Foonel do Tempo: Especial 23 anos do Foo Fighters

Foo Fighters 1995

Em Julho o primeiro disco do Foo Fighters completou 23 anos de lançamento e, desde então, Dave Grohl cedeu milhares de entrevistas. Com o Foonel do Tempo, temos a oportunidade de ler como era o pensamento de Grohl sobre a banda em 1995.

Com certeza, ele jamais imaginou o que Foo Fighters se tornaria mais de duas décadas depois.

“Não há muito que você possa fazer. Se você não quer que ninguém vá aos seus shows, então não faça um disco, não tenha uma banda. Fique no porão”.

Dave Grohl desliza seu corpo magrelo em seu novo Corvette e dispara. Ele abre um enorme sorriso enquanto o motor solta um ronco alto e continua em um grunhido constante. O veículo é um Coupe 1968 branco-creme, para ser preciso, com teto conversível e faróis retráteis e um interior de couro preto, e você não tem que provocá-lo sobre isso porque, ele já ouviu muita merda desde que ele comprou o “cafetão-móvel há algumas semanas. “Todo mundo diz que é tipo uma ‘prótese peniana’ ou um sinal de crise de meia idade”, diz ele, “E eu sou muito jovem para uma crise de meia idade…” Ele tem 26 anos, mas com o tipo de vida que tem levado ultimamente – como baterista na monstruosamente bem sucedida Nirvana e agora como cantor / guitarrista com sua nova banda, os Foo Fighters – é quase surpreendente que ele não tenha atingido a parte crítica, mas enquanto Grohl é ambivalente sobre seu próprio poder estelar e desconfortável com as armadilhas da vida de celebridade, e parece que isso não o impediu de ajudar a criar alguns dos hinos punks mais exuberantes da década.

Apesar das super expectativas em torno do Foo Fighters – que incluem o guitarrista Pat Smear (ex-Germs e membro do Nirvana), o baixista Nate Mendel e o baterista William Goldsmith (ambos da  extinta Sunny Day Real Estate) – Grohl está determinado a ficar fora dos holofotes  e impor quase que um apagão completo na imprensa. A decisão foi baseada em grande parte em sua experiência como parte da moda mais hyped e inspecionada na memória recente. “A coisa toda meio que me assusta”, ele reconhece, “Eu tenho certeza que o maior motivo do qual a maioria das pessoas que vão querer fazer entrevistas conosco é explorar um membro Da Banda Que Se Auto Destruiu, e encontrar alguma explicação” Ainda assim, a decisão do Foo Fighters de afrontar a mídia não parece ter amortecido a imprensa de criar mitos de tirar o fôlego – como a capa-manchete do Toronto Star; “Foo Fighters prova que há vida após a morte.”

Sem o benefício da divulgação ou publicidade pré-lançamento, o álbum de estréia do Foo Fighters tornou-se assunto de considerável expectativa na última primavera, alimentado em parte por bootlegs circulando pela seleta comunidade musical de Seattle. “Eu dava fitas para todo mundo”, admite Grohl. “As pessoas vinham e diziam [desamparadamente], ‘O Nirvana era minha banda favorita; e eu dizia: ‘Bem… aqui, pega isso.'” Quase dois meses antes da data oficial de lançamento do álbum, as estações de rádio de Los Angeles e Seattle começaram a transmitir as faixas inacabadas. A Capitol Records prontamente emitiu uma ordem de cessar e proibir, mas não antes das linhas telefônicas pegarem fogo em um frenesi de pedidos. E então, Grohl é forçado a admitir: “Não há muito que você possa fazer. Se você não quer que ninguém vá aos seus shows, então não faça um disco, não tenha uma banda. Fique no porão.”

Mesmo uma turnê com uma das maiores bandas de rock da história não preparou Grohl para o desafio de liderar sua própria banda. “Sentado tocando bateria, você pode se esconder, e ela é tão alta e barulhenta que você não se sente como se fosse você”, ele diz, indiretamente, oferecendo uma possível motivação para o ritmo selvagem intenso do Nirvana. Na turnê do Foo Fighters, em que eles viajaram os EUA abrindo para Mike Watt, Grohl diz: “Foi tão incrivelmente refrescante sair e fazer algo que você tem medo, realmente aterrorizado de fazer. De vez em quando, no meio de um set, meu estômago se revirava e eu tinha um pequeno ataque de pânico “

Grohl está convencido de que o Foo Fighters é um esforço de equipe. “Meu maior medo é que isso seja visto como um projeto solo”, diz ele. “É ridículo porque, eu quero dizer, eu não tenho o carisma de Bono, Steven Tyler ou quem quer que seja, e de maneira nenhuma eu quero ser considerado o líder. É meu maior medo.” Mas o que alimenta o medo e o foco intenso da mídia em Grohl é o fato de que o álbum, gravado antes da montagem do grupo, é o trabalho de um virtuoso ‘homem-banda’ – Grohl canta e toca todos os instrumentos. Ele e o co-produtor Barrett Jones fizeram a coisa toda em cinco dias em Outubro de 1995. Embora a maioria dos críticos tenha ficado surpresa com a habilidade desconhecida de composição de Grohl, o álbum do Foo Fighters era apenas outro em uma série de fitas que ele fazia desde o colegial. Inicialmente, era apenas para ser uma saída criativa, uma chance “de ser capaz de fazer as suas próprias coisas sem fazer disso grande coisa”, ele diz. “Eu nunca levei isso tão a sério que pensei: ‘Uau, eu vou começar uma banda de rock, ser o cantor, fazer piadas entre as músicas e sorrir para a câmera'”. Mas não demorou muito para a indústria da música conseguir farejar a demo. “De repente tinham tipo quatro gravadoras me ligando”, diz Grohl. “Foi uma loucura.” No final, ele conseguiu um acordo de distribuição com a Capitol que dá à sua própria gravadora, a Roswell Records, o controle final sobre o material e a maior parte dos lucros.

Depois de assinar com Smear, Grohl apostou em Goldsmith e Mendel no momento em que a Sunny Day Real Estate acabou. Goldsmith, que chama Grohl de “um dos meus bateristas favoritos de todos os tempos”, diz que a coisa teve um começo difícil. “Eu realmente não me senti confortável tocando bateria para o Dave, me senti muito estranho e inadequado. Sentei-me com ele e falei algo como: ‘Isso significa tudo para mim, mas não sinto que tenho o que é preciso’ e ele foi tipo, ‘Bem, se você desistir, eu desisto.’ Ele me apoiou incondicionalmente.“ Depois de algumas apresentações locais, a banda se juntou a Mike Watt para uma turnê nos Estados Unidos, e após um afastamento temporário quando Goldsmith estourou o cotovelo esquerdo em um poste de concreto num estacionamento, eles levaram o show a estrada novamente – desta vez como os principais. Determinados a manter as coisas discretas, os Foo Fighters continuaram a tocar em locais de tamanho médio.

Lendo sobre um exemplo de preparação para a turnê, Grohl parece surpreso com as vantagens que algumas bandas exigem. “É fodidamente ridículo que o Pat gosta de Perrier e eu gosto de Coca Cola e da Budweiser em lata. Eu sou muito simples com as coisas. Eu sou terrivelmente entediante.” Grohl faz uma única confissão doida: ele é um entusiasta de OVNIs. “Eu realmente acredito tem algo sendo escondido de nós.”, ele diz com certeza. “Quero dizer, obviamente há alguma coisa acontecendo, seja os militares testando suas próprias naves ou alguma outra coisa…” No convés estreito de sua casa de estilo rancho em Seattle, ele olha para a sinistra floresta de pinheiros altos e acende um cigarro. “Eu costumava sentar na minha varanda, encarar o céu e rezar para ver a porra de um OVNI”, diz ele. “Mas quem sabe? A ideia de que há algo além dos 5 bilhões de pessoas neste planeta é divertida”.

“Tenho certeza de que o álbum será examinado e comparado ao Nirvana”, suspira Grohl com resignação, “E com certeza há algumas semelhanças. Aprendi muito sobre composições com Kurt. “A influência é aparente naquela alquimia grunge de ganchos irresistíveis e pancadarias agressivas de guitarras, tipo “I’ll Stick Around”. Mas onde o Nirvana frequentemente trabalhava com fórmulas, as composições de Grohl são bem mais complexas e variam em tom, variando da elegíaca Exhausted para a boba e estilo lounge rock For All The Cows. E os vocais seguros de Grohl não têm sequer um traço do desprezo da marca registrada de Cobain. Mesmo em um gemido de frustração como Alone + Easy Target, Grohl coloca uma colher cheia de açúcar na mistura, cantando com uma sinceridade desarmante por baixo da batida das guitarras.

Se os Foo Fighters conseguirem tirar aquele sorriso sabichão dos punk rock dos anos 90 e adoçar o remédio amargo do grunge, pode ser porque eles realmente gostam de tocar música juntos. “Todos nós viemos de experiências de bandas disfuncionais.” Grohl explica. Desta vez, no entanto, eles parecem ter se encaixado. “É um tipo de sensação de gatinho-em-uma-caixa”, diz Goldsmith, e você pode sentir a conexão entre eles no trabalho quando Grohl pergunta sobre o status de “asa quebrada de Will” e enfatiza a responsabilidade da banda de “cuidar dele até a melhora.” Ou quando Smear começa a massagear os ombros de Grohl. Ou quando Goldsmith joga o braço bom no pescoço de Mendel ou dá um grande beijo molhado no rosto de Smear. “A principal preocupação é apenas o fato de que estamos fazendo isso juntos e que nos preocupamos uns com os outros”, Goldsmith praticamente gorgoleja.

Se há uma pitada de sarcasmo aí, só foi projetado para esconder o fato de que ele realmente quis dizer isso. “Todo mundo é realmente honesto e aberto, carinhoso e solidário. É o trabalho perfeito.”

Texto: Karina Diaz
Tradução: Gabriela Automne

Fonte: FooArchive

Assista aos shows da primeira tour do Foo Fighters na nossa playlist especial