Frontman do Foo Fighters fala sobre o evento “mágico pra caralho”, que foi ao ar dia 31 de Maio, na HBO, e revela planos futuros para “Sonic Highways”, sua nova série na emissora.
Em uma noite fria de Abril, 20 anos após a morte do frontman do Nirvana, Kurt Cobain, Dave Grohl fez o que muitos pensaram ser inimaginável. No palco da cerimônia do Rock And Roll Hall Of Fame, no New York’s Barclays Center, o rockstar de 43 anos abraçou Courtney Love, viúva de seu amigo e colega de banda, com quem teve um longo e desagradável relacionamento. O abraço foi sentido no mundo inteiro.
Indo ao ar nesse sábado (31/Maio) na HBO, o Rock Hall promete o raro momento na TV – aquele que, sem dúvida, irá gerar uma onda de emoção e um improvável vínculo tanto para quem está assistindo quanto para quem esteve presente nesse mágico momento: Krist Novoselic, Wendy Cobain (mãe de Kurt), Love e Grohl, entre eles.
O evento foi acompanhado por um show inesquecível – os membros remanescentes do Nirvana se uniram a fantásticas cantoras, incluindo Joan Jett e Lorde, para tocar os hits da banda. A frente da première do Rock Hall na HBO, Grohl conversou com o THR sobre como tudo aconteceu e sobre seu novo documentário em formato de série na emissora.
Esta noite na HBO, presenciaremos o momento no Rock and Roll Hall Of Fame em que você abraçou Courtney Love no palco. Agora que você teve alguns dias para refletir sobre o ocorrido, quais são seus pensamentos sobre isso?
Você sabe, o mais maravilhoso sobre aquela noite foi o lado pessoal de tudo aquilo. Foi a cerimônia do Hall Of Fame, mas significou tanto para nós pessoalmente, que você acaba esquecendo sobre as outras coisas – como a arena e o troféu – e foca em coisas reais e pessoais. Eu vi Courtney passando [mais cedo naquela noite], a cutuquei no ombro, nos olhamos nos olhos e foi isso – somos apenas uma família. Tivemos um passado turbulento, mas no final do dia somos apenas uma grande família. Nos abraçamos e o abraço foi real.
Então vocês se viram mais cedo naquela noite…
Sim, por trás das câmeras – éramos só nós dois no corredor. Então dissemos, “como você está? Tudo bem?”
“Sim, você está bem?”
“Estou. Okay, vamos fazer isso.”
E foi isso. E depois que saímos do palco, nós descemos o corredor juntos, como se o tempo não tivesse passado. Aquele tipo de coisa é real, não importa como isso pareça em um site ou nas revistas. Aquela merda foi real, e eu me sinto muito muito feliz que tenha acontecido. Foi lindo
Assim como o show do Nirvana com Joan Jett, Lorde, Kim Gordon e Annie Clark, do St. Vincent. Conte-nos sobre como aquilo aconteceu.
Quando começamos a pensar em quem escolheríamos para tocar com a gente, aquilo foi pesado. Foi difícil. Foi mais complicado do que apenas pular no palco e tocar aquelas canções. Foi emotivo, há um legado a ser preservado, muito é levado em consideração. E Joan Jett foi o primeiro nome a surgir na lista, não houve dúvidas de que ela deveria estar ali. Quero dizer, ela é a rainha do rock ‘n roll.
O Kurt e o Nirvana sempre tentaram promover as mulheres na música. E nós pensamos que aquilo seria perfeito. Depois alguns nomes apareceram na lista, mas não estavam dando certo com aquilo, então decidimos que todas deveriam ser mulheres incríveis e talentosas.
Nós organizamos a sequência das músicas em ordem cronológica. Então tivemos Joan Jett primeiro, porque ela é a rainha, depois Kim Gordon, que é um ícone heroico para nós, e depois Annie do St. Vincent. Nós não queríamos apenas focar no passado. Queríamos enfatizar o futuro e que a música está dando passos para frente, porque a Annie está certamente fazendo isso. E a Ella [Lorde] é um grande exemplo do que podemos esperar. Ela foi capaz de fazer a música mais famosa e tocada do ano ser um hit profundo, real e com significado – é isso que eu ouço quando escuto Royals. Então, quando estávamos com tudo aquilo pronto, soubemos que aquilo seria especial e que só faltava se reunir e ensaiar. Ainda é difícil acreditar que aconteceu, mas aconteceu, e eu amei.
Após a cerimônia, o rock continuou – e foi filmado – no palco do Saint Vitus Bar, no Brooklyn. Há algum plano de usar aquele material para a sua nova série da HBO ou outra coisa?
Eu não sei o que faremos com aquilo. Nós realmente filmamos aquilo e foi bom pra caralho. Quando entramos naquele bar para tocar músicas que não tocávamos há 20 anos, eu pensei “Bom, isso é maravilhoso – nossos amigos vão nos assistir pulando pelo palco e nos divertindo.” Eu amei fazer o Sound City e tive uma equipe maravilhosa trabalhando comigo, então quis fazer de novo. Eu amo música, eu conheço música, eu entendo sobre música, então eu quero ficar nesse mundo. Mas ao invés de contar a história de um estúdio só, eu quero viajar pela América, conhecer vários estúdios e contar a história disso.
Então o projeto se tornou mais profundo. Então eu pensei, okay, essa vai ser a história que vai influenciar o novo álbum do Foo Fighters. Nós estamos quase no nosso 20° aniversário, somos uma banda americana. Cada uma dessas cidades tem artistas que nos influenciaram diretamente, então iremos lá. Então é, foi essa a ideia. Só tínhamos que fazer acontecer.
[youtube id=”f-z8A9P5ziA” width=”620″ height=”360″]
Qual foi o critério para escolher as cidades ou os estúdios?
No começo, pensamos em rodar o mundo inteiro. Mas aquilo seria logisticamente impossível, então zeramos em oito cidades. Com algumas delas nós temos uma ligação pessoal – o estúdio em Washington DC, um estúdio em Seattle, um estúdio em Los Angeles – são todos lugares que fazem parte da história da nossa banda. E aí tem alguns que nós nunca tínhamos ido. O Preservation Hall, em New Orleans, é um ótimo exemplo. Essa é uma das tantas coisas maravilhosas sobre esse projeto – passamos uma semana em cada cidade, e quando vou embora, eu sinto como se conhecesse as pessoas, a música, a comida. Sete dias são o bastante pra ter um pouco de cada lugar dentro de você. E New Orleans é tão profunda – não há apenas uma comunidade musical, mas também uma comunidade familiar aonde gerações de músicos vem tocando na cidade por centenas de anos… Foi tão mágico.
As canções foram escritas para cada estúdio? Ou vocês chegavam no estúdio e começavam a compô-las?
Sim e não. Cada cidade tem um tema. Como estávamos contando não só a história da música, mas também a história de cada cidade, eu tive que achar o tema primeiro e depois encaixá-lo na música. As letras eu escrevo na noite anterior à gravação ou até mesmo uma hora antes. Então quando o tema e a música de cada cidade estavam escolhidos, nós íamos passar uma semana no local. Chegávamos lá, começávamos a gravar e eu ia andar pela cidade, entrevistando tantas pessoas quanto eu pudesse. Fiz mais de 100 entrevistas. No final da semana, eu sentava no chão com todas as minhas anotações, pegava uma caneta e um caderno e começava a escrever músicas a partir daquilo. Me inspirei na vida das pessoas, nas anedotas, no ambiente – como um relatório. É um bungee jumping musical. É louco pra caralho.
E incrivelmente ambicioso…
Foi complicado porque não é só uma série, mas também um álbum. Então enquanto você está seguindo com a série, você está seguindo com o álbum. Qual dos dois você faz primeiro? E como você vai escrever a música antes de gravar o episódio? Como você sabe qual será o tema e como você vai contar a história? Essas coisas me deixavam acordado a noite inteira. Não estou só pensando na letra da música que tenho que escrever no dia seguinte, estou pensando também em como isso vai se encaixar na história da música americana.
É para ser o equivalente musical do final de Os Suspeitos. Como aquele cena aonde ele está sentado, você está pensando no episódio inteiro. É basicamente aquilo.
Você sente a responsabilidade de contar essa história?
Eu acho que não sinto isso como uma responsabilidade, mas tenho a oportunidade e os recursos. Eu tenho sorte de ser o cara que manda e-mails para Chuck D ou Gibby Haynes, do Butthole Suffers, ou o Rick Nielsen, do Cheap Trick, ou Carrie Underwood, e digo “Hey, posso te entrevistar para um projeto que estou fazendo?”
Como a série se conecta ao material no novo álbum do Foo Fighters?
Você vai reconhecer o Foo Fighters nesse álbum, mas também ficará surpreso. Estamos fazendo coisas que nunca fizemos antes. E eu quero dizer que serão apenas oito canções, mas será o álbum mais longo porque, enquanto eu escrevia essas músicas, eu tinha que dar um toque cinematográfico nelas. Por exemplo, eu não poderia escrever uma canção de 3 minutos e meio e filmá-la para o final de um episódio sobre a música de New Orleans, sabe? Temos que estar à frente do que fazemos. A música é uma progressão e uma evolução, mas também é um disco do Foo Fighters.
Então poderia haver trompetes no novo disco dos Foos?
Poderia haver trompetes no nosso disco, absolutamente. Nunca fizemos isso antes. Honestamente, há partes das músicas que vão realmente te surpreender. E então há os refrães, que você irá reconhecer como sendo do Foo Fighters nos primeiros 3 segundos.
Como o álbum está sendo gravado?
Estamos arrastando duas máquinas de fita de 24 faixas por todo o país, porque nós ainda amamos o som de fita. Alguns dos lugares nos quais gravamos são casas, alguns são palcos e alguns são salas velhas, então tivemos que construir um estúdio em cada um deles. E isso é fácil de fazer quando você abre um laptop. Não é fácil de fazer quando você está arrastando duas máquinas de fita de duas polegadas de 360 quilos por todo o país, mas nós fizemos isso em todos os lugares que passamos.
Isso parece um pouco louco.
Eu não sei, cara. Que dizer, eu já sei o que faremos para o próximo álbum do Foo Fighters e será ainda mais louco!
Sobre o que você está falando, caralho?
[Risos] Eu não sei. Essa ideia surgiu há um mês e meio. Os caras ficaram tipo, “Cara, nós temos que terminar isso primeiro.” Eu sei, merda!
Você é considerado há muito tempo um dos maiores conquistadores do rock. Agora, além de baterista, frontman e guitarrista, você pode se dizer diretor, produtor de TV, caçador de talentos. Há algum filme no seu futuro? Será que estamos olhando para o quarto ato de Dave Grohl?
É tudo muito complicado. Estou acostumado a fazer discos na minha gravadora com o Foo Fighters, no meu estúdio, fazendo o que estamos fazendo por um bom tempo. Agora esse é um álbum e uma série de TV com a HBO. Então eu sentei na ponta de uma merda de mesa e fiz reuniões com 65 pessoas. Esse é um jogo completamente novo pra mim. Mas se há uma história pra contar, merda, eu vou contar. Eu não sei o que realmente significa ser um diretor. Eu não sei qual é o meu caminho na indústria do cinema, mas eu posso contratar um time de pessoas e fazer algo fantástico acontecer. Eu sei disso porque eu já fiz. E quem sabe? Eu me sinto mais confortável deste lado da câmera do que do outro, disso eu tenho certeza.
Tradução: Stephanie Mayer
Revisão: Karina Diaz
Fonte: Hoolywood Reporter