Em 2002, Dave Grohl deu uma entrevista sobre a música “Smells like a teen spirit” para a Revista Kerrang, e o FFBR traduziu para o direto do Foonel do Tempo. Confiram.
Kerrang! 2002
O que você se lembra sobre a composição de Smells Like a Teen Spirit?
Escrevemos essa música em janeiro ou fevereiro de 1991. Estávamos ensaiando em um celeiro no fundo de uma casa em Tacoma, Washington. Naquela época, estávamos experimentando a dinâmica de verso calmo e refrão alto, e muito disso veio do Pixies e do Sonic Youth. Ao invés de conversarmos sobre os arranjos, nós simplesmente tocávamos. Você sabia quando o refrão tinha que ficar maior e quando levar a música um passo a frente.
O que você achou da música inicialmente?
Não pensei muita coisa, pra ser sincero. Era só mais uma das que estávamos fazendo – tínhamos várias desse estilo, que gravamos e acabamos perdendo as cassetes e algumas músicas. Mas Teen Spirit sempre voltava a ser trabalhada, porque a linha de guitarra era tão simples e tão memorável. E então fizemos um show em Seattle, num lugar chamado Ok Hotel, para conseguirmos dinheiro pra gasolina, para irmos até Los Angeles gravar o álbum. Foi um show a tarde, tocamos a música pela primeira vez e o público foi a loucura. Não sei se é o ritmo da música, ou a melodia, mas as pessoas se ligaram nela muito rápido.
Você percebeu que seria um sucesso tão grande?
Em “Nevermind”, achei que Lithium ou In Bloom seriam o grande sucesso. Achei que Smells Like Teen Spirit fosse só mais uma música do álbum. Nós a gravamos muito rápido. Eu acho que foi uma das preferidas do Butch Vig, e acabou ficando claro que seria uma música especial no álbum. Você tem que entender, que naquela época, não pensamos que algo aconteceria com o disco – era como lançar um álbum do Jesus Lizard, ou algo do tipo. Não existia nenhum tipo de ambição de dominar o mundo, isso simplesmente não poderia acontecer. Eu achei que a música nos faria aparecer no “120 Minutes” da MTV, ou nos daria a chance de sair em turnê com o Sonic Youth, ou sermos os headliners do Brixton Academy, ou algo do tipo. Mas ninguém imaginou que seria um single de muito sucesso, era inimaginável.
Então foi estranho ver o rumo que a música tomou?
Sim. A parte mais engraçada foi ver o clipe na MTV. Estávamos fazendo uma turnê pela América, tocando em clubes para 300 pessoas. Nós ligaríamos a TV, e lá estava a música. A gente dava risada disso toda noite. Com o clipe, mais e mais pessoas começaram a aparecer e os clubes foram aumentando.
Você olha para a música como um ponto determinante na carreira do Nirvana?
Bom, essa música definitivamente estabeleceu a dinâmica “baixo/alto” na qual acabávamos caindo muitas vezes. E sim, virou a música que personifica a banda. Se isso é por causa do clipe, eu não sei. Naquela época, o clipe foi a chave para a música virar um hit. As pessoas ouviam a música na rádio e pensavam “Essa é legal”. Mas então os adolescentes viam o clipe na MTV e pensavam “Essa é legal, e eles são meio feios e estão quebrando uma escola”, acho que isso teve muito a ver com o sucesso.
Teen Spirit é mesmo a melhor música de todos os tempos?
Não acho que seja a melhor de todos os tempos, com certeza não. Não acho nem que seja a melhor do Nirvana. Fico lisonjeado por alguém pensar isso, e me sinto honrado por ter participado desse pequeno marco na história, mas me poupe, cara. Escute “Revolution” dos Beatles, ou “God Only Knows” do Beach Boys, essas sim. Smells Like a Teen Spirit foi um ótimo momento na história, mas tem coisa melhor.