Dave Grohl está bem à sua frente, é por isso.
Eu sei o que você está pensando. Você está pensando “Na verdade, cara, acho que estou bem apto a criticar os Foo Fighters, muito obrigado. Na verdade, sou mais do que capaz: super qualificado, na verdade.”
Você está pensando: “Estou pensando nisso há mais tempo do que seria saudável e tenho certeza de que eu sei qual é a deles, querido”.
Mas você está errado.
Eu, também, já vi o mundo em termos tão simples. Mas então eu fui ver os Foo Fighters e as vendas foram tiradas dos meus olhos. A verdade é que estamos por fora do esquema, amigo. Você esqueceu de algo: Dave Grohl é um de nós e já trabalhou em todos os ângulos. Ele está bem à frente de nós.
Pense nisso:
Crítica No.1: O Foo Fighter não tem músicas
“Já existiu alguma banda grande, de nível de estádio que chegou tão longe com tão poucas ótimas músicas?”, você diz. E parece um ponto justo. Os Foo Fighters tiveram muito poucos singles de sucesso. Eles lançaram 36 singles em 24 anos de carreira, e apenas quatro alcançaram o top 10 do Reino Unido (Best Of You alcançou o #4 em 2005).
Eles tem algumas ótimas canções – Everlong é linda (com aquela elegíaca escalada em: ‘And I wonder…’), Monkey Wrench pega fogo, Best Of You é transformada em um coro épico que continua nos bônus e ecoa posteriormente nas ruas de Stratford – mas eles não tem uma canção que todo mundo conhece, um hino moderno enorme como Sex On Fire ou um Don’t Look Back In Anger, seguido por Boys Are Back In Town, Freebird, Whole Lotta Love, Whole Lotta Rosie ou Smells Like Teen Spirit.
Mas, A) quem se importa? (Digo: Sex On Fire, você está de brincadeira?)
E B) entenda isso: os Foo Fighters sabem disso. Em um show, uma grande parte da noite é dedicada a passar o tempo e tocar MÚSICAS REALMENTE FAMOSAS que todo mundo conhece. Grohl sabe que seu calcanhar de Aquiles estaria exposto se eles insistissem em tocas muitas faixas do Wasting Light, então em Londres na semana passada eles esquentaram a festa tocando Blitzkrieg Bop, Another One Bites The Dust, Under My Wheels, um trecho de You’re The One That I want do Grease, e uma mistura louca de Imagine com Jump do Van Halen.
Eles não tem as músicas, então eles usam as de outros. Por uma noite, eles são todas as bandas de rock – uma mistura de todas as bandas que vieram antes (e que o público deles nunca viu), e eles se divertem com isso. A diversão deles é contagiante.
Este é o meu terceiro show grande em várias semanas e esse é com certeza o que tem a melhor atmosfera. “Eu não sei como essa banda ficou tão grande”, diz Grohl, “mas eu vou aproveitar pra caralho!”
Crítica no.2: Eles não têm personalidade – em sua música e como uma banda
“Eles não são uma banda adequada – é o show do Dave Grohl.” Há algo assim também – um sentimento de que a força da personalidade de Grohl (sua, hum, “Big Dick Energy”) tem levantado esta banda anônima a um nível diferente.
Compare e contraste: Guns N’ Roses tem Slash, Duff e Axl – cada um famoso e amado e/ou odiado por separadamente. (Os membros do Guns N ‘Roses são tão únicos e célebres que os fãs estão realmente boicotando porque o guitarrista base não está na formação atual.)
Os Rolling Stones: Claro, você tem Mick e Keith, mas aí há Charlie e Ronnie – cada membro com uma história e uma história ligada – e você está torcendo por todos eles. São eles contra o mundo!
Os Foo Fighters? Bem, há Dave e Taylor, que são o Mick e Keith nas paradas, e então há… uh… esse cara idoso que estava em uma banda punk e alguns, você sabe, tipo, um par de outros caras. Na verdade, existem outros três caras. Os outros caras são tão indistintos que adicionaram o tecladista Fulaninho no ano passado e ninguém notou. Quando Kiss Guy se juntou a eles no palco em um show em Austin uns alguns meses atrás, seu entusiasmo e presença de palco fez Os Outros Caras parecerem espectadores.
Mais uma vez, Grohl sabe disso. Ele passa uma parte do show apresentando Chico, João e José e dando a eles algum tempo nos holofotes. Ele está tentando torná-los interessantes. Mas eles simplesmente não querem. Eles são auto-conscientes, são de uma geração que zombou de rock stars e eles realmente não querem ser sugados para remoer os mesmos velhos clichês.
De maneira alguma na terra verde de Deus Nate Mendel irá correr a “Passarela do ego” para fazer um solo de baixo – e isso só pode ser uma coisa boa.
Crítica No.3: Eles não são realmente rock
Aqui está um segredo: os managers do Foos odeia a banda sendo associada com qualquer coisa ‘rock’ ou ‘rock clássico’. Eles acham que isso macha a imagem deles de certa forma. Eles vêem o Foos (e companheiros do Queens Of The Stone Age) como punk rock, como um moderno e alternativos que pertencem na capa de, tipo, Melody Maker, NME ou alguma outra revista ou que não existe mais.
É um ângulo de marketing – ficar descolado para as crianças, esqueça os pais – mas você poderia dizer que eles estão, ironicamente, sendo nostálgicos com uma era de ouro do rock alternativo que já passou há muito tempo. (Como Taylor Hawkins disse a Beats esta semana: “Não há mais rock alternativo, somos apenas um bando de pais tocando música agora”).
Mas ainda assim a banda fica irritada por ser chamada de ‘rock’. Alguns anos atrás, o público votou para eles como banda do ano no Classic Rock Awards. E eles enviaram uma fita de vídeo ligeiramente zombatória: “Oh, nós somos rock clássico agora?” Isso vindo de uma banda que toca Jump de Van Halen, Another One Bites The Dust do Queen e Under My Wheels de Alice Cooper no palco, um palco que, no passado eles compartilharam com membros do Queen, Led Zeppelin e Guns N ‘Roses.
Sim, Dave: você é rock clássico agora.
O interessante é que eles são ótimos embaixadores do rock. O rock está em declínio no momento – certamente quando se trata de relevância cultural – em grande parte porque é a música dos velhos brancos. E sendo você um velho branco, ainda mais um velho branco rock star, é provavelmente a coisa menos legal que você pode ser agora.
As pessoas sempre riram das antigas estrelas do rock – elas zombam sobre os Stones precisarem de andadores para idosos desde os anos 80 – mas pós-Weinstein há uma grande suspeita sobre esses caras velhos ridículos com seus peitos peludos e calças super apertadas berrando sobre vadias no palcos e encontrando maneiras novas e criativas para abusar de mulheres (gostosas) nos bastidores.
A repulsa contra isso veio há muito tempo. Uma nova raça de rock star surgiu e era menos Macho Alfa. Sensível, estilosa, menos ego inflado. E, você sabe, mais chato.
Grohl, enquanto isso, é o Novo Macho Alfa. Ele tem uma masculinidade que não é tóxica, que faz com que todos se sintam bem. Ele dança como um pai no palco, manda beijos, cantando sobre seu ‘herói comum’ e então você percebe que: ele está cantando sobre si mesmo.
Sua performance é grandiosa, mas sem ego. Também não é frágil – é tímida, engraçada, suada, catártica. E ele dá muito de si mesmo também: enquanto algumas estrelas do rock se contém e fazem o tipo quieto e misterioso, Grohl se joga. A banda faz isso, na verdade. Eles se vestem de mulheres, de caminhoneiros gays, eles zombaram da Igreja Batista de Westboro e, basicamente, usaram seu orçamento de videoclipes para ser o mais estúpido quanto possível.
Grohl não está interessado no que você acha das maçãs do rosto dele – ele quer que você se divirta.
Nós estivemos em uma viagem com Grohl: do Nirvana, dos Foos, QOTSA, Probot, Tenacious D. Sabemos que ele entende. Ele é um entusiasta do rock’n’roll como nós – e ele sabe como pensamos. Ele é a estrela do rock que precisamos agora.
Alguém pode simplesmente dar a ele mais algumas músicas para tocar?
Fonte: loudersound
Tradução: Gabriele Automne