma coisa que é óbvia sobre Dave Grohl, é que ele não tem nenhum interesse em lucrar em cima do legado do Nirvana ou de Kurt Cobain.
Não haverá covers do Nirvana no set do Foo Fighters. Não houve entrevistas com aquelas historinhas para gerar comoção. E o ponto de vista de um gravador de fita seria tabu aqui.
De fato, a palavra ‘medo’ se rasteja ao meio da conversa quando Grohl está sendo investigado. Medo do sucesso enorme. Medo de ser visto como um aproveitador. Medo do desejo da mídia de criar outro ícone do grunge. E medo de perder aquela sensação maravilhosa e quase ingênua de diversão da qual Grohl está desfrutando agora.
Quando o Foo Fighters subiu no palco em Detroit, eles apresentaram um dos melhores sets que eu já vi em anos. Apenas como ótimo punk rock ao vivo deveria ser, cada música é um pouco mais rápida do que o normal. Fogos de artifício voam abundantemente no calor de 40º C.
São 50 minutos do entretenimento mais puro, cru e cativante que você não verá em lugar algum esse ano.
Dave Grohl é uma lenda viva. Sua sinergia natural com a guitarra é incrível. E suas explosões energéticas são ataques selvagens de entusiasmo que eu achava que estavam extintos em 1995 e proibidos pela “brigada das modinhas”.
O show é tudo que fez o punk rock se tornar grande. Depois do show, Anton Brookes garante que uma criança de quatro anos de idade chamada Angelo conheça Grohl e receba uma camisa assinada. Angelo tem uma bateria e, às vezes, toca seis horas por dia, seus pais orgulhosamente revelam. Grohl ri. Isso é muito mais do que ele já tocou e, de qualquer maneira – quando criança, Grohl foi um guitarrista.
Ultimamente, a mágica verdadeira do Foo Fighters é sua simplicidade. É poder punk pop na melhor das hipóteses. Sim, é frustrante que Grohl não queira gravar entrevistas, mas e daí? Ele está super feliz. E o fato de ele não estar vomitando superlativos pelos gravadores das pessoas é estranhamente legal.
Porque, com o Foo Fighters, o que você vê é realmente o que você recebe.
Fonte: Kerrang – 1995
Tradução: Elise Kanashiro