10 coisas que aprendemos com Dave Grohl

Desde o dia em que ele tocou com o Prince até a sessão do Nirvana que partiu seu coração, leia histórias incríveis do frontman do Foo Fighters

 

“Nós todos amamos sentar e contar histórias – bem, ouça essas, porque elas podem fazer você se apaixonar por música”, diz Dave Grohl na reportagem de capa desse mês na Rolling Stone, falando sobre sua série da HBO, Sonic Highways. Não havia espaço suficiente para caber todos os contos que o líder do Foo Fighters, seus companheiros de banda, amigos e mãe Virginia me contaram em mais de 10 horas de entrevistas sobre a estrada para “Sonic Highways” e o novo álbum de mesmo nome. “Ele gosta de falar”, diz o produtor Butch Vig sobre Grohl na história, observando que há sempre “uma ou duas horas” antes dos ensaios da banda e sessões de gravação para que todos possam jogar conversa fora. “Você acaba sendo pego pela vida e os momentos de Dave Grohl.” E aqui tem mais.

 

  1. Ele foi enviado para o psicólogo da escola por tentar matar Loverboy.

“No meu bairro, em Springfield, Virginia, havia um cara, Jimmy Swanson – nós éramos como irmãos. Nós dois nos apaixonamos pela guitarra quando tínhamos oito ou nove anos de idade, mas, eventualmente, os nossos interesses se dividiam. Descobri o B-52  e o Devo; ele estava indo mais para Loverboy e Def Leppard. Desenhávamos histórias em quadrinhos em sala de aula um para o outro. Eu desenhava o Devo matando o Loverboy com armas laser e fui enviado para o psicólogo da escola por causa disso.”.

 

  1. Grohl nunca imaginou que deixaria Springfield, Virginia

“Eu fazia trabalho braçal, fazendo alvenaria e trabalhando em uma loja de móveis. Trabalhei em uma creche quebrando pedras. Não havia muitas oportunidades de carreira para mim. Em um ponto, eu pensei, ‘Eu sei tocar bateria. Vou aprender a ler música, me tornar um baterista para sessões e, com esse dinheiro, voltarei para a escola’. Eu queria ter um puta emprego na cidade, em Washington, D.C. Mas não iria acontecer. Em Washington, ou você vai pro exército ou para o governo. Eu era magro demais para o exército e burro demais para o governo – ou esperto demais. Eu conversei com a psicóloga aquela vez que fui até ela na escola: ‘O que você quer fazer com a sua vida?’. Eu disse que queria fazer algo na música. E a primeira reação dela foi, ‘Você só quer isso pois sabe onde as drogas estão.’”.

 

  1. Ele toca guitarra como um baterista

“Nunca aprendi como tocar guitarra. Eu não sei quais são os acordes de Everlong. Eu só sei o que acontece quando coloco os dedos ali. Mas aquele riff é um bom exemplo de como eu olho para a guitarra.”

“A corda E é o bumbo. A A e D são as caixas. A G, B e E são os pratos. Então você tem uma relação de bumbo e caixa nesse riff. Então quando o refrão vem, você toca todas as notas altas como tocaria os pratos. Isso fica percussivo, e dá essa dinâmica. É por isso que toco as guitarras Trini Lopez – dá pra tocá-las bem suavemente. E também dá pra tocar bem alto com elas. Elas tem esse equilíbrio.”

 

Dave Grohl - Them Crooked Vultures

(Photo: Rhythm Magazine/Getty)

 

  1. Butch Vig partiu o coração de Dave durante as sessões de Nevermind, do Nirvana

Vig: “Foi a noite que estávamos gravando ‘Lithium’. Não estava soando bem. Eles ficavam acelerando. Não era culpa do Dave; era a banda toda. Aí eu disse, ‘Você já tentou tocar com um metrônomo?’. Aquilo foi tipo uma adaga no coração dele. Ele voltou ao hotel aquela noite, surtando um pouco. Teve uma noite de insônia, depois voltou e tocou tudo em uma tacada só, sem o metrônomo. Foi perfeito.”

 

  1. Grohl demorou um pouco para gostar do seu estrelato

Taylor Hawkins: “Essa foi em uma das minhas primeiras turnês com o Foo Fighters. Ainda estávamos tocando em clubes e teatros. Estávamos em um hotel e eu estava conversando com um cara que trabalhava lá. O perguntei se ele gostava de nossa banda. Ele disse que sim. O perguntei se ele queria ingressos e passes. Ele disse sim. Eu disse, ‘Você pode me colocar em um quarto melhor?’. Naquela época, eu estava aperfeiçoando minha técnica.”

“Então ele me colocou em uma suíte. Liguei para o Dave e disse, ‘Cara, você precisa ver o meu quarto’. Ele chegou e disse, ‘Que porra é essa? Como você conseguiu isso? Isso é tipo a suíte presidencial’. Eu o disse que troquei por ingressos. ‘Cara, você não pode fazer isso. Isso não é legal’. O negócio é: os outros caras da banda estavam muito sérios, com essa ética do indie rock. Eu sou um cara de Orange County. Eu queria aproveitar o que estávamos fazendo. Dave apenas balançou a cabeça e disse, ‘Cara, você é um filho da puta’.”.

 

  1. Como Grohl se tornou o cara mais legal do rock

“Havia um Ozzfest na Inglaterra em 1998, e o Korn cancelou. Então nos ligaram. Era o Slayer, Pantera e Black Sabbath. Subiríamos ao palco após o Pantera. Eu estava com tanto medo: ‘Vai haver um motim. Eu serei arrastado e esquartejado. Ninguém vai gostar da nossa banda’.”

“Mas tocamos e eu olhei para o lado. Os caras do Pantera estavam nos assistindo e cantando as letras das nossas músicas. Depois ficamos amigos do Pantera. Eu estava nervoso e assustado; achei que não fosse me encaixar. Mas eles foram tão aberto a nós. Essa hospitalidade que temos no backstage – tudo veio do Pantera. Dimebag Darrell era o cara mais legal do mundo. Ele poderia tomar um shot com Justin Bieber, com Rick Nielsen, com James Brown – ele era o melhor amigo de todo mundo. E você sentia essa energia quando ele tocava.”

“Depois desse dia, eu fiquei tipo, ‘A partir de agora, todo mundo tá liberado nesta sala. Não me importa se é a Britney Spears.’ Eu me tornei o melhor amigo nos bastidores. Sempre que aparecia em algum festival, a primeira coisa que fazia era pegar uma garrafa de whiskey e ir batendo de porta em porta para ver quem eram as pessoas mais engraçadas. Você se surpreenderia com quem são os verdadeiros palhaços”.

 

  1. Grohl trabalhou duro para conseguir dinheiro para a série Sonic Highways

“Eu ligava para agências e corporações, tentando levantar dinheiro para fazer isso. Parte de mim se sentia cansada disso. Mas eu justifiquei: ‘Estou fazendo algo bom. Estou fazendo algo que as pessoas gostarão’.”

“Havia esse cara. Estávamos tendo problemas para conseguir as filmagens do furacão Katrina para o episódio de Nova Orleans. Finalmente, um dos meus produtores disse, ‘Olha, o único modo de conseguirmos essas filmagens, será se você ajudar o cara a pedir a namorada em casamento.’ Eu disse, ‘Okay, certo. O que tenho que fazer?’. Eu sentei em frente a uma câmera e disse, ‘Oi, bla bla bla, fulano de tal realmente quer casar com você,’ e mandei para ela. Ainda bem que ela disse sim. Foi assim que consegui a porra da filmagem.”

 

  1. A coisa mais difícil de estar no Foo Fighters

Nate Mendel: “É uma piada entre a equipe. A coisa mais difícil nesse trampo é ser demitido.”.

Taylor Hawkins: “Dave não é o amigão, não nos falamos ao telefone toda hora. Ele sempre fala, ‘Tenho que ir!’. Mas ele quer estar rodeado por pessoas que ele conhece. Eu já ouvi de bandas que demitiram todo mundo. Eles sempre se livram de alguém da banda. Eles trocaram de assessoria três vezes. Seria horrível ter de assimilar isso toda hora. Isso pode ficar bem pessoal. Mas está tudo bem, porque somos uma família.”

Chris Shiflett: “Eu não aposto que isso durará para sempre. Até agora, eu olho para todo grande feito meu e o trato como se fosse meu último. Fico pensando nisso toda vez. Mas houve momentos ao longo dos anos: ‘Merda, isso pode continuar por um bom tempo’. Tipo como quando construímos o Studio 606. ‘Estamos comprometidos com algo’”.

 

O estúdio foi um investimento da banda?

 

Shiflett: “Sim. Compramos o prédio ao lado. Quando fazemos coisas assim, obviamente não pretendemos ir embora tão cedo.”.

Foo Fighters "Sonic Highways" Premiere

(Photo: Kevin Mazur/Getty)

 

  1. Grohl tem medo de subir ao palco – mas ele não demonstra

Vig: “Ele costumava ter medo do palco, realmente assustado, antes do show. Mas você nunca vê isso. Ele não fica andando preocupado pelo backstage. Eu estava em um desses shows gigantescos que eles fizeram em Londres. Eu estava no backstage com ele, e ele ficava, ‘Cara, vamos tomar um shot de Jagermeister’. Ou dizendo: ‘Ei, eu tenho uma ideia’. Alguém falava, ‘Dave, hora de tocar’. Ele levantava, pegava sua guitarra e, vinte segundos depois, o Foo Fighters estava tocando. Ele não precisava ficar isolado ou fazer um ritual de aquecimento. Ele apenas diz, ‘Tenho que fazer um show agora’. Você tem a impressão de que ele lida de boa com tudo isso. Nunca suspeitaria que ele tem seus próprios medos e ansiedades”.

 

10. O dia que Grohl tocou com Prince

“O FF gravou essa versão de “Darling Nikki”, do Prince, no porão da casa do Taylor. A KROQ pegou essa música. Eles começaram a tocá-la sem parar. Pensamos que deveríamos colocá-la em algum DVD especial. Perguntamos ao Prince. Prince disse não. Então no ano que o Prince tocou no Super Bowl, recebemos uma ligação: ‘Ele vai tocar uma de suas músicas’. No meio de um medley, ele toca ‘Best Of You’. Ele a transformou nessa versão gospel-rock que acaba com a nossa.”.

“Então três anos atrás, Prince reservou 21 noites no Forum, em L.A. Mal podia esperar. Fui ao primeiro show, em um ônibus com meus amigos, bebendo todas. Entrei no clube e topei com um cara da equipe dele que já havia trabalhado conosco. Ele disse, ‘Prince sabe que você está aqui. Ele quer tocar com você’. Ao final da noite, estou de pé ao lado de uma cortina preta. Eu a puxei – lá estava Prince com Sheila E. Eu disse, ‘Ei, cara, ótimo show’. Ele disse, ‘Quando você quer tocar? Que tal na sexta?’ Uau, okay!”

“Por uma semana, eu fiquei com o celular na mão, no vibra, esperando ele ligar. Sexta chegou e eu fui para a passagem de som. A pessoa que trabalhava com ele disse, ‘Prince tá meio mal hoje, ele não vem a passagem de som. Então fui ao backstage. Falando com meu técnico, sem ideia do que está acontecendo. Então o Prince apareceu: ‘E aí, cara, o que você está fazendo aqui?’ ‘Pensei que iríamos tocar.’ ‘Tudo bem, você quer tocar bateria?’”.

“Nós começamos a tocar. Ele com toda a banda lá em cima, tocando mudanças de acordes com os dedos, conduzindo a banda enquanto tocamos. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. E isso estava acontecendo em um Forum completamente vazio. Em seguida, ele pega um violão e começa a tocar ‘Whole Lotta Love’, do Led Zeppelin. Foda pra caralho. Fizemos isso por dez minutos. Foi lindo. Ele disse: ‘Nós deveríamos fazer isso, cara. O que você vai fazer na próxima sexta?’”.

“Voltei para o backstage. Estava confuso. Eu não sabia se eu deveria ficar. Um de seus caras disse: ‘Ele sabe que você está aqui. Ele pode chamá-lo.’ E seus shows são longos. Eu durei duas horas, tentei não beber. Mas eu tinha que ir. E na próxima sexta-feira eu tinha uma festa beneficente na escola da minha filha.”.

“Eu nunca ouvi falar do Prince novamente. Mas eu juro que aconteceu. Eu juro. E ninguém viu.”.

 

Fonte: Rolling Stone
Tradução: Stephanie Hahne