Dave Grohl: “Se a música no topo das paradas é sobre sua bunda, isso é um problema”.

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Após quase três décadas de rock ‘n roll, Dave Grohl continua pegando pesado, fazendo filmes e TV, e tentando, diz ele, “não soar como um peido chato”. Nessa entrevista exclusiva do site neozelandês The Red Bulletin, prova-se que isso é impossível.

 

TRB: Quantos seguranças estavam atrás das câmeras quando vocês entrevistaram o presidente dos Estados Unidos?

DG: O negócio é o seguinte: a Casa Branca é um lugar realmente calmo e confortável, porque você não entra lá se não te acharem uma pessoa legal. Então, tá dentro, tá dentro. É relaxante, não é assustador nem estranho. O Presidente tinha coisas realmente legais para dizer sobre o país e sobre músicos específicos. Eu não queria só falar sobre a história da música americana com ele, mas da América enquanto um país que tem oportunidades para fazer grandes coisas. Quer dizer, eu sei muito bem que há várias coisas erradas, mas a América ainda oferece a liberdade de ser alguém como Buddy Guy, por exemplo.

 

TRB: Guy teve uma ótima carreira na música, mesmo sem dinheiro ou sem estudo. Isso é um eco da história de Dave Grohl?

DG: O Buddy é o melhor, até onde sei. Ele fez sua primeira guitarra com fios, ossos e madeira. Eu sou um cara de Springfield, Virginia, que largou o ensino médio. Nunca me formei na escola e nunca tive dinheiro suficiente para a faculdade. Eu fiz trabalhos manuais e toquei um punk rock barulhento. Agora estou no Rock ‘N Roll Hall Of Fame e posso me sentar para conversar com o presidente dos EUA sobre música. Não estou dizendo que sou um ótimo cara, mas eu quero que todos pensem que temos as mesmas oportunidades possíveis.

 

TRB: Então o que é necessário para ser grande na América, ou até no mundo?

DG: Eu acredito que, se você é focado, direcionado e apaixonado por algo, você pode chegar lá. Não ligue para as expectativas dos outros, apenas faça como você quiser. Por que fazer como os outros?

 

20140912_redbull_foofighters_shoot_0117v4TRB: E isso funcionou para você?

DG: Claro. Por exemplo, eu não tenho ideia de como dirigir filmes e TV, eu apenas faço como acho que tem que ser. É assim que toco bateria e guitarra. Tenho certeza que pelo padrão de outras pessoas, o que eu faço é lixo, mas fodam-se eles. Isso leva para coisas grandes, é o único jeito.

 

TRB: Você passou esse conselho ao Presidente Obama?

DG: Eu acho que ele tem o pior emprego do mundo. O dia que o entrevistei, ele deu uma conferência à mídia anunciando que enviaria mais tropas para o Iraque. Depois ele deu a Medalha de Ouro Congressional para um soldado que se feriu gravemente tentando ajudar outro soldado. Ele tem a economia, os conflitos internacionais e depois senta comigo para conversar sobre Stevie Wonder e The Rolling Stones.

 

TRB: Então “Grohl para Presidente” está fora de questão?

DG: Hahaha! Eu nunca passaria nem pelo primeiro passo para se tornar um político. Eu já fiz muita coisa estúpida na minha vida. Quem votaria em mim?

TRB: Mas os óculos que você começou a usar recentemente te fazem parecer uma pessoa séria.

DG: Ah sim, bem – é a idade. Estou surdo, burro e cego.

 

TRB: Então a Casa Branca é temporária, mas você foi induzido ao Rock ‘N Roll Hall Of Fame esse ano como parte do Nirvana. Por que vocês só escolheram vocalistas femininas para cantar e tocar na cerimônia?

DG: Porque o Kurt era feminista. E alguém sugeriu a Joan Jett. Quero dizer, Joan Jett é a primeira dama do rock ‘n roll. Ela é a fodona. Depois foi tipo: “Que tal a Kim Gordon?”. Ela e Kurt eram grandes amigos, se amavam, e os Sonic Youth eram nossos heróis. “Sim, vamos chamar a Kim”.

 

TRB: E vocês chamaram a Lorde, da Nova Zelândia.

DG: Lorde foi ideia minha. A sua música, “Royals”, é uma pequena revolução nesse mar de coisas ruins.

 

TRB: Esse mar é aquele ao qual você se referiu como “pop de stripper”?

DG: A música pop na América está muito superficial. É legal de ouvir, de aumentar o som no carro quando se está no trânsito, mas não há substância ali. É desprovida de qualquer significado. Não digo isso apenas como um músico de rock aos 45 anos, digo isso como ser humano. Se a música no topo das paradas é sobre sua bunda, isso é um problema. Então quando eu ouvir “Royals” no meio de todas aquelas músicas, eu pensei, “Graças a Deus! Alguém está cantando algo que realmente tem significado”.

 

TRB: Como sendo uma banda de rock old-school, o Foo Fighters enfrente dificuldades no mundo digitalizado?

DG: Triste, mas é verdade. As pessoas esqueceram como realmente se toca rock porque passam o dia inteiro na frente de uma porra de um computador, que eles clamam como seu novo deus. E eles realmente pensam que a tecnologia os deixarão ricos, se eles tropeçarem em algo novo. Mas estou te falando: talvez a tecnologia te deixe rico, mas nunca te fará feliz.

 

TRB: Não é mais fácil ser feliz quando se está rico?

DG: São duas coisas extremamente diferentes. Felicidade, sorte ou se sentir bem – chame como quiser – é baseado na interação entre humanos, em fazer outras pessoas felizes, dar algo bom aos corações delas. A música é um meio perfeito para isso. O que poderia ser mais humano do que escrever uma música com baixo, guitarra e bateria? Esse é o mais sentimental que pode ficar.

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TRB: O que você faz com todo seu dinheiro?

DG: Vai direto para a minha conta bancária, onde ele fica todo mofado e fedido.

 

TRB: Nenhum investimento, nada disso?

DG: Não perco meu tempo pensando no que eu poderia fazer para ganhar mais quando eu já tenho o suficiente. Não sou bancário, sou músico. De qualquer forma, o dinheiro compra minha liberdade, claro. Me permite fazer tudo o que quiser fazer sem me preocupar com nada mais.

 

TRB: Sem casas, sem carrões?

DG: Eu dirijo um carro de família – não uma SUV monstruosa, mas um carro de família que cabe cinco pessoas. Tenho uma casa que é grande o suficiente. Meu único símbolo de status seria meu estúdio 606, em San Fernando Valley. Eu investi uma fortuna para que ele ficasse igual o estúdio do ABBA, o Atlantis. Não estou brincando: era disso que eu estava correndo atrás e me custou uma puta grana para realizar esse sonho.

 

TRB: Fazer música no modo analógico está se tornando uma arte perdida?

DG: Espero que eu não esteja soando como um peido velho e chat aqui, mas vamos ser honestos: nunca fez mal a ninguém praticar no seu instrumento, desenvolver seu ouvido para ritmos e melodias.

 

TRB: Então o que você pensa da MDE?

DG: De que merda você está falando? Não fale em códigos, cara!

 

TRB: Música Dance Eletrônica. Skrillex, Deadmau5, etc.

DG: É assim que é chamada? Não é meu estilo de música. Não é novidade. Artistas como Suicide ou Atari Teenage Riot têm feito isso por décadas e de uma maneira bem melhor.

 

TRB: O que suas filhas ouvem?

DG: Sou bem sortudo nessa parte. A pior coisa que elas impuseram a mim foi o último álbum da Katy Perry.

 

TRB: A Katy não te faz feliz?

DG: Não, nem um pouco. A música dela é um teste de lealdade para com minhas filhas. Mas ao mesmo tempo, consigo fazê-las escutar coisas boas. Dei às minhas mais velhas, Violet e Harper, um box dos Beatles. Então elas escutam Magical Mystery Tour e o White Album. Dê um toca discos a uma criança de 6 anos e todos os álbuns dos Beatles, e elas estarão dançando, cantando, tudo no chão. É ótimo.

 

TRB: Que tipo de relação você tem com redes sociais?

DG: Honestamente, não faço ideia. Não estou no Facebook ou no Instagram porque eu não me importo. Se eu quiser falar com alguém, apenas ligo ou mando mensagem. Mesmo assim, para a minha mãe de 75 anos, isso faz total sentido, simplesmente porque ela não tem mais tantas pessoas para conversar, ela raramente sai de casa e mora sozinha. Ela diz, “Você está vivendo no passado, querido. Deixe-me te mostrar como tweetar”. Talvez, se eu chegar à idade dela, eu vou lançar meu site, por Dave Grohl, o rock star aposentado.

 

TRB: Courtney Love quer fazer um filme com a biografia do Nirvana. Quem deveria interpretar Dave Grohl?

DG: Eu acho que o Robert Rodriguez seria meu favorito, porque ele é bem legal, mas acho que isso não vai acontecer.

 

Fonte: RedBulleting
Tradução: Stephanie Hahne