Texto original: Foo Fighters’ Nate Mendel: “I’m nearly 50 years old, and seriously, I’m still thinking like a teenager”
Por: Joel McIver
Tradução: Stephanie Hahne
“O poder do rock te move” é uma frase que usamos muito no quartel secreto da BGM, em parte porque nos faz rir enquanto tapeamos nossas cordas, mas também porque há uma certa verdade escondida nesta frase para os baixistas de alta persuasão.
Pegue Nate Mendel, do Foo Fighters, por exemplo: um cara simpático que nos ligou para falar sobre o novo álbum de sua banda, Concrete And Gold, o nono nos 23 anos desde que o baterista do Nirvana, Dave Grohl, formou o grupo.
Se você está familiarizado com os grandes sucessos dos Foos — “Monkey Wrench”, “Learn To Fly”, “Times Like These”, “Breakout” e assim por diante — você saberá que eles se especializam em Rock com R maiúsculo, projetado para estádios e amado por multidões em todo o mundo .
Quem é maior do que o Foo Fighters nesta segunda metade dos anos 2010, em termos de números de shows feitos em locais realmente grandes? Ninguém no rock, além do U2 e Guns N’ Roses, embora o Metallica e o Iron Maiden os igualem no mundo do heavy metal, e Taylor Swift, Justin Bieber, Adele, Ed Sheeran e o resto do contingente pop provavelmente superam todos.
Isso torna muito divertido que toda essa grandiosidade no rock não consiga impedir um rapaz de ser intimidado por um produtor com raízes no jazz, como aconteceu com Mendel no início deste ano. (Fique tranquilo, não estou criticando ele aqui: estou incluindo todos nós, não-jazzers, na demografia do “medo do jazz”…)
“Se você está no mundo do rock, o jazz parece ter um pouco de feitiçaria, enquanto nossas regras e normas são um pouco mais simples”, ri Mendel.
“Eu definitivamente estava um pouco nervoso neste álbum, porque o nosso produtor Greg Kurstin é um músico de jazz muito bem educado, mas eu estava ansioso ao mesmo tempo, porque eu quero colaborar com pessoas e me tornar um instrumentista melhor no fim de tudo.”
Mendel e Kurstin se deram bem, apesar dos diferentes contextos, já que o produtor desejava dar ao baixo um lugar de destaque na música.
“Eu entrava com minhas ideias e Greg trabalhava com elas por um tempo, antes de dizer: ‘bem, se você quiser realmente fazer isso, tente isso aqui!'”, lembra Mendel.
“Eu havia saído de dois discos com [a lenda da produção musical] Butch Vig, que é muito particular com o tempo e se certifica de que o baixo não é mais complicado do que precisa ser. Seu objetivo é deixar o baixo simples, sólido e pesado sem arruinar as coisas: ele faz muitas coisas em uma só tomada “.
Concrete And Gold
Concrete And Gold, no qual Mendel e Grohl são acompanhados pelos guitarristas Chris Shiflett e Pat Smear, o baterista Taylor Hawkins e o tecladista Rami Jaffee, é um trabalho refinado, carregado de texturas influenciadas pelos Beatles e Queen e uma estranha balada acústica aqui e ali.
“Estou muito satisfeito com isso, é um dos meus favoritos,” diz Mendel. “Eu me estiquei um pouco neste, e troquei tudo: nós conseguimos um excelente som com o qual estou satisfeito”.
Uma das músicas, “La Dee Da”, começa com uma faixa de baixo incrível e cheia de fuzz, enfeitiçada por Kurstin e sua equipe de engenharia.
“Aquilo não é um pedal, é Greg usando o Logic”, diz o baixista. “Nós gravamos a parte seca no Pro Tools e então eles configuraram uma segunda plataforma com o Logic para fazer ajustes e adicionar efeitos. É divertido, porque acabei de comprar um pedal JHS Four Wheeler, que é um pedal de distorção que possui uma saída de ruído incorporada.
“O efeito que Greg colocou lá faz mais ou menos o mesmo. É um ótimo pedal: acabamos de fazer 10 shows na Europa, e não conseguimos fazer a passagem de som em nenhum deles, então eu apenas liguei esse pedal e tocamos.”
O tom do baixo no álbum, sem contar as partes editadas no Logic, tem um baque pesado que se adapta às guitarras de Grohl e Shiflett, graças a uma troca de cordas.
“Eu acabei tocando notas mais ‘rasas’ no estúdio — era coisa do Greg. Sempre gostei de um som ao vivo no baixo, e eu gosto de que as notas toquem completamente, mas para este disco eu usei um tom mais profundo e mais ‘amadeirado’ e, na verdade, funcionou muito bem. Greg estava realmente curtindo este som, e eu também gostei disso.”
Como acontece geralmente, quando as grandes bandas com um grande orçamento entram em grandes estúdios, havia uma seleção invejável de equipamentos para que Mendel pudesse escolher.
“No estúdio, havia seis ou sete instrumentos,” lembra ele, “e para as duas ou três primeiras músicas, você usa todos os seis ou sete, mas depois acaba escolhendo um e seguindo com ele, porque parece ser o melhor. Neste disco, usei principalmente baixos Precision personalizados em uma loja que foram feitos para mim no final dos anos 90: basicamente são o que o meu baixo de assinatura se transformou “.
Modelo de assinatura
Ah, sim, o Fender Nate Mendel Precision, disponível agora por £ 949 (aproximadamente R$ 3.600). Qual das especificações do instrumento é exclusivamente dele, perguntamos?
“É um baixo bem típico,” ele explica, “mas eu tinha pickups diferentes, e uma ponte mais espessa. O principal era tentar obter a forma do braço corretamente. No lote dos baixos de 1971 que os meus vieram, acho que eles estavam tentando dividir a diferença entre a sensação de um braço Precision e um braço Jazz. É um pouco mais largo do que um braço Jazz, o que para mim parece um pouco demais.”
Há quatro anos, nosso testador Mike Hine considerou: “apesar da simplicidade dos circuitos passivos, o Nate Mendel P-Bass não é um ‘pônei de um só truque’. A ponte Badass II, maior e mais robusta do que as pontes Fender antigas, juntamente com o moderno Seymour Duncan pickup, contribuem para homenagear o Precision de 71, ao mesmo tempo que adiciona uma vantagem refrescante e moderna. Pela própria admissão de Mendel, a nova tecnologia torna o som deste baixo melhor do que o seu arquétipo.”
Nós transmitimos isso para Mendel e ele diz: “obviamente, eu sou suspeito para falar, mas se você não vai comprar uma versão super cara de um Precision, ou um vintage, acho que é um bom caminho a seguir. Eu amo os ‘enfeites’: o cabeçote é bem claro e com cara de novo. Eu não gosto de instrumentos que imitam relíquias: para mim, isso é trapaça! Eu queria encontrar o meio termo entre um baixo antigo e um baixo que parece ser feito na semana passada.”
Além de seus próprios Fenders, o que mais ele tem em sua coleção?
“Estou misturando agora. Eu tenho feito algumas compras, porque na verdade não compro novos baixos há muito tempo — não sou muito de colecionar instrumentos. Eu toquei guitarra na minha banda solo [Lieutnant] por um longo tempo e, quando voltei ao baixo, comecei a prestar atenção no tom e assim por diante, e é por isso que eu tenho comprado baixos ultimamente.”
Para os amplificadores, Mendel veio para o nosso lado, ele nos diz.
“Eu uso os amplificadores Ashdown BTA, os híbridos sólidos/tubulares. Quando eu estava crescendo nos anos 70, toquei com um Ampeg SVTs como todos os outros: naquela época, não havia muita opção. Assim que você conseguia juntar $ 1.200 para um baixo Precision e um SVT, você estava pronto para ir, certo? Mas eu não viajo com meus SVTs porque eles são velhos e delicados, então é por isso que mudei para o Ashdown, que está disponível e é a réplica mais próxima desse som. Eu também tenho um fantástico pedal de distorção com o Ashdown, o NM2.”
Equipamentos bem legais, então. Será que Mendel gosta de um toque de modelagem de amplificadores, agora que a tecnologia é acessível e onipresente?
“Eu apenas modelei meu som do SVT com um Kemper, na verdade”, ele nos diz. “Usamos o mesmo cabo, o mesmo microfone e a mesma sala de controle que gravamos. Estou interessado em saber se vai sair do mesmo jeito que o equipamento real. Eu sei que para as guitarras é bem tranquilo, mas para o baixo pode ser um pouco mais difícil de replicar.”
Ferrão na cauda
A juventude de Mendel como um garoto punk de Richland, Washington, já passou há muito tempo. “Eu só queria estar em uma banda,” lembra ele, “e havia um cara com quem estava conversando naquele tempo que tocava violão. Eu estava ouvindo o álbum Ghost In The Machine do The Police na época, e estava vidrado no Sting, então, quando meu amigo sugeriu que eu deveria tocar baixo, pensei que parecia uma ótima ideia.”
Certamente foi — então, qual foi o primeiro baixo? “Eu ganhei uma réplica de um Steinberger pela Cort, porque era a década de 80, e era isso que você fazia quando tinha 13 anos naquela época!”, ele ri.
“Eu consegui um pequeno amplificador para praticar e a gente brincou um pouco, mas a banda não durou muito. Depois disso entrei no punk rock e segui para um Ibanez Roadstar e um Kramer preto, uma espécie de baixo Travis Bean. Juntei-me a essa banda chamada Christ On A Crutch e comprei um P-Bass por U$ 200 do vocalista. Esse foi o modelo com o qual meu baixo de assinatura foi feita.”
E o resto é história. Mendel já entrou no território das cinco cordas? “Não!” ele ri, antes de pausar para explicar. “No nosso acampamento, as cinco cordas são bastante ilegais. É divertido, porque compreendo totalmente o valor daquela quinta corda, mas é apenas uma dessas linhas que você não atravessa.”
Entendemos. São as “regras punk”, certo? “Provavelmente, sim. Eu sei, tenho quase 50 anos e, sério, ainda penso como um adolescente,” ele suspira. “Desculpe, cara, algumas coisas são construídas [em você]”.
Ele não precisa se preocupar: este é um tema recorrente aqui. Muitas vezes, entrevistamos baixistas, particularmente americanos com idade entre 35 e 50 anos, que cresceram no punk, e nesse ambiente havia três regras inquebráveis para o baixista. Um, não toque mais de quatro cordas; dois, não toque sem traste; três, nunca – nunca toque slap bass.
“Oh, meu Deus… eu meio que queria poder dar uns tapas (slaps),” diz Mendel. “Está na moda de novo, eu acho. No outro dia Taylor, Chris e eu estávamos fazendo uma jam na sala de ensaio com uma antiga música do U2 que tinha uma parte de slap. Foi divertido, e a música foi boa para isso. Talvez seja hora de reavaliar. Qual é o oposto dos tapas, quando você puxa para cima? Um peteleco? Talvez eu poderia fazer um desses aqui e ali.”
Equipamento de tour
Se o próximo álbum do Foo Fighters tiver uns tapas, você sabe onde ele conseguiu a ideia. Os Foos vão sair novamente em turnê em 2018: que baixos ele estará levando com ele?
“Em turnê, tem sido um pouco como um sorteio recentemente”, ele nos conta. “Eu tenho um monte dos meus Precision, um Jazz, um velho Gibson Ripper, um Epiphone Jack Casady e um Rickenbacker, que eu acho que deve ser um 4001. Quando comprei o Ricky, não conhecia a diferença entre um 4001 e um 4003, mas nosso baterista Taylor Hawkins me ligou de uma loja de guitarra e disse: ‘ei, cara, há um lindo Rickenbacker branco aqui e você deveria vir buscá-lo.’ Ele está tentando me comprar um Rickenbacker desde sempre. Estou curioso para ver qual eu realmente tenho!”
A música do Foo Fighters, projetada para arenas como ela é, deve ser muito pesada para um Ricky, certamente?
“Eu o toquei em algumas músicas no ensaio recentemente, e não era realmente apropriado para o que estamos fazendo,” ele acena com a cabeça, “mas ainda soa incrível! Eu nunca me sentei de verdade para descobrir quais baixos soam melhor para quais músicas, então estou ansioso para fazer isso. Eu terei algum tempo para realmente pensar sobre isso quando nos reunirmos para ensaiar para a próxima turnê. Eu tenho um rack de baixos antigos que eu acho que pode parecer bom. Vou experimentá-los para diferentes músicas. Talvez ‘Learn To Fly’ soa melhor com um Guild Starfire, quem sabe?”
Ele conclui: “felizmente, meu técnico de baixo Geoff Templeton está disposto a entender isso tanto quanto eu. Ele vai voar para cá em algumas semanas e vamos passar por tudo — pickups, cordas, amplificadores — e apenas mergulhar nisso por alguns dias. Nós vamos ficar muito felizes com isso.”
Parece um dia ideal para a gente — alguém gostaria de uma viagem a Washington…?