Direto do Foonel do Tempo: Verão de Rock com Dave Grohl

O nosso quadro “Direto do Foonel do Tempo” desta semana resgatamos uma entrevista que Dave Grohl cedeu para a Rolling Stone americana 10 anos atrás no auge da turnê do álbum One by One. E na entrevista Dave revela o quão admirado ficou com o público brasileiro no show do Foo Fighters em 2001 no festival Rock in Rio.

Leiam os detalhes dessa entrevista.

Verão de rock
Rolling Stone, 2003

“É hora do MTV Cribs (programa que visita as mansões das celebridades)”, diz Dave Grohl de sua nova mansão com estilo fazenda em Los Angeles. “Basicamente, eu não tinha nenhum outro lugar para colocar meus caminhões de platina”. Mesmo que ele não tenha muito tempo para se aconchegar em sua nova piscina, Grohl está se sentido bem por ter dado o pontapé inicial com a maratona de 9 semanas do Foo Fighters em 25 de maio, em Chicago. “É uma sensação boa quando você está dançando e suando pra caramba”, diz ele. “E a coisa atingiu tal ponto em que nós podemos escrever um setlist de 20 músicas e todo mundo as conhecerá. É realmente ótimo estar no palco quando as pessoas estão cantando “All My Life” e “My Hero” mais alto do que os amplificadores”.

Qual música mais te lembra do verão?
O tema do Meatballs (filme): (canta) “Are you ready for the summer? Are you ready for the good times”? (Você está pronto para o verão? Você está pronto para os bons tempos?). Essa é a merda. Quando você pensa em algo como Lollapalooza ou a turnê Sanitarium, tudo isso parece o Meatballs em rodas para mim. Um acampamento de verão viajante.

Você se sente frustrado de não estar em uma dessas turnês do Meatballs?
Não. Eu estou, na verdade, bem empolgado. Faz muito tempo desde que nós fomos headliners em uma turnê. Nós estamos tocando em lugares maiores do que jamais estivemos.

Qual é o seu acessório de turnê mais importante?
Nós temos uma mesa de ping pong na estrada. Sabe como é. Não há nada de errado com um pequeno zig-zag de vez em quando. Nós somos bons nisso. Não existe melhor jeito de se aquecer para um show do que um torneio de cinco ou seis partidas. Prepara sua coordenação de mãos e olhos; dá pra cansar bastante.

Você foi a algum festival ao ar livre quando era pequeno?
Não. O primeiro grande show que eu fui foi o Festival Monsters of Rock com Metallica, Dokken, Scorpions e Van Hallen, em 1988. Tinha, tipo, 50.000 pessoas lá. Eu me lembro que Kingdom Come tocou primeiro, e o baterista fez um solo que eu conseguia fazer. Foi então que eu percebi que a área do rock tem essa pequena brincadeira. Eu pensei, “se eu consigo fazer isso, então isso é bobo”. Mas foi divertido. Eu tive uma queimadura de Sol. Eu perdi a minha maconha e passei as outras 3 horas tentando comprar mais.

Nos shows do Foo Fighters, o que os fãs jogam no palco?
Na verdade, em Birmingham, Alabama, na primeira música, eu fui atingido por um par de óculos de sol “Risky business” (estilo Ray-ban wayfarer). Na segunda canção, eu fui atingido por uma lata de mergulhando o tabaco da Copenhagen (produto para parar de fumar). Terceira música, um maço de Malboro Lights. Mas, se você está fazendo um show ao ar livre, é inevitável que as crianças estarão pisando uma nas outras, e elas perderão seus sapatos eventualmente. Então, qual o melhor jeito de mandar um sapato para os achados e perdidos do que simplesmente jogá-lo na porra da minha cara? Pelo menos eles não jogam mais Mentos. Isso é tãaaaao 1995.

Você masca chiclete do começo ao fim do set. Por quê?
É só para manter a minha garganta e boca lubrificadas – para que quando eu grite pra caramba, eu não sufoque e vomite. A melhor hora para começar a mascar é imediatamente antes de subir no palco. No microfone, eu preciso da minha boca com o refresco de hortelã. Não há chiclete que mantenha seu sabor por mais de 20 minutos. Eu preciso do sabor. Gosto da marca Dentyne Ice. Só sei as cores: preto, azul ou verde.

Você faz alguma coisa especial para agitar a multidão?
Eu não posso falar “Todo mundo diga “foda-se” para a banda”, porque isso é coisa de retardado. Eu não posso falar “esse lado fala “hey”, esse lado fala “ho””. Não posso começar uma ola. Basicamente, então, eu só toco as músicas; e entre elas, eu falo merda e envergonho pessoas. Isso é a minha jornada. Às vezes, quando eu estou falando sobre comer buceta, eu uso gestos. É importante mostrar a essas crianças o que fazer. Algum dia, eu terei uma legião de jovens agradecidos.

Qual é o maior público para qual você já tocou?
Rock in Rio – 250.000 pessoas.

O que passou pela sua mente naquela hora?
Depois de cerca de 10.000 pessoas, para de ser uma audiência – vira um grande barulho. Quando você explode em uma música como “Breakout” e vê cem mil pessoas pulando para cima e para baixo, é como uma guerra tribal. Quando você ouve que várias pessoas nem mesmo falam inglês e, mesmo assim, cantam a música, isso te faz querer derramar uma lágrima. Houve momentos em que eu queria dizer um simples “boa noite” e fiquei super engasgado.

Você já chorou no palco?
Não, nunca o fiz. O mais perto disso foi em Bridge School Benefit alguns anos atrás. Eu estava tocando “Everlong”, apenas eu e um violão. Quando eu terminei a música, as pessoas estavam aplaudindo de pé. Eu estava quase começando a chorar, me virei e vi David Crosby e Neil Young no outro lado do palco olhando para mim com cara de “esse garoto. Você realmente os tem (a multidão)”. Então eu passei por eles e cheguei ao camarim antes que eu começasse a chorar “buábuábuá”. Os caras na banda estavam, tipo, “o que aconteceu com Dave?”.

Do que você mais se lembra sobre tocar nos festivais do verão com o Nirvana?
Eu me lembro de conhecer Danny Peters, do Mudhoney. Eu perguntei, “qual é a maior audiência para qual você já tocou?”. Ele disse “35.000 pessoas no Reading Festival” e eu quase caguei nas calças. Eu falei “como você aguentou isso? Eu iria desmaiar, vomitar, morrer”. E eu me lembro de alguns dias antecedendo o show no Reading em 1992. Eu estava tão amedrontado de ter um ataque de pânico e morrer na frente de 35.000 pessoas. Foi horripilante, mas maravilhoso ao mesmo tempo.

Produção e Revisão: Karina Diaz
Tradução: Elise Kanashiro
Fonte:  Foo Archive